Mais um episódio da história entre Corinthians e Palmeiras está prestes a ser escrita. O Timão irá encarar novamente o seu maior rival nesta quarta-feira (12), em jogo válido pela 13ª rodada do Campeonato Brasileiro. Além dos três pontos, os dois clubes resgatam aos seus torcedores os mais gloriosos embates entre as equipes nesta história centenária.

Dentre os memoráveis jogos que ocorreram no decorrer da história dos clubes - compõe essa romântica trajetória - justamente o último encontro dos paulistas. Foi no campeonato regional desta temporada e, que acabou com o trinfo alvinegro tanto na partida, quanto na competição.

Foi no dia 22 de fevereiro. O Corinthians recebeu o Palmeiras em sua Arena em Itaquera, em duelo que marcaria o primeiro derby no ano que as equipes completavam 100 anos de rivalidade. O confronto foi marcado por vários fatos emblemáticos, e vale lembrar cada detalhe deste inesquecível episódio.

A preparação era diferente dos demais jogos. Não são todos os clubes paulistas que chegaram ao seu centenário. Ambos os times entraram em campo dispostos a buscar a vitória, o que deu um aperitivo a mais para o confronto. Ninguém queria sair derrotado neste confronto. A expectativa e a ansiedade eram facilmente notadas nos torcedores em Itaquera. 

Foi também à partir deste jogo que o Corinthians definitivamente embalou na temporada e, um dos seus jogadores deu novamente as caras a Fiel Torcida, mas isso contaremos no final. Canetas, lençóis e provocações marcaram os 90 minutos. Era o reencontro de Gabriel com o seu ex-clube. Reencontro dos amigos Felipe Melo e Kazim.

A disputa ficou registrada pela incessante briga pela posse de bola entre as equipes e por um erro crasso de arbitragem. Aos 45 minutos do primeiro tempo, quando a etapa inicial já se encaminhava para o final, o volante corinthiano Maycon cometeu falta em Keno. O árbitro Thiago Duarte Peixoto assinalou a infração e, erroneamente expulsou o volante Gabriel, que já tinha cartão amarelo, em vez de punir Maycon. Foi o fim melancólico para Gabriel, que até lá fazia grande partida.

À partir daí, o clássico tomou outro rumo, e nem mesmo os grandes cineastas de Hollywood poderiam escrever um final tão imprevisível para a torcida corinthiana. O Palmeiras tinha um jogador a mais, mas as vozes das arquibancadas da Arena Corinthians supriam a falta do décimo primeiro jogador de forma orquestral. A torcida sabia que poderia mudar o panorama do jogo. E mudou.

Empurrado pela massa presente, o Timão suportou a pressão palmeirense de forma eficaz. Pablo e Balbuena quebravam qualquer investida da equipe de Eduardo Baptista. Na frente, a bola não parava no pé corinthiano, e logo se oferecia para o ofensivo time palmeirense, que não aproveitava a vantagem que tinha. Parecia que a qualquer momento o Palmeiras marcaria e, mais uma vez triunfaria em Itaquera. Mas o futebol não trabalha com certezas.

A proposta era uma só: ataque verde contra defesa alvinegra. Fernando Prass assistia o jogo da sua meta como espectador. Fábio Carille, de mãos atadas não poderia mexer no sistema tático, mas foi das mãos dele que o improvável aconteceu. Quando falamos de Corinthians e Palmeiras, podemos aguardar o inesperado.

Uma substituição do técnico corinthiano mudaria completamente o final do dérbi, que para todos já parecia definido. O resultado em 0 a 0 parecia mais óbvio a cada carrinho da defesa corinthiana. O Palmeiras atacava, o Corinthians defendia, nada parecia que aconteceria. Aos 42 minutos o turco Kazim deu lugar ao atacante Jô. Falta ofensiva para o Palmeiras, e o voluntarioso atacante logo foi à área de Cássio ajudar a parte defensiva. Mal sabia o prata da casa o que lhe esperava alguns segundos depois.

A jogava ensaiada palmeirense foi amortizada. O Palmeiras naquele momento se concentrava praticamente inteiro dentro da área corinthiana tentando uma última tacada para matar o jogo, a armadilha estava armada. Bola afastada para o campo de ataque corinthiano. O garoto Maycon, que assim como Jô, foi revelado no terrão, disputou a jogada com o badalado Guerra, e ganhou. O venezuelano ali era o juvenil, e Maycon era o veterano.

Caminho livre. Apenas Zé Roberto separava o passe para Jô concluir. Na primeira tentativa o polivalente jogador interceptou, na segunda tentativa foi fatal. Jô, em um chute seco, por baixo das pernas de Fernando Prass balançou as redes e, anos depois de ter feito o seu primeiro gol com apenas 16 anos, fez também, um dos mais importantes da história do Derby.

A torcida enlouqueceu. No banco de reservas euforia, misturada com a tranquilidade de Jô. Cássio saiu da sua meta e correu até o setor lateral da torcida e, como uma criança comemorou a vitória parcial. Vitor Hugo perdeu a cabeça. Acertou em Pablo talvez a cotovelada mais desleal daquele campeonato. Mais uma vez o árbitro errou e não expulsou o zagueiro. Gol histórico, vitória emblemática. Por tudo que aconteceu naquele dia, e por todas as quartas forças que depositavam no Corinthians.

Resultado feito, 1 a 0 para o Corinthians e, mais uma vez o inacreditável aconteceu em um Dérbi. O Palmeiras ressuscitou o Corinthians em um jogo em que não estava morto, mas que a soberba do árbitro Thiago Duarte Peixoto tentou matar. Ao contrário do previsto, vitória dos dez corinthianos que estavam campo. Vitória da identidade, da verdade, da torcida. Vitória que valeu pouco para o campeonato, mas que pode ser contada por muito tempo.