Uma semana depois de ter vindo à tona a delação premiada dos irmãos Joesley e Wesley Batista, donos da JBS, que abalou a estrutura política do Brasil, a torcida do Cruzeiro evocou a pauta nesta quarta-feira (24). Isso porque seis dos seus conselheiros são alvos das investigações em curso pela Polícia Federal (PF). Faixas cobrando uma postura do conselho celeste foram hasteadas em frente à sede administrativa do clube, no Bairro Barro Preto, em Belo Horizonte.

“A torcida do Cruzeiro espera que o conselho não seja omisso e que suspenda os conselheiros envolvidos na Lava Jato”, estava impressa em uma delas. A outra questiona o atual presidente da mesa diretora, João Carlos Gontijo, e solicita que ele tome uma posição sobre os envolvidos. "João Carlos Gontijo, o que você fará com os 6 conselheiros investigados que caíram na Lava Jato? Providências já!", diz.

O caso começou após divulgação, pelo Jornal O Globo, de trechos da delação premiada dos irmãos Joesley e Wesley Batista ao ministro do Superior Tribunal Federal (STF), Edson Fachin. Os donos da JBS informaram o repasse de R$ 2 milhões ao Senador Aécio Neves, dinheiro que seria usado para pagar advogados de defesa em acusações na Operação Lava Jato.

Aécio é um dos seis que a torcida pede uma punição. Conselheiro nato, o senador foi afastado por Fachin e é o epicentro entre os seis envolvidos na delação. O solicitado dinheiro foi repassado ao seu primo, Frederico Pacheco de Medeiros, que também é conselheiro nato do Cruzeiro. A quantia foi depositada na conta de uma das empresas da família Perrella, conhecida por presidir a Raposa por um longo período.

A empresa em questão está em nome de Gustavo Perrella, conselheiro nato e filho do ex-presidente celeste e membro do conselho benemérito, Zeze Perrella.

Outro conselheiro nato envolvido é Mendherson Souza Lima, que era, até então, assessor parlamentar do senador Zezé Perrella. Ele foi o responsável por fazer o transporte do dinheiro repassado pela JBS. Na quinta-feira (18), ele foi preso pela Polícia Federal na Operação Patmos. Na sua casa, foram apreendidos R$ 400 mil. Ainda na quinta, ele foi exonerado do seu cargo no Senado Federal.

A PF também cumpriu mandados de busca e apreensão na casa de Euller Nogueira Mendes, em Nova Lima, na Grande BH. Euller também pertence ao conselho nato do Cruzeiro.

Toda a ação teve início quando os irmãos da JBS decidiram abrir a caixa preta da empresa. Suas acusações atingiram em cheio o presidente em exercício Michel Temer e o Senador Aécio Neves, ambos foram gravados em conversas onde combinam o repasse de propina em uma trama para frear a Operação Lava Jato.

O dinheiro envolvido teve os números de série das notas informados à Polícia Federal. Além disso, as mochilas e bolsas utilizadas para o transporte das quantias foram monitoradas pela PF por meio de chips rastreadores.

Em entrevista exclusiva ao Portal Superesportes, o presidente do conselho cruzeirense, João Carlos Gontijo, minimizou a presença das faixas e criticou o anonimato dos autores. “Aquelas faixas, faixas anônimas, não têm valor. Um documento, qualquer que seja, tem que ser subscrito para que possa dar oportunidade de dialogar em um princípio democrático”, disse.