É lamentável ainda falar sobre isso em 2017. Vamos para mais um dos tantos casos absurdos que o futebol mundial, infelizmente, ainda nos proporciona. Na noite da última quarta-feira (15), o Flamengo foi derrotado pela Universidad Católica no Chile, por 1 a 0. Durante a partida, Rafael Vaz protagonizou lances que a torcida, naturalmente, reagiu mal. Entretanto, a natural e aceitável reação passional de quem está nas arquibancadas tem um limite. Sempre há um limite.

O que acontece no esporte é um retrato da sociedade, para o bem e para o mal. Nesse caso, em que o zagueiro recebeu ameaças e insultos racistas de todos os tipos, é a imagem do pior do ser humano, que justifica um xingamento racista com “foi só um momento de nervoso”. Que nervosismo é esse que apaga a consciência e deixa apenas uma expressão primitiva e preconceituosa? Não há desculpa para esse tipo de atitude.

Isso não se trata de futebol, nem de erros. Não se trata de um passe ou lançamento errado. Não se trata de cores de camisas ou escudos de clubes. Isso é sobre racismo e preconceito. É sobre um crime cometido contra um ser humano como eu e você. É sobre a falta de limites que tornam o amor pelo esporte uma doença. Sim, doença.

Como se não bastassem comentários absurdos nas redes sociais, o golpe sujo ficou ainda pior. Quando o zagueiro publicou uma imagem de sua linda filha, uma criança, em sua conta oficial no Instagram, as ofensas atingiram níveis absurdamente baixos.

O futebol é para todos, ponto. É para o pobre, o rico, negro, branco, velho, novo, gay, hétero, homem, mulher. É para quem quiser. A arquibancada é, sempre foi e devemos lutar para que sempre seja o local mais democrático possível. Não há espaço para preconceito, não quando fomos formados e moldados pela diversidade.

Rafael Vaz entra para a triste, porém grande, estatística de atletas, independente do esporte, que sofrem com a intolerância velada pela paixão irracional. A desculpa do amor pelo clube constrói indivíduos que não só são incapazes de entender a gravidade de um xingamento racista, mas também que banalizam a situação e a classificam como "de momento".

Em 1968, durante as Olimpíadas da Cidade do México, Tommie Smith e John Carlos levantaram os braços com os punhos fechados em apoio aos Panteras Negras, pelo direito dos negros em uma sociedade racista. Quase 48 anos depois, ainda estamos discutindo o preconceito não apenas no esporte, mas na sociedade. Muitos sofreram, protestaram e foram calados ao longo desses anos pela causa.

Arouca, Tinga, Boateng, Daniel Alves, Balotelli, Eto'o, Grafite, Roberto Carlos, Rafael Vaz e muitos outros, dentro e fora dos gramados, sofrem simplesmente pela cor da pele. Até quando vamos deixar que a luta de tantos seja ignorada?