O Futebol Americano renasce nas Laranjeiras. O Fluminense volta à modalidade e se junta a Botafogo Reptiles, Flamengo, Rio de Janeiro Islanders e Vasco da Gama Patriotas como representantes no Estado. Com alcunha de Flu Guerreiros, o novo projeto tem como objetivo refazer o vitorioso caminho trilhado anos atrás, onde chegou a ser bicampeão nacional (2009 e 2011) com o desativado 'Flu Imperadores'.

O Fluminense não terá custos com a equipe, mas cederá o Estádio das Laranjeiras para treinos e mandos de jogos, além de emprestar equipamentos profissionais para o elenco. Todo o investimento inicial saiu do bolso de torcedores e atletas, não interferindo no caixa do clube. Sendo assim, a ideia é gastar apenas com o que for arrecadado por meio do esporte.

Presidente eleito Pedro Abad e o gerente de esportes olímpicos Frederico Castro são os maiores incentivadores do projeto. Neste sábado (11), foi realizado um try-out (peneira), no Clube da Aeronáutica, visando completar o plantel do Flu Guerreiros. Os selecionados entre os mais de 300 inscritos se juntarão a reforços pontuais para a equipe.

Presente no evento, a VAVEL Brasil aproveitou para conversar com Sandro Cox, head-coach (treinador) da equipe, para tratar de assuntos como a criação do novo projeto, a busca por talentos no try-out e até aprendizados com o último Super Bowl disputando entre New England Patriots e Atlanta Falcons. Confira a entrevista na íntegra abaixo!

(Foto: Bruna Alvarado/VAVEL)
(Foto: Bruna Alvarado/VAVEL)

VAVEL BRASIL: Por favor, se apresente para torcida. Quem é o head-coach do Flu Guerreiros?

SANDRO COX: "Meu nome é Sandro Cox, sou empresário, marketing, jornalistas e agora head coach do Fluminense. Minha intenção é fazer o melhor possível para o clube e para o time"

VAVEL BRASIL: O trabalho está no início, é claro, mas quais foram suas primeiras impressões sobre o projeto do Flu Guerreiros?

SANDRO: "Temos um time maravilhoso, uma torcida de massa e os atletas se interessaram pelo projeto. O Fluminense propõe uma filosofia de futebol americano, além do apoio que nos tem dado. Estamos embaixo do guarda-chuva do clube É legal por ser um projeto altamente sustentável, o clube entende que não vqi gastar nada com o futebol americano. Pelo contrário, o projeto anda com as próprias pernas, não gasta do caixa de forma alguma. A audiência do futebol americano aumentou em 800% nos últimos quatro anos e em cada cidade pelo país vai surgindo uma nova equipe. É um fenômeno no Brasil que merece mais atenção e o clube entende a importância de ter um projeto como esse"

VAVEL BRASIL: E a peneira deste sábado (11), o que pôde ver de mais interessante nos atletas que se candidataram à seleção?

SANDRO: "Chega a arrepiar (a procura). É um nível muito alto e temos encontrado atletas. Não é só quem gosta de futebol americano, mas atletas. É um pessoal que já joga, que já entende e o nível está sendo muito bom. Vamos ter dificuldade para escolher porque o nível está bem alto. É um sábado de sol no Rio de Janeiro e você tem quase 300 pessoas participando de uma peneira, mas o que faz o time ser formado é a força do projeto e a proposta que o clube tem para o futebol americano como um todo. 

VAVEL BRASIL: Qual é a maior dificuldade em relação ao desenvolvimento de novos jogadores? Existe alguma dificuldade em relação às regras e/ou tipo físico, habilidade de cada posição, uma vez que o esporte não é praticado desde a infância?

SANDRO: "O físico, a mobilidade, isso a gente acaba ensinando. Alguns tem uma curva de aprendizado maior, outras menor. Uns demoram mais para pegar, outros pegam rápido. A diferença nisso tudo é a atitude. A gente está avaliando se o jogador tem condições razoáveis de ser um atleta de alta performance em diferentes posições. Óbvio que não vou esperar que um sujeito de 120 kg corra 40 jardas no mesmo tempo de um velocista. Não isso que estamos avaliando. Mas sim a atitude do atleta, a vontade perante a um desafio. Analisamos também a resiliência, que é a capacidade de aguentar em momentos onde se é muito exigido"

(Foto: Bruna Alvarado/VAVEL)
(Foto: Bruna Alvarado/VAVEL)

VAVEL BRASIL: Mas não apenas da peneira vive o Flu Guerreiros. O clube já se movimentou e trouxe Kevin Antunes, Tito Pereira e o norte-americano Bryan. O quanto eles podem somar ao elenco?

SANDRO: "Tanto o Tito, quanto o Kevin, têm níveis absurdos. São atletas que seguramente iam fazer sucesso lá fora, como jogadores de futebol americano. Eles têm a inteligência necessária para o esporte. É um prazer tê-los aqui. O Bryan é um running back que jogava lá fora em alto nível. Não é só que aquilo de "jogou lá fora", ele jogou muito bem lá fora e em alto nível. Traz peso para a equipe"

VAVEL BRASIL: Kevin Antunes e Tito Pereira saíram de Flamengo e Botafogo, respectivamente, para o Fluminense. Isso gera uma rivalidade entre as torcidas. Acredita que essa soma contribua para o esporte, assim como o basquete do Vasco cresceu junto a rivalidade com o Flamengo?

SANDRO: "Claro, espero que a competitividade aumente. A rivalidade entre as torcidas também, mas tudo dentro do futebol americano é diferente. Todos são amigos. É claro que é coisa séria dentro de campo, mas acaba o jogo e estão todos se abraçando e conversando. Você vê que os head-coachs conversam um com o outro, a gente se apoia. Tomara que cresça a rivalidade, mas seja como um jogador de futebol americano deve ser: agressivo, mas nunca violento. A rivalidade aumenta, mas de maneira ética e saudável."

VAVEL BRASIL:  O Futebol Americano teve um crescimento de 600% de audiência no Brasil nos últimos 10 anos. A Liga Nacional também ganha importância, mas permanece amadora. Qual o tamanho do acerto do Fluminense ao reabrir a modalidade?

SANDRO: "É muito inteligente. Você associar a marca Fluminense com esse aumento de audiência é genial. O clube acerta em associar o nome e marca a um esporte que está crescendo. Espero que o projeto que estamos fazendo no sirva de exemplo para outros clubes. Estamos mostrando que é possível fazer um time sustentável, é possível ter um futebol americano sem tantos gastos. Tem uma frase que Abel (Braga) falou no início da temporada que foi "aqui não tem reforço, tem esforço". Achei sensacional e é isso que a gente implementa"

VAVEL BRASIL: New England Patriots e Atlanta Falcons. O que você, como treinador, retira de aprendizado do último Super Bowl? É possível aproveitar algo para o Fluminense?

SANDRO: "Esse Super Bowl foi um aprendizado para a vida. Você tem um cenário muito desafiador e menos da metade do jogo para reverter uma desvantagem. Em nenhum momento o Tom Brady (quarterback dos Patriots) desistiu. E quantas vezes na vida a gente não pensa que "já era"? Isso foi a grande aula. Esse Super Bowl deveria ser passado em todas as empresas, analisado como exemplo de estratégia, de entender a situação, de se adaptar aos desafios. Isso foi uma aula para qualquer pessoa do planeta"

(Foto: Getty Images)
(Foto: Getty Images)

VAVEL BRASIL: O Futebol Americano no clube não é novidade, é um projeto reativado. Antes, o Flu Imperadores sagrou-se bicampeão brasileiro. Qual a principal diferença desse projeto para o antigo que foi desativado?

SANDRO: "Os clubes fazem a cessão dos direitos de imagem, o que é uma coisa muita boa. A diferença do projeto antigo para esse novo é a forma de apoio. Nós estamos trabalhando com o Fluminense Olímpico e fazer parte de um departamento de um clube como o Fluminense é muito diferente. Quando me perguntam "quem é o presidente do Flu Guerreiros?", eu respondo: Pedro Abad. É uma relação institucional. A gente chega com um projeto que não é inventivo, é importado. Ele acontece há muito tempo nos Estados Unidos. Seguimos uma filosofia"

VAVEL BRASIL: Mas claro, títulos passados geram expectativas da torcida para o futuro. A "sombra" do Flu Imperadores pode atrapalhar o projeto do Flu Guerreiros, que ainda está em fase de formação?

SANDRO: "Acho que não. O Flu Imperadores teve uma história maravilhosa, mas hoje temos um programa totalmente diferente. Não se comparam. São épocas diferentes de futebol americano no Brasil. Você pode ver que o Fluminense foi o primeiro campeão, mas a curva de mudança do esporte foi muito acentuada. A época do Imperadores se praticava um tipo de esporte, hoje se pratica outro. Os projetos não se falam, apesar da gente ter muito orgulho de poder reabrir o projeto de futebol americano"

VAVEL BRASIL: Novo presidente do  Fluminense, Pedro Abad sempre falou em sua campanha eleitoral que gostaria de reativar outros esportes além do futebol no clube. Você chegou a ter contato com ele para falar sobre o Futebol Americano?

SANDRO: "O Pedro Abad é uma pessoa muito inteligente, um gestor de primeiríssima linha. É claro que sou suspeito para dizer, mas ele é uma pessoa mais do que correta no entendimento de qualquer esporte. A gente procurou o Abad e ele tornou-se um entusiasta do projeto. Ele gosta do esporte, acompanha, assiste. Dentro do departamento de Esportes Olímpicos, nos apoia da mesma forma que todos os outros projeto. É demais estar no mesmo nível de outros esportes já consagrados"

VAVEL BRASIL: Fluminense não terá custos com a equipe, mas irá contribuir com suas instalações. Qual a importância de treinar nas Laranjeiras para formação da equipe?

SANDRO: "Treinar e jogar em um estádio centenário como as Laranjeiras, ter acesso a vestiários, academia, ser tratado como atleta, ter uniforme, tudo por conta do programa de futebol americano, é o que faz atletas de outros times - de bom nível, até titulares - procurarem o Fluminense e virem fazer parte do time. Quando o jogador chega em Laranjeiras e vê um vestiário limpo, com tudo que tem lá dentro, uma sala de briefing, um ambiente seguro, um gramado espetacular, aumenta nossa responsabilidade. Faz diferença"

VAVEL BRASIL: Ainda sobre Liga Nacional, muitos atletas e técnicos atuaram na NFL antes de migrar para o Brasil. Como fazer para uma equipe em formação como o Flu Guerreiros poder bater de frente com outros mais experientes?

SANDRO: "A gente acredita na filosofia do Fluminense Guerreiros. Acreditamos em estudo e esforço. Tenis jogadores experientes, mas não vamos jogar a primeira divisão por agora - e sim a de acesso. Estamos em formação, então seria complicado atuar contra grandes equipes por hora. Mas com o tempo eles terão um adversário duro pela frente"

(Foto: Bruna Alvarado/VAVEL)
(Foto: Bruna Alvarado/VAVEL)