Não é apenas Football Club. Aos poucos, Fluminense vai expandindo sua marca e outro esporte começa a ganhar espaço nos corações tricolores: o vôlei. A química deu certo na temporada 2016/2017: título estadual e vaga nos playoffs - logo no primeiro ano de retorno à elite. Mas, e o futuro? O que esperar dos próximos anos? Assim como quase todos os esportes olímpicos no Brasil, o futuro é incerto e a busca por patrocinadores é fundamental.
A VAVEL Brasil entrevistou Márcio Trindade, vice-presidente de esportes olímpicos do clube, que tratou de tranquilizar a torcida: "O projeto vai continuar". Entre os assuntos comentados, o mandatário revelou a busca por patrocinadores, o uso das Arenas Olímpicas, a oportunidade de negociar os naming-rights do clube e elogiou o planejamento que começou em 2015.
"Nosso projeto não está sendo medido só pela temporada 2016/17. Ele começou em 2015, quando tomamos a decisão de entrar na Superliga B. Foi pouquíssimo investimento onde nós conseguimos a vaga, o que nos animou a dar continuidade. Foi impressionante. Nós não tínhamos cobranças de vitórias e títulos neste primeiro momento e fomos campeões cariocas em cima da - talvez - melhor equipe de vôlei do mundo. Ali a gente viu que estávamos no caminho certo"
Outro destaque de Márcio Trindade fica para a torcida do Fluminense. Eliminado nas quartas de final da Superliga pelo Osasco, um momento chamou atenção: nos pontos finais, com a equipe paulista próxima de fechar o jogo, os torcedores presentes no ginásio cantaram mais alto. O vice-presidente revelou que o feito emocionou as jogadoras - desde as mais novas, até as mais experientes.
"Fizemos um campeonato bem equilibrado, jogos duros contra times superiores, de alto investimento, com atletas renomadas e de seleção. Honramos a camisa. A coroação foi nesse jogo. Não jogamos bem, mas a emoção era muito grande. A torcida lotou o ginásio e cantou junto. Eles estavam junto. A gente percebeu que as meninas mais novas estavam emocionadas, mas as mais veteranas também estavam. A resposta disso tudo foi o torcedor. A gente atingiu o que a gente mais queria, o nosso patrimônio, que é a nossa torcida", revelou.
O Tricolor está eliminado da Superliga nas quartas-de-final. Guerreiras, parabéns pela campanha! #SomosFluminense pic.twitter.com/X3vjALPbzq
— Fluminense F.C. (@FluminenseFC) 20 de março de 2017
Confira a entrevista na íntegra:
VAVEL: Título estadual, playoffs e quartas da Superliga. Qual o balanço geral que você faz sobre a temporada do Fluminense?
MÁRCIO TRINDADE: "A Superliga é muito difícil. São equipes fortes, muito bem treinadas, com infraestruturas fantásticas, em cidades que não tem clubes de futebol e o foco são aquelas equipes. Nós sabíamos que íamos encontrar isso na hora de montar o grupo. Não tínhamos cobranças de vitórias e títulos neste primeiro momento, embora o Fluminense sempre tem que estar brigando por pódio em qualquer competição, e fomos campeões carioca em cima da melhor equipe de vôlei do mundo. O Brasil é o melhor vôlei do mundo.
O Rio de Janeiro tinha uma hegemonia de 12 anos ganhando tudo e fizemos um jogo memorável, histórico. Ali a gente deu um toque que estávamos no caminho certo. Aquela vitória fortaleceu. A temporada de 2016/17 foi um coroamento dos últimos 25 anos de trabalho. Em 2016, vencemos em todas as categorias feminina de vôlei, feito inédito. Nossa estreia na Superliga foi contra o Rio e o Bernardinho estudou a gente. Nós começamos a não ser mais surpresa, outros times começaram a estudar e começar a ficar atentos ao Fluminense"
VAVEL: O projeto de vôlei do Fluminense está mantido para a próxima temporada? Ou passará por algum tipo de reavaliação?
MT: "Vamos continuar. O projeto não vai parar. Vamos montar um time. Se vai ser mais forte ou mais fraco, vai depender do mercado. Os patrocinadores estão batendo na porta para conversar e dependemos deles para fortalecer o elenco. Não se reforça um time de esporte olímpico sem patrocínio. Acredito que daqui uns três anos vou ter uma prata da casa encorpada. Tendo um time adulto fica mais fácil, elas vão querer ficar aqui."
VAVEL: Após um título e a expectativa por melhores resultados, há esperança de que o investimento do clube no vôlei cresça para a próxima temporada?
MT: "Espero que sim. O presidente está muito empolgado, muito animado. Só que existe a emoção e a razão. Existe uma série de situações aqui no clube para a gente enfrentar, vai ser um ano muito difícil. O país vive um momento difícil, não está fácil para ninguém. O próprio governo está reduzindo o investimento nos esportes, as confederações estão recebendo menos verba, não é fácil. Investimento direto do clube junto ao patrocínio, isso é importante acontecer"
VAVEL: Os patrocínios são uma grande fonte de renda para os esportes olímpicos. Quais as maiores dificuldades enfrentadas para o acerto com um patrocinador master?
MT: "Não digo dificuldades, digo facilitadores. Tenho uma torcida grande, que não consome só futebol. O Fluminense é uma vitrine interessante para quem quer expor sua marca. Atrai mídia, teve bastantes jogos televisionados. Acho que as empresas precisam ver esse segmento com melhores olhos. A loja do Fluminense só não vendeu roupa do vôlei porque não tinha. Só tinha roupa de jogo, que era do fornecedor antigo (Adidas). Se tivesse para vender, o retorno seria legal. E o público feminino do Fluminense queria muito a camisa"
VAVEL: Ainda sobre patrocinadores, é costume do vôlei vender os naming-rights para atrair anunciantes. Como o Rexona/Sesc e o Camponesa/Minas. O Fluminense tem essa estratégia?
MT: "Tem sim. É uma possibilidade, com certeza."
VAVEL. O Fluminense anunciou a Under Armour como nova patrocinadora. O vôlei também utilizará os uniformes da fornecedora na próxima temporada?
MT: "Sim, vai estar vestindo o vôlei do Fluminense na Superliga.
VAVEL: Há uma forte discussão sobre o uso das Arenas Olímpicas. O Rio de Janeiro passou a mandar seus jogos na Barra. O Basquete do Flamengo também. A ideia do Fluminense é permanecer no Hebraica ou buscar outra, seja Olímpica ou o próprio Tijuca Tênis Clube?
MT: "Fomos muito bem recebidos na Hebraica. Foi uma escolha pela logística, facilitava os treinamentos. Estávamos reformando o ginásio de Laranjeiras. Hoje, estamos com o ginásio reformado, com piso novo e com certeza vamos poder treinar aqui no clube. Nós partimos com a ideia de nos mantermos no Hebraica e só vamos discutir o assunto de Arenas no momento que entendermos como vai funcionar e qual o custo disso tudo. Estamos felizes, a princípio nosso projeto é continuar por lá, mas também estamos abertos a qualquer outra possibilidade"
VAVEL: Osasco tem como foco a contratação de novas promessas do vôlei brasileiro. O Rio de Janeiro, mantém a base da seleção brasileira com Bernardinho. Qual é a linha de planejamento do Fluminense?
MT: "Fortalecer o projeto com jogadoras que agregam, que venham a ser de grupo, que entendam que o projeto tem que valorizar a base. Esse ano vamos aproveitar mais a base e fazer manutenção do elenco atual, além de uns reforços pontuais. A base eram três atletas: Sassá, Ju Costa e Renatinha. As três com mais de 30 anos, com passagem pela seleção e com carreira vitoriosa. Vieram para cá, mesclada com outras mais novas mas também vitoriosas - Lara, Letícia e Pri. A Ju Perdigão foi formada pelo próprio Fluminense e retornou a casa. Em cima disso, a gente aproveitou o que já tinha da Superliga B e montamos o grupo"
VAVEL: É um lema da antiga e atual diretoria dizer que o Fluminense vive de ciclos. Desde a categoria de base à construção do CT. Depois do acesso e a permanência na primeira divisão, qual a próxima etapa do projeto de vôlei?
MT: "Vamos entrar agora em 2017 para buscar o bicampeonato (carioca). Vamos continuar e ser campeão"
(*) estagiária, sob supervisão de Marcello Neves.