Maior ídolo da história do São Paulo Futebol Clube, Rogério Ceni conseguiu a proeza de se manter longe dos holofotes midiáticos no ano passado. 

Detentor de um espírito de liderança único, e com uma percepção técnica e tática fora do comum, o ex-goleiro aprimorou seus conhecimentos com cursos ao redor do mundo e trocando experiências com treinadores consagrados. Logo, o desafio surgiu...

Campeão do mundo pela Seleção Brasileira e pelo Tricolor do Morumbi, Ceni conheceu provavelmente a maior missão da sua carreira vitoriosa em 2017: a de iniciar sua vida como técnico pelo clube onde se tornou a maior referência futebolística.

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Início promissor

Rogério foi anunciado como treinador do São Paulo no fim da temporada passada. Não é preciso ser vidente ou mágico para imaginar o furor da mídia e principalmente do torcedor são-paulino. O ano do clube havia sido complicado, e ter o maior ídolo no banco de reservas, tomando basicamente todas as decisões importantes da formação de um elenco era praticamente um sonho da Disney. E foi mais ou menos assim que seguiu o primeiro mês de trabalho.

A pré-temporada, e os primeiros coletivos de Ceni no comando do São Paulo eram de encher os olhos. O estilo europeu na troca de passe; os treinos inovadores; os garotos da base Luiz Araújo e David Neres em ótima fase; tudo dava a crer que a combinação Rogério/São Paulo daria certo mais uma vez. Ainda mais quando o clube conquistou a Florida Cup em cima do rival Corinthians, mesmo sem marcar um gol sequer com bola rolando. Mas foi com o pontapé das competições oficiais que os problemas começaram a aparecer.

Foi nos EUA que Ceni e Sidão construíram uma grande relação (Foto: Reprodução/R7)
Foi nos EUA que Ceni e Sidão construíram uma grande parceria (Foto: Reprodução/R7)

Saída de jogadores e eliminações

Antes mesmo do começo do Campeonato Paulista, um dos principais problemas da passagem de Ceni no comando do Tricolor se tornou evidente: a venda de atletas. Destaque absoluto no fim de 2016, com uma apresentação de gala no clássico marcante de 4 a 0 diante do Corinthians, David Neres foi vendido ao Ajax

Algumas outras peças, contratadas para serem importantes, foram ofuscadas: por exemplo, Wellington Nem e Cícero não conseguiram desempenhar um bom futebol. As dificuldades refletiram no campo e a dificuldade em conquistar resultados foi enorme, principalmente fora de casa. Mas aos trancos e barrancos, grandes apresentações e outras (muitas) pífias, a equipe chegou à semifinal do Paulistão, reencontrando pela terceira vez no ano o rival alvinegro. Mas, o primeiro grande baque já havia ocorrido.

As eliminações fizeram o São Paulo terminar o ano com o menor número de jogos dos últimos 15 anos

Logo no início de sua caminhada na Copa do Brasil, Rogério teve o 'azar' de ter como adversário uma forte equipe como a do Cruzeiro. No Morumbi, amplo domínio mineiro e um resultado considerável de 2 a 0 para a Raposa. Na volta, uma das melhores partidas do São Paulo na era-Ceni, onde a equipe teve boas chances de igualar o marcador sofrido no jogo de ida, mas o resultado de 2 a 1 definiu a primeira eliminação no ano.

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Na verdade, não deu tempo de lamentar o primeiro fiasco que o segundo veio logo em seguida. Antes mesmo do segundo duelo em Minas Gerais, o Tricolor já havia recebido o Corinthians para aquela primeira partidas das semifinais do Paulistão, e os gols de Rodriguinho e deixaram a vida de Ceni complicada para a partida em Itaquera. E na primeira e única visita do ex-goleiro à arena rival, coincidiu em mais um desfecho ruim: a segunda eliminação em uma semana, com mais um desempenho irreconhecível do São Paulo. E o pior ainda estava por vir. 

Maior campeão internacional do Brasil, por conta das eliminações o Tricolor ficou 20 dias sem entrar em campo. E quando entrou, ninguém percebeu. O São Paulo encarou o modesto Defensa y Justicia da Argentina. Os mesmos já haviam empatado sem gols em Buenos Aires, e no Morumbi, o empate em 1 a 1, em uma das piores partidas da história do São Paulo Futebol Clube causaram a terceira eliminação em um mês, a mais vergonhosa nos 87 anos de instituição.  

Eliminação para argentinos fez Ceni balançar de vez (Foto: Marcos Ribolli)
Eliminação para argentinos fez Ceni balançar de vez (Foto: Marcos Ribolli)

Partida precoce e novamente o 'exílio' 

A eliminação na Copa Sul-Americana foi o estopim para os questionamentos sobre o trabalho de Rogério. O assunto mais tratado nas mesas de debate era a iminente demissão do ex-arqueiro, mas de início, sua permanência foi bancada pela diretoria são-paulina. Mas ficou apenas na teoria, pois aquele velho problema chamado 'saída de jogadores' voltou com força para assombrar o trabalho de Ceni.

Outra promessa, Luiz Araújo, e o meio-campista Thiago Mendes foram negociados com o Lille, da França; o zagueiro Maicon, incontestável durante a Libertadores no passado, saiu em baixa e foi para a Turquia, defender o Galatasaray. O elenco aos poucos foi enfraquecendo, e os fracos desempenhos foram aumentando. Os resultados como no Paulistão eram oscilantes, principalmente fora de casa, e a aproximação da zona de rebaixamento foram determinantes para a saída precoce do 'jovem' treinador. O "Dia D" foi no Rio de Janeiro, no dia 02 de julho. Diante do Flamengo, na Ilha do Urubu, Guerrero e Diego despacharam um apático São Paulo e causaram a demissão de Rogério Ceni.

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Em seis meses, e 35 jogos, Rogério teve um aproveitamento pouco superior à 49%

Ainda mais 'discreto', Ceni descansou as primeiras semanas e logo retomou os estudos na Europa, em alguns momentos, com seus antigos parceiros e auxiliares de São Paulo, Michael Beale e Charles Hembert. Durante os estudos ao longo de três meses o ex-treinador do Tricolor foi 'pauta' em apenas dois momentos: primeiro quando Rogério não aceitou a redução do pagamento da multa de sua multa rescisória, em torno de R$ 5 milhões; depois, ao se defender das duras críticas do presidente Leco, ao publicar em uma rede social: "Não se deixe enganar pelos cabelos brancos, pois os canalhas também envelhecem".

Próximo do final da temporada, com quase todos os destinos traçados para a maioria dos clubes brasileiros, Rogério Ceni retornou a 'boca do povo'. Até porque, o mesmo aceitou comandar outro clube tricolor, mas não o do Morumbi, muito menos o gaúcho ou o carioca, mas sim, um tradicional e simpático clube do nordeste do país, que detém uma das torcidas mais apaixonadas da região: o Fortaleza

O M1TO no Leão! Vai dar certo?

Após alguns rumores (falsos para muita gente) terem surgido meses atrás, o Fortaleza anunciou, no início do mês passado, Rogério Ceni como novo comandante da equipe. Cá entre nós, que torcedor tricolor imaginava em seu 2017 retornar à Série B após oito anos, e ao mesmo tempo ter como 'cereja do bolo' um dos maiores ícones da história do futebol brasileiro como treinador no ano de seu centenário?

Mesmo com um orçamento abaixo do que estava acostumado no Morumbi, Rogério tem conseguido acertar contratações consideráveis desde sua chegada. Ao todo, nove nomes foram anunciados até o momento pelo Leão: Diego Jussani (zagueiro); Derley (volante); Edinho (meia); João Henrique (meia); Léo Natel (atacante); Gustavo (atacante); Gérman Pacheco (meia atacante); Alan Mineiro (meia) e Roger Carvalho (zagueiro). Em sua chegada, o comandante havia declarado que espera trabalhar com um elenco de até 22 atletas.

Sem a mesma pressão enfrentada no Morumbi, com a confiança da torcida e da diretoria do tricolor cearense, e tendo pela frente competições importantes como o Campeonato Brasileiro da Série B, tudo indica que Ceni pode ter seu primeiro ano de glória como treinador. 

Título do Campeonato Cearense? Talvez... acesso à elite do futebol nacional? Seria épico e faria de Rogério certamente uma das peças mais simbólicas da história do Leão, que espera viver na pele as 'mitagens' do ex-goleiro.

O ano de Ceni... o centenário do Leão! (Foto: Juscelino Filho)
O ano de Ceni... o centenário do Leão! (Foto: Juscelino Filho)