O ano era 1983. Após uma Libertadores da América peleada, com enfrentamentos históricos diante do Flamengo, do América de Cali e do Estudiantes, além da finalíssima contra o Peñarol, o Grêmio estava credenciado a enfrentar o campeão europeu em solo japonês. O longo Campeonato Gaúcho ainda ocupava datas que só liberaram o voo tricolor nas vésperas. O Hamburgo da Alemanha seria o adversário. O clube conquistou a Liga dos Campeões pela única vez naquela oportunidade, em um torneio que contou com o Liverpool, a vice-campeã Juventus de Michel Platini, o Monaco, o Celtic, o Sporting Lisboa, o Dynamo de Kiev e outros.

A disputa final em jogo único no território neutro era a tônica da época. O Flamengo de Zico havia sido campeão no Japão somente dois anos antes, quando bateu o Liverpool no sonoro 3 a 0. O jogo entre os dois melhores do mundo ocorreu em 11 de dezembro de 1983.

O adversário Hamburgo não era tão conhecido, mas ainda atualmente acumula o feito de ser um dos poucos clubes no mundo jamais rebaixado de sua liga, a tradicional competição alemã. A relembrar da época, havia conquistado uma sequência de 36 jogos de invencibilidade, um recorde no continente europeu na ocasião. Entre seus escalados, apenas dois, Wehemeyer e Schröeder, não vestiram a camisa de suas seleções. Além da predominância de alemães na equipe, havia o atacante Hansen, da seleção dinamarquesa. O treinador era o austríaco Ernst Happel.

Do mais conhecido lado gremista, os principais reforços em relação à conquista inédita da Libertadores eram o meia Mário Sérgio e experiente Paulo Cézar Caju, campeão da Copa do Mundo de 1970. Com isso, o time gremista tinha três Paulos: o lateral direito Paulo Roberto e o esquerdo Paulo César Magalhães eram os demais.

O time base do Grêmio teve: Mazarópi; Paulo Roberto, Baidek, Hugo de León e Magalhães; China, Osvaldo, Mário Sérgio e Paulo Cézar Caju; Renato e Tarciso.

O time do Hamburgo na decisão formou com: Stein, Wehemeyer, Hieronymus, Jakobs, Schröder, Hartwig, Groh, Magath [C], Rolff, Hansen e Wuttke.

No jogo muito disputado, Renato pegou a bola pela direita em uma de suas jogadas características durante a carreira. O ponta avançou, cortou o marcador a dribles e, mesmo com pouco ângulo, venceu o arqueiro Stein para fazer 1 a 0 aos 37 minutos.

O Grêmio desperdiçou algumas oportunidades de encerrar o jogo e Mazaropi praticou boas defesas, pelo menos três firmes para salvar o Tricolor. Quando tudo caminhava para o título no 1 a 0, uma falta cobrada na área deu a chance precisada aos alemães. O habilidoso camisa 10 Magath fez o levantamento, o zagueiro Jakobs subiu para cabecear e Schröder empatou: 1 a 1.

O jogo foi para a exaustiva prorrogação. Os gremistas aproveitaram a condição física e Renato demonstrou novamente sua técnica a dribles. Aos três minutos da prorrogação, fez um gol tão bonito quanto o de abertura do placar. Dessa vez Caio lançou a bola da esquerda, Tarciso raspou de cabeça e fez chegar a chance em Renato, que fintou o marcador e finalizou sem chances para o goleiro: 2 a 1 para o Grêmio. Somente ao final do tempo adicional, o apito derradeiro e a festa dos atletas. O uruguaio Hugo de León teve o privilégio de erguer a taça na ocasião e a volta olímpica foi dada diante das bandeiras tricolores que ornamentavam trechos das arquibancadas.

O lateral Paulo Roberto  com a taça e os companheiros (Foto: Divulgação)

A festa se estendeu perante os 62 mil espectadores no estádio em Tóquio e trazendo a alegria para os milhares de gremistas na capital gaúcha e nas demais localidades brasileiras. O Grêmio se tornava assim o terceiro clube brasileiro a faturar o Mundial, após o Santos de Pelé e o Flamengo de Zico. A esquadra comandada por Valdir Espinosa marcava época definitivamente como um dos melhores times brasileiros já formados. O Grêmio campeão da América e do mundo em 1983.

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Sobre o autor
Henrique König
Escritor, interessado em Jornalismo e nas mudanças sociais que dele partem; poeta de gaveta.