Rebaixamento: não há outra coisa que transforme os sonhos em pesadelos nas noites do Internacional nessa atual temporada. Após o hiato pós-tragédia com a Chapecoense, o foco se volta para a luta contra a queda. Não que os dirigentes colorados tenham deixado de lado nos últimos dias é claro. O jogo contra o instável Fluminense será uma guerra para o lado vermelho do Rio Grande. Vencer é além de obrigação, mas o Internacional não depende só de si para escapar do caos. Assim como nos Campeonatos Brasileiros de 1999 e 2002, será preciso escapar na última rodada.

A primeira escapada em 99

1999 foi um ano muito complicado para o Inter. Com a pretensão de um ano com esperanças renovadas e contratações como o técnico Paulo Autuori e o futuro salvador da equipe, Dunga, tudo que fora almejado se foi pelo ralo com o passar da temporada. Primeiro no estadual onde o Grêmio de um arrasador Ronaldinho foi o campeão. Já na Copa do Brasil, a qual o colorado sonhava em conquistar, o Brasil viu o colorado ser eliminado pelo Juventude após uma goleada histórica por 4 a 0. Autuori saiu no início do Brasileiro, veio então Valmir Louruz, campeão da Copa do Brasil com o Juventude. De nada adiantou: o Inter já havia se perdido ao longo do campeonato e de toda a temporada. Viria então a última rodada do brasileiro e nela, um Internacional precisando de uma combinação de resultados para evitar o rebaixamento.

Leão assumiu a bronca, vindo a ser o 3º técnico no campeonato. O Brasileirão rebaixava pela média dos últimos anos. O STJD deu três pontos para o Botafogo, que também lutava pela permanência, e outros dois para o Inter, devido ao "Caso Sandro Hiroshi", o atacante do São Paulo que foi descoberto como "gato". Mas mesmo assim o Inter receberia o Palmeiras precisando vencer para não depender de resultados paralelos. Dunga, afastado do time rodadas antes por Leão, voltou ao time e recebeu a faixa de capitão. Jogo com ingressos a R$ 1 e apitado por Márcio Rezende de Freitas.

Tinha tudo para ser um dos jogos mais dramáticos da história do clube e foi. Quis o destino que Dunga fosse o escolhido para salvar o colorado. Quis o destino que o capitão do tetra estivesse iluminado e com espírito goleador. O gol demorou a acontecer, mas aos 37 minutos do segundo ele veio. Naquele momento o Inter estava sendo rebaixado devido à vitória do Botafogo sobre o Guarani, mas na cobrança de falta do atacante Celso, o mergulho salvador de Dunga mudou a história.

Librelato salvou o Inter em Belém

Se em 99 a coisa já tinha sido complicada, 2002 fez questão de ser ainda mais difícil para o clube do povo. O Inter tinha Fernando Carvalho na presidência e com ele novamente o objetivo de investir mais no futebol. Inicio de temporada com Ivo Wortmann no comando e contratações como o futuro ídolo Clemer, os Baianos Junior e Fernando, Fabiano Costa e uma revelação dos lados de Criciúma que seria o futuro salvador da pátria, Mahicon Librelato.

O campeonato gaúcho veio já com o então interino Guto Ferreira, hoje treinador do Bahia. No Brasileirão, mais uma vez Celso Roth voltava ao colorado e, a exemplo do que fez em 2016, uma campanha desastrosa no comando da equipe. Sempre na volta da zona de rebaixamento e a quatro rodadas do final, na 18ª colocação, Roth foi demitido. Cláudio Duarte surgia e as coisas pioraram ainda mais, com atraso no pagamento de imagem dos jogadores e Internacional caindo sem paraquedas. 

A primeira partida do técnico foi um empate contra o São Caetano e a segunda foi uma derrota para o Juventude. Parece que o destino por fim rebaixaria o Inter, que ingressou na zona de rebaixamento. Mas o que era ruim ficou ainda pior com uma derrota para o Cruzeiro no Beira-Rio. Naquela altura do campeonato era o 24º em um torneio de 26 equipes, parecia que dessa vez não teria volta. Era a temida queda que se aproximava ainda mais, mas quis o destino que não fosse assim.

O Z-4 na última rodada tinha Inter, Palmeiras, Botafogo e Gama, mas na rodada de derrota para o Cruzeiro teve um resultado fundamental para mudar o que poderia ser tragédia. Paysandu foi até Caxias enfrentar o Juventude e garantiu um empate em 0 a 0, o que livrou o clube da degola. Melhor para o Inter que os enfrentaria na última rodada, porém fora de casa. Mala branca rolava a solta naquele campeonato e de tantos rumores de lugar em lugar na época, o Inter era o alvo da vez por suspeita de mala branca. Independente da mala, o colorado precisava de uma sequência de combinações de resultados, Palmeiras não poderia vencer o Vitória em hipótese alguma, assim como o Paraná não deveria vencer o Figueirense, além de contar com empate entre Portuguesa e Bahia. Deu tudo certo para o clube do povo. Faltava só fazer a sua parte.

Não foi bonito, mas foi intenso e verdadeiro. O Internacional bateu o Paysandu fora de casa por 2 a 0. O primeiro foi de Librelato, hoje uma estrela colorada que brilha no céu, o jovem jogador viria a morrer afogado 12 dias depois. O segundo foi de Fernando Baiano, decretando a vitória colorada. O mesmo Fernando havia saído no soco com o zagueiro Luiz Alberto no intervalo, mas Cláudio Duarte manteve os dois jogadores e o Inter conseguiu o milagre que precisava. 2002 foi nada bonito para o colorado, quem dirá 1999, mas foram aprendizados que a vida colocou no caminho do clube do povo.

Uma pena que com a atual direção tudo o que aconteceu naqueles momentos de tensão e horror voltou com tudo. As duas temporadas servem de lição para mostrar que não tá morto quem peleia. Independente de história de mala ou não, o Inter precisa fazer sua parte e contar com uma mãozinha do destino, afinal, todo mundo tem sua pequena cota de sorte.