Quatro décadas de longevidade. Duas delas dedicadas ao futebol. Títulos e mais títulos pelo país afora. Mas quem diria que o manto alviverde do Palmeiras cairia tão bem em Zé Roberto em sua reta final de carreira?

A chegada foi em um momento conturbado do clube, após o Verdão quase cair pela terceira vez em sua história para a Série B do Campeonato Brasileiro, há exatos dois anos atrás. Mas o destino caprichou ao colocar Zé no rumo palmeirense. Ambos ressurgiram juntos. Gigantes adormecidos que retomaram suas trajetórias habituais, com conquistas e lances memoráveis.

A Copa do Brasil do ano passado já seria marcante o suficiente para marcar a passagem rápida, mas histórica de Zé Roberto em Palestra Itália, mas cá entre nós, que grande injustiça seria um atleta como este terminar sua carreira sem um título de Campeonato Brasileiro. E ele não fez apenas parte do elenco campeão. Foi peça fundamental. Foi cirúrgico. Jogou quando deveria. Fez gols quando a equipe precisava. Até gol ele evitou. Agora, relembre a trajetória de Zé antes e depois de adentrar ao gramado em que a luta mais o aguardou. Onde ostentou sua fibra com veemência e por onde pode encerrar sua brilhante carreira no futebol.

Ídolo por onde passou

Fruto do Clube Pequeninos do Jockey, localizado na região do Butantã em São Paulo, por onde atuou durante sete anos de sua juventude, José Roberto da Silva Júnior iniciou sua carreira profissional pela saudosa Portuguesa de Desportos aos 16 anos de idade.

Antes de fazer história com o elenco de 1996 ao lado de jogadores consagrados, dois anos antes, Zé conheceu um senhor chamado Alexi Stival, também conhecido como Cuca. Sim. Zé Roberto jogou ao lado de seu atual comandante no Verdão. Também neste ano o meia jogou ao lado de Dener, atleta que acabou faleceu aos 23 anos em um acidente automobilístico. Recentemente, Zé Roberto comparou a revelação da Lusa à Neymar e Gabriel Jesus.

Após atuar pouco ao lado de Cuca, Zé fez parte do elenco lusitano que por muito pouco não alcançou o que seria o maior feito da história do clube que hoje vive intensas dificuldades. Ao lado de Alexandre Gallo, Alex Alves e Capitão, Zé Roberto foi vice-campeão brasileiro. E viu o Grêmio adiar em 20 anos o seu sonho de conquistar um Campeonato Brasileiro.

Zé Roberto disputando um lance com o Amaral nos anos 90 (Foto: Divulgação/ Gazeta Press)
Zé Roberto disputando um lance com o Amaral nos anos 90 (Foto: Divulgação/ Gazeta Press)

Na temporada seguinte, Zé Roberto trocou a simplicidade do Canindé pelo luxo do Santiago Bernabéu. Em uma negociação envolvendo US$ 8 milhões, o jogador chegava ao Real Madrid na maior negociação nacional envolvendo um lateral-esquerdo. Mesmo sendo campeão da Liga em sua primeira jornada pelo clube, Zé Roberto acabou atuando pouco pela equipe merengue e acabou sendo emprestado ao Flamengo.

Retomando seu bom futebol na Gávea, Zé conquistou duas taças pela Seleção Brasileira em 1997: a Copa América da Bolívia e a Copa das Confederações, que antecedeu a sua primeira participação em uma Copa do Mundo.

No ano seguinte, Zé Roberto conheceu o país por onde mais atuou em toda a sua carreira: a Alemanha. Cedido novamente por empréstimo, o jogador chegou ao Bayer Leverkusen, por onde ficou durante cinco temporadas. Mas foi na Baviera que ele se tornou ídolo nacional. Vestindo a camisa do Bayern de Munique Zé Roberto conquistou 10 títulos, dentre eles quatro Bundesligas.

Após seis anos em Munique, Zé Roberto acertou com o Hamburgo em 2009, antes disso havia sido cedido por empréstimo ao Santos, participou da conquista do Campeonato Paulista de 2007. Encerrando sua carreira em terras germânicas, Zé obteve uma rápida passagem no Catar, antes de voltar em definitivo ao Brasil para defender o Grêmio.

Já com 40 anos de idade, Zé Roberto surpreendeu logo em sua apresentação pelo clube gaúcho, ao demonstrar um grande preparo físico. Em dois anos atuando em Porto Alegre, Zé não conquistou títulos, mas conquistou aos poucos a confiança e seu prestígio dentro de campo. E no fim de 2014 chegou à São Paulo como um dos pilares da renovação do Palmeiras, que buscava retomar o caminho das glórias. A consequência disso todos sabem...

Zé Roberto comemorando uma de suas quatro Bundesligas ao lado de Lúcio (Foto: Divulgação/ AP)
Zé Roberto comemorando uma de suas quatro Bundesligas ao lado de Lúcio (Foto: Divulgação/ AP)

A temporada do título

Com a chegada de novos reforços, principalmente a do bicampeão brasileiro Egídio, a titularidade de Zé Roberto ficou ameaçada. Declarando que encerraria sua carreira ao fim desta jornada, o atleta foi pouco utilizado por Marcelo Oliveira e disputou apenas nove partidas durante o Campeonato Paulista, sendo que em apenas seis oportunidades aparecendo entre os titulares. Com a chegada de Cuca, aos poucos Zé foi retomando sua função na lateral-esquerda, participando desta maneira de cinco dos seis jogos do Palmeiras durante a fase de grupos da Copa Libertadores da América.

Na disputa do Brasileirão, ficou fora das duas primeiras partidas mas atuou em quase todos os compromissos restantes do Verão. Claro, revezando em algumas situações com o próprio Egídio, que pouco agradou a massa palmeirense. Atuando tanto na lateral quanto no meio de campo, Zé chegou a emplacar sequências de quase 10 partidas consecutivas em que esteve presente nos 90 minutos, demonstrando mais uma vez seu vigor dentro de campo.

Durante a virada de turno, Zé Roberto acabou "perdendo" a faixa de capitão para o garoto Dudu, mas engana-se quem pensa que o jogador deixou seu estilo de liderança dentro do elenco. Longe dos holofotes com a ascensão de Gabriel Jesus e companhia, a experiência do lateral voltou a ser fundamental com a lesão de Fernando Prass, semanas antes da disputa da Rio-2016.

O mês de outubro certamente foi o mais importante individualmente para Zé na disputa do Campeonato Brasileiro. Atuando no meio-campo, o jogador foi a principal novidade de Cuca para o duelo diante do Santa Cruz em Recife, válido pela 28ª rodada. E foi de Zé Roberto o gol mais bonito da noite. Recebendo belo passe Erik, o veterano encobriu com categoria o goleiro Edson, sendo peça fundamental da vitória por 3 a 2.

Zé Roberto marcou apenas dois gols nesta temporada. Em 2015 ele havia ido à rede em sete oportunidades

Semanas foram se passando e cada vez ficava mais claro que o Flamengo seria o principal rival do Verdão na disputa pelo título. Na 30ª rodada um show na Allianz Parque fez o Palmeiras mandar a partida frente ao Cruzeiro em Araraquara. Após uma primeira etapa entre altos e baixos para as duas equipes, o líder da competição viu a Raposa dominar praticamente todas as ações dos quartenta e cinco minutos finais.

A chance mais clara surgiu aos 18 minutos da etapa complementar, onde surgiu o lance mais emblemático de Zé Roberto nesta campanha que culminou no título. Robinho, ex-Palmeiras, fez boa jogada individual, limpou o arqueiro Jaílson e finalizou para a meta vazia, mas Zé Roberto surgiu de trás, e com um carrinho salvador tirou a bola em cima da linha com a barriga. A derrota naquela noite deixaria o Flamengo com a mesma quantia de pontos que o Palmeiras, já que os carioca haviam vencido o clássico diante do Fluminense.

Mantendo sua regularidade e dando tranquilidade pelo lado esquerdo da defesa palmeirense, Zé Roberto se manteve como titular até a partida do título. Se ele realmente irá anunciar em definitivo a sua aposentadoria ao fim da temporada, como havia prometido em fevereiro, ainda não sabemos. Mas a disputa da Libertadores com um elenco ainda mais fortalecido certamente pode fazer Zé mudar de ideia. Se depender de seu desempenho dentro de campo, a decisão de adiar o adeus por mais uma temporada deve ser considerada...

A temporada de Zé Roberto em número de partidas

Competição Partidas
Copa Libertadores da América 5
Campeonato Brasileiro 26
Copa do Brasil 4
Campeonato Paulista 9