A coletiva do Palmeiras nesta sexta-feira (10) foi, no mínimo, incomum. A corriqueira entrevista, que a princípio seria apenas com o técnico Alberto Valentim, contou com a presença da maior parte do elenco alviverde. Jogadores tidos como líderes do grupo, como Fernando Prass, Edu Dracena, Moisés e Dudu, sentaram-se ao lado do comandante e responderam às perguntas dos jornalistas.

O treinador foi o primeiro a falar e explicou o motivo da reunião do elenco na coletiva: “Em Salvador, depois do jogo, eu no meu quarto, tive a ideia de trazer todos aqui, conversei com o presidente para que eles me dessem essa oportunidade que estamos unidos, juntos para esse cinco jogos que restam nesse campeonato, para o objetivo principal que é o G-4.”.

No Palmeiras desde 2014, Valentim fez questão de citar o apoio da torcida em todos os momentos, e deixar claro que o grupo, ao lado da comissão também sente a frustração de uma temporada sem sucesso.

“Desde que estou aqui, são três anos, todas os momentos difíceis a torcida se comportou da melhor maneira possível, principalmente dentro do estádio. Nos ajudando, apoiando, não vai ser diferente. Lógico que o torcedor não está contente, como não estamos.”, ponderou.

Veterano no clube, o goleiro Fernando Prass reforçou o discurso do treinador:“Estou aqui desde o fim de 12. No primeiro momento não tínhamos o Allianz, e não me lembro de ter jogado em qualquer estádio longe da capacidade total. No Allianz, em 14, em um dos momentos mais difíceis, foram dois jogos muito complicados com apoio irrestrito. Acho que foi por isso que a gente conseguiu escapar aquele ano. De lá para cá, foram mais de 100 jogos no Allianz, e não jogamos sem o estádio estar lotado. Óbvio que a gente compreende a tristeza do torcedor, ele é paixão pura, quer que o time vença tudo.”

Após a derrota contra o Vitória, a relação entre elenco e torcida atingiu um dos momentos mais delicados no ano. Os muros da bilheteria do Allianz Parque amanheceram pichados na quinta-feira (09), e nesta sexta (10), a principal torcida organizada palmeirense anunciou que comparecerá ao CT no domingo (12), antes da partida contra o Flamengo. O zagueiro Edu Dracena falou sobre a dificuldade de lidar com momentos assim:

“Você acaba nem saindo na rua, deixa de levar o filho na escola. Você acaba deixando de viver algumas situações. Somos seres humanos, temos família. É difícil um familiar seu sair na rua ou ver na internet xingamentos e cobranças. Ninguém aqui é máquina. Está todo mundo triste, mas ao mesmo tempo confiante de que vamos conseguir nosso objetivo. Há uma semana, estávamos cinco pontos atrás do líder e em evolução, hoje esse questionamento.”

Prass disse também sobre a expectativa da torcida para a temporada, por conta do alto investimento em reforços:

“Sempre escuto falar de números, e vocês batem nesse assunto. Quando o você entra em campo, não tem importância quanto ganha, quanto custou. Se tu for frio de analisar o futebol por números, o Palmeiras contratou R$ 80 milhões e vendeu R$ 100 e poucos milhões. Outra coisa que falam, é bicho. O jogador, dentro de campo, não pensa em dinheiro. Se for para esse lado de analisar valores, gastos, vendidos, comprados, estaremos fora do nosso problema. Nosso problema é em campo e se resolve com trabalho, não com cálculo.”

“É um grande clube. O Palmeiras fez, sim, grandes contratações. O Palmeiras tem saúde financeira, e por isso esses jogadores estão aqui. É lógico que quando cria-se uma expectativa muito grande, até por vocês, vem uma cobrança muito grande. Mas, sempre teve cobrança.”, completou Alberto Valentim.

Na coletiva, Alberto Valentim anunciou que o lateral Egídio, um dos principais alvos da torcida, foi liberado pelo clube para resolver problemas pessoas em Belo Horizonte, e não estará disponível para a partida de domingo (12). O jogador se envolveu em um entrevero com um torcedor no desembarque do Palmeiras na quinta-feira (09) em São Paulo, e foi advertido pela diretoria. Dudu citou o caso: 

“Ficamos tristes com essa cobrança em cima do Egídio. Sobre ele, a diretoria que se posicionou assim, somos jogadores, temos que acatar isso.”, disse o capitão.

Referência técnica no meio-campo do Verdão, Moisés fez questão de ressaltar a união do grupo: "O motivo de estarmos juntos é porque nos momentos bons sempre falamos que tínhamos uma família. Esse momento passamos por dificuldade, queremos provar que não vamos deixar que se bate em um jogador. É um grupo nas horas boas, que fica mais unido nas difíceis. Antes do torcedor, a gente mesmo pensa em título, mas às vezes não acontece. Esse ano o Real não está fazendo uma boa temporada... É futebol. O Palmeiras se planejou, e não foi só para esta temporada. O planejamento é para anos seguidos, tem muito a vencer.”, disse o meio-campista.

Por fim, o goleiro Fernando Prass rebateu críticas referentes à motivação do elenco e reforçou - mais uma vez - que não existem problemas de relacionamento entre os atletas.

“Esses dias vi um caso de um jogador com depressão, a gente vê os comentários mais esdrúxulos possíveis. São coisas que se criaram em torno do jogador de futebol. Outra coisa é que o jogador só pensa em dinheiro, não se importa com o clube, não é assim... Todo mundo é prova da frustração que causa em um grupo desse deixar escapar chances como essa. O Palmeiras tem 103 anos, vai fazer mais 100. Alguns que estão aqui a gente não sabe o futuro, pode ter sido a última chance de ganhar um título. A gente é pessoa como qualquer outra, temos defeitos, momentos de fraqueza... Só que praticamos um esporte e defendemos um clube das mais apaixonadas do mundo, não conseguimos vencer, e quando isso acontece é aquela velha: falta raça, esse não gosta daquele.”, encerrou.