Bonecas para meninas e bolas para meninos. O costume de presentear crianças brasileiras fez parte da infância de Miraildes Maciel Mota. Com personalidade, aos sete anos, quando ganhou de seus padrinho a lembrança e viu seu irmão ganhar uma bola, de imediato, deixou o brinquedo no canto e deu os primeiros chutes no subúrbio de Salvador, local onde nasceu. Mal sabia ela que a "rebeldia" do mimo que ganhou de seus parentes o faria meia da Seleção Brasileira.

Formiga escolheu ser uma jogadora que trabalha quieta, de forma incansável, sem se chatear com o brilho de outras craques ao seu redor. Apesar de não envergar nas costas a camisa 10 canarinho, que acompanha grandes nomes do futebol, em nenhum momento não foi craque. O apelido que ganhou aos 12 anos, por conta da baixa estatura, não poderia cair melhor. Jogadora de grupo e, como dito acima, nunca quis os holofotes voltados para si, mas, mesmo assim os têm. 

38 anos. 21 dedicados à Seleção. Uma senhora jogadora. De talento. Disposição. E, claro, um currículo muito maior do que sua estatura, que pouco pode falar sobre Miraildes com a bola nos pés. Rodou o mundo. Participou de todos os Jogos Olímpicos. De Atlanta, em 1996, ao Rio de Janeiro, em 2016. Dos seis torneios disputados, duas medalhas, mas, ambas, de prata. O que ficou pendurado no peito pouco importa. Se a premiação dourada não chegou, azar o dela que não pôde fazer parte de uma carreira como a da meia da equipe canarinho. 

A grandeza de Miraildes Maciel Mota não se restringe a números e, muito menos, conquistas. Quebrou recordes, mas, acima de tudo, combateu o preconceito. Mulher, negra e jogadora de futebol. Não só o Brasil agradece, hoje, a Formiga. O mundo. Aliáis, que nós possamos nos recordar dela, não só pelo o que ela fez pela camisa canarinho, mas, sim, pelo esporte. A luta, que não é só dela, não acaba aqui. O futebol feminino agradece. Obrigada, Fu!