O lateral-esquerdo Marcelo foi mais um jogador brasileiro a escrever uma carta no site 'The Players Tribune' falando sobre sua vida dentro e fora dos gramados. O lateral da Seleção Brasileira lembrou com carinho do esforço do seu avô durante sua juventude para que não desistisse de jogar bola, da sua infância no Rio de Janeiro, da ida ao Real Madrid e da ligação de Tite chamando-o de volta à Seleção após deixar de ser convocado por Dunga.

+ Confira o texto de Marcelo na íntegra

"Na Copa do Mundo de 2018, a Seleção Brasileira está voltando (...) Com o Tite como nosso técnico, eu sinceramente acredito que podemos colocar a bandeira brasileira de volta ao posto mais alto (...) Quando ele aceitou ser técnico da Seleção, ele me ligou (...) Aquele telefonema foi tudo para mim. Foi a primeira vez que eu recebi um telefonema de um técnico da Seleção Brasileira, e olha que faz 10 anos que eu jogo pela Seleção. Eu mataria pelo Tite, e vou fazer de tudo que eu posso para colocar um troféu de ouro na estante do meu avô", disse o lateral-esquerdo.

Marcelo também lembrou do texto de Ronaldo ao mesmo site, onde o Fenômeno afirmou que pintou o rosto de Zico na rua do seu bairro no Rio de Janeiro, antes da Copa do Mundo de 1982. O lateral-esquerdo revelou que aos seis anos pintou o rosto do camisa 9 na rua, na véspera do Mundial de 1994, e o chamou de herói.

"No Brasil, pouco antes da Copa do Mundo começar, todo mundo na vizinhança saía nas ruas para pintar os muros e para comemorar (...) Eu estava lendo a história do Ronaldo outro dia, e ele estava contando como ele foi para as ruas antes da Copa de 1982 e ajudou a pintar um mural do Zico (...) Bom, adivinha só, Ronaldo? Se você estiver lendo isso, quando eu tinha 6 anos de idade, meus amigos e eu pintamos o seu rosto na nossa rua. Você era o nosso herói. É uma lembrança que fica no meu coração", lembrou.

Apesar da vitoriosa carreira que construiu na Europa, Marcelo revelou que quase desistiu de jogar bola quando tinha 15 anos e treinava em Xerém, nas divisões de base do Fluminense. Segundo o lateral, o avô teve papel importante para mudá-lo de ideia ao afirmar que sonhava em vê-lo jogar no Maracanã.

"Um dia meu avô foi me buscar e eu disse a ele: “Chega, eu vou desistir e vou voltar pra casa” (...) E então ele começou a chorar. Ele disse, “Marcelo, fique calmo. Você não pode desistir agora. Eu tenho que ver você jogando no Maracanã um dia”. Aquilo realmente tocou meu coração (...) Eu desisti de desistir de jogar bola. Dois anos depois, eu entrei no gramado do Maracanã pelo time principal do  Fluminense com meu avô assistindo nas arquibancadas", revelou.

Há 11 temporadas no Real Madrid, Marcelo também comentou sobre sua transferência para o clube espanhol. Ele lembrou da apresentação e da importância da relação com Roberto Carlos dentro e fora de campo durante sua adaptação. 

"Um dos motivos que fazia tudo parecer tão irreal era o fato de Roberto Carlos ser o meu ídolo. Para mim, ele era Deus. Ser contratado pelo mesmo time do Roberto Carlos, na mesma posição, eu não podia acreditar (...) Roberto Carlos caminhou comigo no primeiro dia e disse, “Aqui está o meu número de telefone. No caso de você precisar de alguma coisa. Qualquer coisa… você me liga'", contou. 

Além da importância de Roberto Carlos dentro e fora de campo, Marcelo revelou que outro jogador do galático Real Madrid teve papel fundamental durante seu início na Europa: Fabio Cannavaro. Segundo o lateral, o zagueiro italiano passava segurança para ele atacar, papel este desempenhado por Casemiro atualmente.

"Eu me inspirei muito no Roberto Carlos dentro de campo também. Roberto Carlos ia pra cima e pra baixo como uma animal na ala esquerda (...) Você só pode jogar desse jeito se você tiver um bom entendimento com os seus companheiros de equipe. Fabio Cannavaro jogava do meu lado, e ele me dizia: “ Você pode atacar, Marcelo. Fica à vontade" (...) É como o Casemiro faz comigo hoje. “Vai pra cima, Marcelo. A gente dá conta do resto depois”. Ele salvou a minha vida. Eu poderia jogar até os 45 anos de idade com esse cara do meu lado", afirmou.

(Foto: Bernat Armangue/AP)
(Foto: Bernat Armangue/AP)

Por fim, Marcelo revelou que faltavam dois desejos na carreira: o primeiro, já realizado, era colocar na estante do avô - uma espécie de museu - uma foto campeão da Champions League, torneio que conquistou três vezes nos últimos quatro anos. O último é uma foto comemorando no avião o título da Copa do Mundo, como fez Romário em 1994. 

"Quando nós chegamos à final da Champions League contra o Atlético de Madrid, meu avô estava doente. Antes da final, eu tinha começado uma sequência de quatro jogos como titular. Infelizmente, o técnico escolheu outro para jogar no meu lugar (...) Eu sentei no banco e esperei (...) Então, aos 48 minutos do segundo tempo, o Sérgio Ramos nos salvou da morte novamente. Quando o técnico chamou a mim e ao Isco na prorrogação, eu corri para o campo com muita raiva. Eu queria conquistar. Na hora que eu marquei o gol do 3 a 1, eu acho que meu cérebro travou (...) Dez anos antes em Xerém, eu olhava para a TV e via as luzes brilhando e a grama verde, e perguntava: “Que jogo é esse?”. Dez anos depois, eu estava segurando o troféu. La décima, o décimo campeonato europeu na história do Real Madrid", lembrou.