Além das grandes marcas esportivas de Michael Phelps, a natação proporcionou uma quebra de uma marca ainda maior. Na realidade, pode se dizer que era uma mancha na história do esporte. Ontem (11), a nadadora Simone Manuel, dos Estados Unidos, venceu a prova dos 100m livre ao terminar empatada com a canadense Penny Oleksiak e, além das medalhas de ouro, ambas quebraram o recorde olímpico da prova. No entanto, embora a prova também tenha sido um marco para a jovem Oleskiak, de apenas 16 anos, as atenções devem se voltar para Simone.

A marca que a estadunidense quebrou não foi um tempo ou um recorde histórico de medalhas. Foi um tabu social. Simone Manuel tornou-se a primeira mulher negra a vencer uma prova individual na natação olímpica. O tabu existe por conta de uma tese, já antiga e devidamente ultrapassada, de que os negros não teriam o biótipo ideal para competir no esporte. O primeiro homem negro a vencer uma prova individual Anthony Nesti, do Suriname, em Seul 1988. A marca estabelecida pela nadadora é ainda mais importante por todo o momento de tensão racial que vem acontecendo nos Estados Unidos, principalmente envolvendo a polícia estadunidense.

Emocionada após a vitória, Simone não trouxe a vitória apenas para si, mas a compartilhou com muitas pessoas: "Essa medalha de ouro não vem só para mim. É para todas as pessoas que vieram antes de mim e me inspiraram a continuar no esporte", afirmou, não se abstendo de comentários a respeito da situação dos negros em seu país: "Significa muito [a vitória], especialmente com o que vem acontecendo ao redor do mundo, esses problemas com a brutalidade policial. Espero que essa vitória traga esperança e mudança a alguns desses problemas", disse a nadadora, aproveitando para deixar um recado para as próximas gerações: "Para os que não acreditam que possam conseguir, eu espero ser uma inspiração. Vá e tente nadar. Você pode ser muito bom nisso".

Simone ainda comentou sobre suas ambições para o futuro do esporte, ressaltando que deseja ver mais nadadores negros nas competições olímpicas: "Eu quero que um dia existam mais de nós [negras] e não só 'Simone, a nadadora negra', porque esse título faz parecer que eu não deveria vencer uma medalha de ouro ou conseguir quebrar recordes, o que não é verdade. Trabalho tão duro quanto qualquer outra pessoa e quero vencer, assim como todo mundo", afirmou a jovem de 20 anos. Se seu desejo for realmente realizado, de certo teremos um esporte mais inclusivo, com mais oportunidades para todos e mais justo. Simone estabeleceu um marco na história e, sendo jovem, pode continuar escrevendo seu nome na mesma, além de influenciar um sem-número de pessoas ao redor do globo.

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Sobre o autor
Gabriel Menezes
Jornalismo na UFRJ. Coordenador e setorista de Botafogo; Coordenador de Futebol Americano e Italiano