Os Jogos Olímpicos, por todo seu tamanho e diversidade, nos trazem histórias marcantes e evidenciam características belíssimas do esporte, sendo que, em alguns casos, essas histórias estão bem perto de nós, mas não recebem tanta atenção assim. Na Rio 2016, tivemos a superação de Rafaela Silva e de Diego Hypólito, no judô e na ginástica. Outra história linda vem sendo escrita no boxe, com mais um brasileiro: Robson Conceição, natural do estado da Bahia. O boxeador de 27 anos compete na categoria ligeiro (60kg) e é tratado como uma das maiores esperanças de medalha para o Brasil.

Robson chegou com certo favoritismo à competição e hoje (14), conseguiu dar um passo importantíssimo para marcar de vez seu nome na história. O brasileiro venceu Lázaro Alvarez, boxeador cubano, e garantiu presença na final de sua categoria, a ser disputada na próxima terça-feira (16), às 19h15, certamente com apoio massivo da torcida brasileira presente no pavilhão 6 do Riocentro, onde acontecem as disputas da nobre arte. O que pouco fica evidenciado é que, antes de chegar à final olímpica, Robson passou por muita dificuldade para chegar até o topo, se tornando um dos melhores boxeadores do mundo em sua categoria.

Entrada no boxe por acidente e passado "brigão" por influência de familiar

Nascido e criado em Salvador (BA), Robson Conceição viveu sua infância no bairro de Boa Vista de São Caetano, em região que passa longe de ser elitizada. O brasileiro já contou, em entrevistas passadas, que acordava às 4 da manhã para ajudar sua avó a vender verduras, além de já ter trabalhado como vendedor de picolé, água e até mesmo como ajudante de pedreiro. Além disso, Robson era uma criança um tanto quanto rebelde, que adorava brigar na rua.

Em suas próprias palavras, o boxeador diz que buscava ser como um tio, também conhecido por brigar nas ruas. Foi essa motivação de brigar que o levou a conhecer o boxe, já que um amigo, que tinha condições de treinar numa academia, o repassava os ensinamentos recebidos. Um projeto de uma academia que permitia que jovens de 13 a 16 anos treinassem foi o que realmente possibilitou que ele entrasse de vez nesse mundo. E foram justamente os treinos e as orientações dos treinadores que tiraram de Robson sua motivação de lutar na rua, deixando os socos para os ringues.

Da eliminação na primeira fase em Pequim à final olímpica em casa

Robson Conceição é um dos atletas mais experientes da seleção brasileira de boxe. Com 27 anos, chegou ao Rio para disputar sua terceira Olimpíada, amargando duas eliminações ainda na primeira fase tanto em Pequim 2008, quanto em Londres 2012. Entre as duas edições dos Jogos Olímpicos, no entanto, seu primeiro resultado expressivo em competições internacionais, fora o ouro no Pré-Olímpico disputado antes de ir à Pequim: uma prata nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, no México, em 2011, sendo derrotado na final pelo cubano Yasnier Toledo.

Desde então, Robson cresceu de produção e começou a se destacar muito mais no cenário internacional. O brasileiro conseguiu ser campeão Sul-Americano em 2014, levando a medalha de ouro no Chile e, nos dois últimos campeonatos mundiais, também subiu ao pódio: foi prata no Cazaquistão, em 2013, e bronze no Catar, ainda no ano passado e, por conta desses resultados recentes, chegou com certo favoritismo para a busca da medalha.

Caminho até a final contou com revanche sobre algoz de final mundial

A história de Robson Conceição fica ainda mais espetacular quando os adversários do brasileiro já dentro da Olimpíada do Rio são analisados. Depois de não lutar na abertura da competição por estar "de bye" e classificado diretamente para as oitavas de final, o boxeador Anvar Yunusov, do Tadjiquistão, vencendo o ex-medalhista mundial por nocaute técnico. Yunusov havia sido medalha de bronze no mundial da categoria em 2011, no Azerbaijão, além de já ter sido campeão do campeonato asiático de boxe e participado em duas edições de Jogos Olímpicos.

Nas quartas de final, eliminou o uzbeque Hurshid Tojibaev, outro lutador com experiência olímpica, por ter participado dos Jogos de Pequim, em 2008. No entanto, a maior disputa ficou mesmo para as semifinais. Robson teria que enfrentar Lázaro Jorge Alvarez, seu algoz na final do mundial de boxe de 2013. O cubano já havia perdido para Robson em outra ocasião, mas ficava no ar o clima de revanche, amplificado pela torcida brasileira. No fim, vitória do boxeador da casa, que criticou a postura "marrenta" do seu adversário e até princípios de briga entre as comissões dos dois lutadores.

Robson se classificou para a final dos Jogos Olímpicos Rio 2016 sob intenso apoio da torcida presente nas instalações, sendo ovacionado toda vez que entrava no ringue. A promessa é de apoio ainda maior na final de terça-feira. Seu adversário sairá da luta entre o francês Sofiane Oumiha e o mongol Otgondalai Dorjnyambuu, contra o qual o baiano de 1,75m já realizou quatro lutas. O placar entre os dois está empatado: cada um tem duas vitórias e duas derrotas. Caso Dorjnyambuu vença seu adversário, o desempate virá justamente numa final olímpica, com apoio de sua mãe, esposa e filha, todas no Rio. Roteiro digno de filme.

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Sobre o autor
Gabriel Menezes
Jornalismo na UFRJ. Coordenador e setorista de Botafogo; Coordenador de Futebol Americano e Italiano