Lembro que era uma sexta-feira, logo pela manhã. Liguei a TV e lá estava o então presidente Lula e o saudoso governador Sérgio Cabral abraçados. Copacabana estava em festa e eu já sabia do que se tratava. Corri para o telefone e liguei para o meu pai. O mesmo, professor, estava dando aula, então obviamente não atendeu de primeira. Mas, não tardou para retornar.

- Filho, meu ligou?!

- Pai, o Rio de Janeiro vai receber a Olimpíada, você viu?

- Sério? Que legal, filho. Você vai estar trabalhando lá.

- Você vai me levar?!

- Vou sim. Eu e sua mãe estaremos contigo.

Sempre carreguei o sonho de ser jornalista. Nunca tive um plano B. Não tenho até hoje, aliás. E meu pai sabia disso. Sempre desejou que eu seguisse sua carreira como biólogo, mas sempre fui apaixonado por esporte. Ele não gostava muito de esporte, mas gostava do que me fazia bem. Isso bastava para mim e para ele.

Foi engraçado ouvir meu pai dizer a palavra 'trabalhando' no telefone. O ano era 2009, eu só tinha 15 anos e estava mais preocupado em saber se o Fluminense conseguiria fugir do rebaixamento ou não. Sim, sonhava em ser jornalista desde criança, mas nem nos meus sonhos mais surreais imaginaria que estaria cobrindo uma Olimpíada aos 22 anos. Meu pai, sim.

De lá pra cá, muita água passou por essa ponte. Cresci, amadureci e evolui. Entre formaturas e estágios, parei na VAVEL Brasil. A cobrança por nota virou atenção à cada pauta que eu produzia. Ele morria de medo de eu acabar escrevendo bobagem e me metendo em furada, mas adorava quando algum texto meu fazia sucesso. Era sua forma de demonstrar carinho. E eu entendia.

Lembro que esse ano, quando Roger Federer virou contra Marin Cilic nas quartas de final de Wimbledon, dei um pulo na cama para acordá-lo. Meu pai não entendia nada sobre tênis, sequer assistia, mas sabia que eu era viciado. Acordou assustado, mas logo entendeu a situação e comemorou comigo, mesmo sem entender muito bem o porquê. O suíço não veio para a Rio 2016, azar dele.

Então, sete anos depois, a previsão do meu pai se tornou realidade e eu estava credenciado para a Rio 2016. De Djokovic à Daniel Dias, de Usain Bolt à Jefinho, aquela criança de 15 anos viveu dias mágicos, de sonho realizado. Agradeço também a Gabriel Menezes, João Vitor Viana, Mariana Sá, Cássia Moura, Pedro Henrique Guimarães, Ricardo Dungó, Mirian Reis, Bruno Lopes e Bruno Siqueira pelo apoio nesses dias corridos de Rio Media Center e Parque Olímpico. Vocês são feras!

Infelizmente, meu pai faleceu três dias após o encerramento dos Jogos Olímpicos. Hoje, dia 20 de setembro, é seu aniversário. Meu primeiro sem ele. Na correria de chegar em casa de madrugada e ter que sair logo de manhã, não pude te contar sobre tudo que aconteceu como você gostaria. Peço perdão por isso. Hoje, provavelmente estaríamos rindo sobre alguma bobagem que cometi, mas sei que um dia nos reencontraremos para acertarmos essa pendência. Me cobre!

Minha Rio 2016 é dedicada a você, pai. Por cada puxão de orelha, por cada bronca, por cada conselho e por todo o amor que você teve por mim nesses anos que esteve aqui. Não ganhei medalha de ouro, não quebrei recordes, mas fiz o meu máximo para te orgulhar de alguma forma. Seu filho chegou lá, como você havia dito. E tudo isso só foi possível graças a você.

Obrigado por tudo. Eu te amo, meu senhor.