O futsal brasileiro é o mais vitorioso e, dentro de quadra, referência em todo o mundo pela união da beleza do jogo, com eficiência e conquistas. Dentre os grandes ídolos que ajudaram a Seleção Brasileira a ser a mais respeitada está Vinícius Elias Teixeira, ala, que ao lado do irmão gêmeo Lenísio, capitaneou uma das melhores gerações de todos os tempos do futsal brasileiro.

Em entrevista exclusiva à VAVEL Brasil, Vinícius falou sobre o conturbado momento que vive a Federação Nacional, a sua carreira, o futuro como dirigente, os fatores que ainda movem o futsal brasileiro e o favoritismo para essa temporada da Liga Nacional de Futsal.

Confira abaixo a entrevista na íntegra:

VAVEL BRASIL: Você e o Lenísio são históricos no mundo do futsal. Como tem sido sua vida agora fora das quadras, aposentado?

VINICIUS: "É bem diferente. Eu acabei optando por um ramo na qual não tinha nenhuma experiência, que é o ramo têxtil. No dia 1º de dezembro completo um ano nesse meio, com uma empresa que fabrica uniformes esportivos e pra mim é uma experiência nova, um novo aprendizado, uma nova oportunidade que tenho aproveitado bastante, tirando o máximo de proveito. Bem diferente da vida que eu levava."

VB: Há alguma chance de você atuar como cartola do futsal?

V: "Agora meu foco está aqui na empresa. Existe a chance, mas nada muito concreto. O futsal passa por um momento complicado, até econômico. Não só no futsal, mas em todo Brasil no geral. Tá difícil trabalhar com o futsal de uma forma estável, ainda mais aqui na região onde moro, já que o Tubarão passa por dificuldades, mas não descarto essa volta, apesar das dificuldades."

VB: Você citou o momento econômico complicado que vive o futsal, mas a maioria dos times da Liga são clubes-empresas. Sem essa parceria não existiria a força da Liga Brasileira?

V: "O futsal só consegue sobreviver pelas empresas que são representadas por donos que gostam do esporte. Acredito que se não fosse por esses apaixonados, como o Clóvis Tramontina, no Carlos Barbosa, o Vincenzo Spedicato, da Intelli, ou clubes, como o Corinthians, que tem uma torcida, uma estrutura por trás, mas é um exceção. Mas acredito que o futsal vive, em sua maioria, por empresários apaixonados pelo esporte."

VB: Meses atrás tivemos a pior campanha da Seleção Brasileira na numa Copa do Mundo de Futsal. Quais os fatores que você credita essa campanha?

V: "Eu acho que só estando lá dentro pra poder analisar friamente. O que posso dizer da minha parte é que a equipe que eliminou o Brasil, o Irã, a gente sempre teve muitas dificuldades. Em 2008 a gente só ganhou de 1 a 0. Em amistosos, não me lembro de ter ganho do Irã, completo, por mais de um gol de diferença. Sempre foram placares muito apertados, muito próximos. As pessoas falam do Irã, mas eles sempre foram uma equipe muito qualificada. Sobre a análise da Seleção, é difícil opinar, já que estive fora desse ciclo, dessa preparação na parte interna."

VB: Os jogadores até cogitaram, no ano passado, de não usarem a camisa da Seleção como uma forma de protesto. De fora, essa manifestação é mais do que necessária para chamar a atenção para a situação do futsal brasileiro?

V: "Eu participei desse protesto há uns dois anos atrás, mas a realidade é que houve muitos desvios no futsal na última década. Entrou muito dinheiro, mas o dinheiro sumiu, desapareceu. Investigações apontaram as irregularidades, mas como sempre no Brasil, é muito difícil, complicado, da gente ter acesso ao que realmente aconteceu. Hoje, sabemos que a Confederação de Futsal está atolada em dívidas, menos, é verdade, já que houve acerto com grande parte dos credores, mas a situação do futsal é culpa de gestões passadas e nossas. Nossas porque negligenciamos e não encaramos o problema de frente, talvez por medo de represálias, de prejudicar a carreira. Todos nós somos culpados também."

VB: Você acha que a geração que teve você, Falcão, Lenísio, Shumacher, trazendo muitos títulos, mascarou os problemas?

V: "Eu acredito que o esporte no Brasil tem uma cultura muito enraízada, cultural da malandragem, de que o que importa é o que se faz dentro da quadra, do campo. E quando se trabalha assim, se trabalha com a sorte. Acredito que, quanto mais se minimiza a margem de erros, estruturando todas as áreas, maiores as chances de sair vencedor. O Brasil sempre confiou muito no talento e eu acredito que essa cultura não deva sair tão cedo. Isso pode acarretar derrotas no caminho e as vitórias podem mascarar prováveis derrotas."

VB: Ainda na sua geração, antes se falava o time do Brasil do começo ao fim até com seus reservas. Hoje, são dois times com jogadores nacionais e outros de fora. Como você enxerga o Brasil ter dois times e não ter essa identidade tão forte com o torcedor?

V: "Acho que a parte econômica influencia muito. Hoje, essa falta de dinheiro faz com que a Seleção não possa se reunir por completo toda vez que é convocada, fazendo com que se divida em grupos. Antes também era assim, mas tinha uma visibilidade maior, até por acordos econômicos e uma força maior em relação aos jogos na TV. Então se criava uma identidade grande. São alguns fatores que ajudam essa seleção a ser fracionada. E os próprios clubes tinham um domínio maior, tanto na Espanha, com a Interview, quanto no Brasil, com a Malwee, Carlos Barbosa. E os treinadores optavam por escolher essas bases, ajudando a criar uma identidade maior com um grupo reduzido de convocados. Hoje em dia, há maior diversividade e acaba criando uma diferença."

VB: Pra encerrar, tem acompanhado a Liga Futsal? Semifinais: Corinthians x Assoeva e Copagril x Magnus. Quais suas apostas?

V: "(Risos)Eu tenho um carinho forte pelo elenco do Magnus, já que praticamente fizeram quase 90% das finais dos torneios que entraram nos últimos anos, então acredito que são favoritos, mesmo sem grande campanha. Mas acredito que esteja bem nivelado. O Corinthians tem a força da torcida, joga em casa, joga sem peso, com jogadores experientes e joga com alegria, já que não tem nenhum título da Liga. O Copagril, pela campanha que fez, com um elenco muito bem treinado e homogêneo, melhor time da Liga, chega muito forte. E o Assoeva, com o técnico Fernando Malafaia, conseguiu unir a parte de experiência, trazendo o Valdin, com o que já tinha no elenco. Mas sempre vou achar o Magnus favorito (risos)."

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Sobre o autor
Diego Luz
De video game à política. Lendo tudo,ouvindo bastante e vivendo com base naquilo que acho certo. Muito prazer.