Nascido no Rio de Janeiro, Victor Penalber é um das principais promessas para o futuro do judô brasileiro. Bicampeão panamericano em 2014 e 2015, medalha de ouro no Grand Slam da Rússia em 2014, bronze no Mundial de Judô em 2015... Conquistas não faltam a esse judoca, atual quinto lugar no ranking da IFJ na categoria meio-médio (até 81kg).

Aos 27 anos de idade, o carioca se prepara para disputar o Mundial de Judô 2017 em novembro, na cidade de Budapeste. Em bate-papo com a VAVEL Brasil, Victor falou sobre sua carreira no judô, sua rotina de treinos e seus sonhos – entre eles, o grande sonho da medalha olímpica.

Confira a entrevista na íntegra abaixo:

VAVEL Brasil: No Brasil, o país do futebol, sabemos que é muito comum crianças sonharem em trabalhar com a bola nos pés – você, no entanto, seguiu um caminho alternativo e começou no judô aos 4 anos de idade. Como surgiu o seu “relacionamento” com esse esporte? 

Victor Penalber: Meus pais queriam que eu tivesse o esporte presente na minha vida. Pratiquei o futsal, natação e o judô, sempre gostei de todos, porém sempre tive uma identificação maior com a luta. Com o passar do tempo, tive que dar prioridade a um deles para que pudesse evoluir mais, e a escolha foi natural. 

Penalber foi bicampeão panamericano de judô em 2014 e 2015 (Foto: Arquivo Pessoal)
Penalber foi bicampeão panamericano de judô em 2014 e 2015 (Foto: Arquivo Pessoal)

VB: Quando criança, você era chamado por um nome bem particular nos treinos – Holyfield. De onde surgiu esse apelido? Alguém ainda te chama assim? 

VP: É bem curioso esse apelido. Na época, eu tinha vários xarás na turma, e meu professor (Leonardo Lara) começou a procurar um apelido para diferenciar-me dos outros. (EvanderHolyfield estava no auge e era um grande ídolo. Após eu voltar de um campeonato com um olho todo roxo, como um boxeador, ele encaixou o novo apelido à situação e acabou pegando. Por algum tempo, alguns suspeitavam que fosse meu sobrenome. Tenho amigos que me conhecem desde muito novo e que ainda me chamam assim.

VB: Nos Jogos Rio 2016, sua primeira participação em Olimpíadas, você era uma das principais esperanças brasileiras por medalhas, mas acabou caindo nas oitavas de final da competição. Qual foi a maior lição que você tirou dessa experiência olímpica? 

VP: A maior lição que tenho dessa experiência foi saber que o mais importante é dar o melhor que temos, independente do resultado ter sido positivo ou negativo. Sabia que tinha capacidade de conquistar uma medalha, fiz a melhor preparação da minha vida e dei tudo de mim, mas naquele dia o adversário foi melhor. O esporte é assim. Temos que aprender a lidar com essas decepções para que nos tornemos ainda mais fortes. 

VB: Muitos não sabem que, em 2005, você sofreu uma séria lesão no cotovelo e teve que se readaptar dentro do judô, transformando-se em canhoto. Você ainda passou por uma importante cirurgia em 2013 - mas apesar disso, o ciclo olímpico Londres 2012-Rio 2016 configura até hoje uma das melhores épocas de sua carreira. Como foi essa adaptação para você? Em algum momento você pensou em abandonar o esporte?

VP: Me tornei canhoto por volta de 2006, após uma lesão grave no cotovelo direito. Em 2013 passei por uma cirurgia bastante séria, na tentativa de recuperar os movimentos normais, perdidos após a lesão. Apesar do sucesso na operação, ficaram sequelas que me trouxeram limitações. Ainda assim, pude fazer um grande ciclo olímpico. Pensamentos negativos como abandonar o esporte acabam passando pela cabeça - afinal, sou humano - mas acredito que o que realmente importa não recai na ausência de dúvidas, e sim na coragem de continuar seguindo em frente apesar das dificuldades.

(Foto: Arquivo Pessoal)
(Foto: Arquivo Pessoal)

VB: Como funciona a sua rotina de treinos? Você faz alguma preparação especial às vésperas de torneios importantes, como o Mundial que está por vir?

VP: A equipe está sempre tentando aperfeiçoar os treinamentos. Quanto mais próximo dos campeonatos importantes, mais específica fica a preparação. Pesquisamos, levantamos dados e identificamos pontos fracos e fortes, nossos e dos adversários, que são testados nas sessões de treinos. Simulamos situações de dificuldade nas lutas, para que eu tenha opções para mudar a estratégia ou tomar uma decisão difícil mesmo quando exausto.

VB: Em novembro de 2011, você mudou da categoria leve (até 73 kg) para a categoria meio-médio (até 81 kg). O que motivou essa troca? Como foi, para você, fazer essa transição?

VP: Estava perdendo muito peso para lutar a categoria leve e aquilo começou a afetar minha performance. Subir de categoria foi a decisão certa, mesmo exigindo um tempo de adaptação. A força, a velocidade e o ritmo de luta mudam muito de uma categoria para outra, mas o tempo mostrou que foi o melhor para minha carreira.

VB: Você atualmente ocupa a quinta posição do ranking mundial do IFJ (Federação Internacional de Judô) na categoria meio-médio e é um dos grandes nomes que estarão na disputa pelo Mundial em 2017. Quais são suas expectativas para o torneio? Existe algum judoca específico que você gostaria de enfrentar nessa competição?

VP: Minha expectativa é buscar mais uma medalha neste campeonato. O Mundial é o foco deste ano para todos os atletas. É muito importante começar esse novo ciclo com uma grande resultado num evento deste tamanho. Uma luta interessante seria com o russo (Khasan Khalmurzaev) que é o atual campeão olímpico.

(Foto: Arquivo Pessoal)
(Foto: Arquivo Pessoal)

VB: Sabemos da dificuldade e dos custos envolvidos na carreira de um atleta profissional no Brasil – principalmente em esportes não tão populares, como o judô. Você tem algum tipo de investidor e/ou patrocinador que te auxilie com os gastos ou é tudo feito por conta própria?

VP: O esporte e o país não passam pelo melhor momento econômico. Não tenho patrocinador, mas a confederação hoje consegue custear as viagens. Apesar das dificuldades, o atleta acaba aprendendo a conviver com as incertezas financeiras. Em alguns momentos temos que investir recursos próprios para que possamos ter uma preparação adequada, que nos permita aproveitar oportunidades e buscar nossos sonhos. 

VB: Hoje com 27 anos e diversas conquistas importantes - como o bicampeonato no Panamericano e o triunfo no Grand Slam de Judô em 2014, além do bronze no Mundial de 2015 - você é uma das principais promessas no futuro do judô brasileiro. Qual foi sua conquista favorita na carreira? Você tem algum grande sonho que ainda não foi realizado? 

VP: É difícil escolher a conquista favorita, já que todas foram fundamentais para a construção da minha carreira esportiva e da minha vida. A mais expressiva com certeza foi a medalha no Mundial de 2015. Foi um dia muito especial – mas o grande sonho ainda é uma medalha olímpica.

(Foto: Arquivo Pessoal)
(Foto: Arquivo Pessoal)

VB: Mesmo não sendo um esporte tão popular quanto o futebol ou o vôlei, o judô brasileiro é sempre uma grande expectativa do público nas Olimpíadas; nosso país geralmente figura entre as maiores delegações de judocas no torneio. Tanto no âmbito pessoal quanto na modalidade como um todo, quais são suas principais apostas para Tóquio 2020?

VP: Ainda é muito cedo para fazer apostas. Durante um ciclo olímpico muitas coisas mudam. Atletas se  machucam, outros surgem ou melhoram muito o rendimento. As variantes são muitas e é difícil de prever o que acontecerá nos próximos três anos. Talvez quando faltarem 6 meses para Tóquio tenhamos uma visão bastante real da situação. Em termos gerais, aposto numa equipe brasileira forte tanto no masculino, como no feminino. 

VB: Um dos principais projetos sociais relacionados a judô no Brasil é o Instituto Reação, do judoca Flávio Canto. Como você analisa a importância desses projetos para uma socialização através do esporte e para o crescimento do judô no nosso país?

VP: Como judoca do Instituto Reação e amigo de Flávio Canto, me considero suspeito para dar opinião a respeito deste assunto. Todo o trabalho realizado no projeto social é de extrema importância. Acredito que o judô tem uma filosofia muito forte por trás da luta, e aliar esta filosofia a ferramentas tão poderosas como esporte e educação, principalmente em projetos sociais, não fazem bem apenas ao judô brasileiro, mas efetivamente à sociedade como um todo.