Por dentro de O Nevoeiro de Stephen King
(Foto: Divulgação)

Nevoeiros são assustadores. O desconhecido para muitos é assustador por natureza. O poder da sugestão, aliado a formas bizarras, sempre acabam rendendo boas histórias.

Junte isso tudo, mais a mente de Stephen King e teremos uma bela história para contar e sentir medo.The Mist (O nevoeiro) foi publicado pela primeira vez em 1979, contando os infortúnios de um grupo de pessoas presas em um supermercado, após o surgimento de um estranho nevoeiro. Em suas 148 páginas (na edição publicada pela Suma de Letras), King apresenta tipos distintos de personagens com personalidades fortes, e que em condições normais, jamais estariam se relacionando.

“Tive uma daquelas terríveis visões – creio que são reveladas exclusivamente para maridos e pais – em que a janela panorâmica se estilhaçava com um som grave de tosse seca, disparando flechas de vidro à barriga nua da minha esposa, ao rosto e pescoço do meu garoto. Os horrores da Inquisição não são nada comparados às sinas que nossa mente pode imaginar para os entes queridos. “(Página 23).

A situação, pessoas das mais diferentes personalidades, trancadas em um ambiente fechado, já seriam o tema de uma boa história. Agora pegue essas mesmas pessoas, com suas convicções, crenças religiosas e medos, trancadas em um supermercado, por conta de um nevoeiro que além de ser incomum, traz a morte em forma de criaturas gigantes e totalmente disformes.

(Foto: Fernando Rhenius)
(Foto: Fernando Rhenius)

O conto está presente no livro Tripulação de Esqueletos, segundo livro de contos de King, lançado em 1985. O primeiro compêndio de contos foi Sombras da Noite, lançado em 1978. Até hoje as duas coletâneas são motivo de debate entre os fãs do autor. Muitos consideram o primeiro, sendo o melhor livro de contos. Já outros justificam Tripulação de Esqueletos, como sendo o predileto, muito por causa do conto aqui descrito.

Narrado por David Drayton, um aspirante a pintor que precisou se vender ao sistema para por comida dentro de casa, tudo acontece em Brigton no Maine. Após uma terrível tempestade, David seu filho Billy e o vizinho Norton, se dirigem ao mercado Federal para comprar mantimentos. O relacionamento entre Davis e Norton não é dos mais amistosos. Por conta de uma disputa de terras os dois vizinhos acabaram se enfrentando nos tribunais. No fatídico dia que o nevoeiro assolou Long Lake, Norton acabou pegando uma carona com David.

A partir deste ponto, uma das características de Stephen King é elevada à enésima potência, confinar personagens, extremamente diferentes. São 50 pessoas, dos mais variados tipos. Com características sempre inusitadas para o ambiente. Sempre terá o cético, o prestativo e o fanático religioso. Tal configuração de personagens, pode ser encontrada por exemplo em “Tempestade do século”.

“Havia um som, um som suave, deslizante. Parou, depois recomeçou, com um furtivo baquezinho. Tudo dentro de mim ficou bambo. Como por mágica, voltei aos quatro anos de idade. Aquele som não vinha do supermercado, mas de trás de mim. De fora. Onde estava o nevoeiro. Alguma coisa se deslocava e deslizava, rastejando sobre os blocos de concreto. E, talvez, procurando um jeito de entrar.” (Página 67).

Ao lado de David Drayton, que narra a história, e que se torna líder no mercado estão várias pessoas que acabam contribuindo para o bom e mal convívio. Sua principal oponente é a Sra. Carmody. Uma fanática religiosa, dona de um antiquário na cidade.

Sua cegueira religiosa ganha outros patamares, após a tragédia. Dona de uma oratória baseada no ódio, sangue e sacrifícios, sempre “falando” em nome de Deus, Carmody acaba se tornando muito mais perigosa do que o próprio nevoeiro. Com tantas cabeças assustadas, vazias por conta da tragédia, a religiosa está no lugar certo para angariar mais fiéis para seu nefasto rebanho.

Primeira imagem do filme traz uma escancarada referencia A Torre Negra. (Foto: Reprodução)
Primeira imagem do filme traz uma escancarada referencia A Torre Negra. (Foto: Reprodução)

Ollie Weeks, o pacato gerente do mercado, também se mostrou uma pessoa extremamente importante no desenrolar da história. Retraído, muito por conta das pressões do trabalho, Ollie acabou se transformando no ponto de equilíbrio entre Drayton e todos dentro do supermercado. Sempre com boas ideias e uma ponderação primordial em um ambiente com níveis de extress altos.

Se olharmos mais a fundo, tirando o nevoeiro da história, ou deixando ele em segundo plano, tudo gira na luta de um pai para salvar seu filho. Para isso acaba fazendo coisas que não iria fazer em condições normais. Mas quem é normal em um momento de sobrevivência?

“Sabem o que é talento? É a maldição da expectativa. Quando crianças, temos que lidar com isso, vencê-la de algum modo. Se sabemos escrever, achamos que Deus nos colocou na terra para superarmos Shakespeare. Ou, se soubemos pintar, talvez achemos – eu achei – que Deus nos colocou na Terra para superarmos nosso pai.” (Página 119 e 120).

King também nos brinda com algo bem comum nos dias atuais. O fanatismo religioso. A falta de tolerância e respeito pelo livre arbítrio botou toda uma comunidade, no caso o mercado em risco. A pluralidade de pensamentos, se mostrou e sempre se mostrará a melhor coisa.

O filme

Lançado em 2007, o filme levou a história para um novo patamar. Poderia ser um filme B com monstros feitos de isopor e sangue feito com catchup. Mas não foi o que aconteceu. A produção foi dirigida por Frank Darabont, e teve Thomas Jane como David Dayton e Marcia Gay como a Sra. Carmody. A principal diferença em relação ao conto foi o final. Na época Darabont, deixou claro que queria explorar as possibilidades e acabou apresentando um final totalmente diferente. Não chega a ser ruim, muito pelo contrário. Pode se considerar como um dos finais mais imprevisíveis e inquietantes do cinema. O longa faturou US$ 57,2 milhões nos Estados Unidos.

Jeffrey DeMunn, Melissa McBride e Lauren Holden. Preparação para o TWD. (Fotos: Reprodução)
Jeffrey DeMunn, Melissa McBride e Lauren Holden. Preparação para o TWD. (Fotos: Reprodução)

Curiosamente vários atores que participaram do filme, fizeram ou fazem parte da série The Walking Dead. Jeffrey DeMunn interpreta Dan Muller, a primeira vítima do nevoeiro. Melissa McBride, que interpreta Carol Peletier em TWD, aparece nas primeiras cenas do supermercado, implorando por ajuda, e Lauren Holden é Amanda Dunfries. Se o filme foi um teste para TWD, todos passaram com louvor.

A série

(Foto: Spike.com)
(Foto: Spike.com)

Com lançamento previsto para o dia 22 de julho nos Estados Unidos, a série será transmitida pelo canal pago Spike, tomando um novo rumo, se comparado com o conto e o filme de 2007. A direção está sob o comando de Christian Torpe. Um dos primeiros desafios, foi tentar fazer algo diferente do filme, sem fugir da essência do conto. Serão 10 episódios.

” – Todos vocês morrerão lá fora! Não percebem que chegou o fim do mundo? O capeta está solto! A Estrela da Desgraça arte, e cada um que pisar fora dessa porta será feio em pedaços! Então eles, virão em busca dos que sobraram. Justamente como disse essa boa mulher! E vocês vão deixar que isso aconteça? – Ela agora apelava para os espectadores, e um leve murmúrio correu entre eles. – Depois do que aconteceu ontem aos incrédulos? Isto é a morte! É a morte! É a… (Página 138).

Vários núcleos serão formados por conta do nevoeiro. De acordo com o ator Darren Pettie, que interpreta Connor Heisel, shopping e igreja, serão locais onde pessoas estarão presas.

“Para transformar o livro em série precisamos mudar muitas coisas, ao mesmo tempo que queríamos ser incrivelmente respeitosos ao material de origem”. A produção usou referências presentes no livro e filme, podendo ser considerada um primo distante, disse Torpe. O maior desafio, foi fazer algo novo.“Eu não quero revelar muito sobre o que veremos na série. O que posso dizer é que será mais uma série sobre como as pessoas reagem ao que veem do que uma série sobre o que realmente existe. Fica chato se o espectador já sabe tudo o que está no programa, então tomamos cuidado para não mostrar o monstro de uma vez só, como o filme fez. Espero que possamos agradar os fãs do gênero hardcore.“Disse em entrevista ao site Joblo.

Frances Conroy (American Horror Story), Alyssa Sutherland (Vikings), Okezie Morro (Guerra Mundial Z), Darren Pettie (The Good Wife), Russell Posner (Mais Forte Que Bombas), Gus Birney (Chicago Med), Isiah Whitlock Jr (Veep), Dan Butler (O Silêncio do Inocentes), Danica Curcic (Departamento Q) e o estreante Luke Cosgrove completam o elenco.

Tripulação de Esqueletos X Sombras da Noite

Qual dos dois é melhor? (Foto: Fernando Rhenius)
Qual dos dois é melhor? (Foto: Fernando Rhenius)

Um dos maiores debates entre os fãs de SK é qual dos primeiros livros de contos do autor são melhores. Sombras da Noite foi lançado em 1978, e tem um histórico de sucesso. Vários contos se tornaram filmes como Caminhões, as crianças do Milharal e a série Pesadelos e Paisagens Noturnas.

Tripulação de Esqueletos foi lançado em 1985, e tem como “carros chefe” O Nevoeiro, O Processador da Palavra dos Deuses e O Macaco. Para o escritor Cesar Bravo, autor de Ultra Carnem, os livros refletem fases distintas de Stephen King: “São dois livros, de um mesmo King, porém, em situações pessoais diferentes. O sombras tem muito da dificuldade financeira do autor, personagens mais simples no contexto educacional e mais pobres na própria questão financeira. Neste livro, SK também flerta com suas primeiras referências. Monstros como vampiros, massas gosmentas e o bicho-papão são exemplos dessa linha. Nota-se uma preocupação em ser sucinto, menos prolixidade, mais ação.”

No Tripulação, observamos um King mais maduro, em certos momentos, mais atenuado e, eu diria, mais responsável – ainda que a coletânea, em minha opinião, soe como uma continuação do Sombras da Noite. Tripulação também tem grandes momentos, como o clássico “O Nevoeiro” no qual King explora o universo de Lovecraft e consegue ser original, o incrível “O Macaco” e o indigesto “Tipo de sobrevivente”. Também nesse livro, notamos que alguns contos abordam a questão da infância, um tema que King explora, ainda hoje, com uma competência única. Eu, como fã, ficaria com o Sombras, talvez por ser a coleção que apresenta uma maior variedade, inclusive nas escolhas narrativas. Mas não deixaria de colocar Tripulação de Esqueletos em minha cabeceira.”

Apresentação Tripulação de Esqueletos

Nesta aterrorizante coletânea de contos, Stephen King nos mostra mais uma vez por que é um dos mais aclamados escritores da atualidade. Um contador de histórias por excelência, aqui ele revela o amplo leque de suas habilidades, transitando com desenvoltura pelo pavor causado por criaturas abomináveis e por um terror psicológico de gelar o sangue.

Em O nevoeiro, seu conto mais longo, uma misteriosa e espessa neblina se aproxima de uma cidadezinha do Maine, trazendo perigos que desafiam a razão humana. Pai e filho precisam enfrentar seus mais sombrios medos na esperança de que esse tormento tenha fim. No entanto, na insana luta por sobrevivência, os personagens perceberão que ficar na rua em meio ao nevoeiro pode ser tão perigoso quanto ficar em um cômodo fechado com pessoas desconhecidas.

Na prosa de Stephen King, os protagonistas se veem forçados a lidar com situações fantásticas em que o que está em jogo é a sanidade diante do inimaginável. Onde termina o pesadelo e começa a realidade? Até que ponto a mente humana pode suportar o terror? Embarque nesta jornada e descubra. (Fonte: Suma de Letras)

Título original: SKELETON CREW
Capa: Rodrigo Rodrigues
Tradutor: Louisa Ibañez
Páginas: 624
Formato: 16.00 x 23.00 cm
Peso: 0.838 kg
Acabamento: Brochura
Lançamento: 14/05/2013
ISBN: 9788560280926
Selo: Suma de Letras

Apresentação Sombras da Noite

Stephen King reúne aqui vinte de suas mais inquietantes obras curtas – relatos de acontecimentos bizarros e atos impensáveis, que surgem daquele momento de crepúsculo, onde ruídos nas paredes e sombras perto da cama prenunciam algo terrível que ronda à solta.

Os cenários são familiares e acima de qualquer suspeita: um colégio, uma fábrica, uma lanchonete rodoviária, uma lavanderia, um milharal. Mas, no mundo de Stephen King, qualquer lugar pode servir como território sobrenatural. São necessárias apenas uma hora propícia da noite e a distração das vítimas. Alguns desses clássicos inspiraram filmes memoráveis como As crianças do milharal, Último turno e Às vezes eles voltam. (Fonte: Suma de Letras).

Título original: NIGHT SHIFT
Capa: Igor Machado
Tradutor: Adriana Lisboa
Páginas: 416
Formato: 16.00 x 23.00 cm
Peso: 0.639 kg
Acabamento: Brochura
Lançamento: 12/04/2013
ISBN: 9788581050416
Selo: Suma de Letras

Referências

KING, Stephen. Tripulação de Esqueletos. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013. 623 p.

KING, Stephen. Sombras da Noite. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008. 411 p.

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