Jornalismo esportivo: o time do coração do jornalista não pode ser mais o foco da discussão
Mano Menezes, técnico do Cruzeiro, em entrevista coletiva (Foto: Washington Alves/Light Press/Cruzeiro)

No último domingo (25), Carlos Eduardo Mansur e Márvio dos Anjos assinaram juntos uma excelente matéria n’O Globo. Entrevista exclusiva com Tite, melhor técnico brasileiro da atualidade. A conversa com o comandante da Seleção é recheada de conceitos táticos e ganchos do que há de melhor no futebol atual (Manchester City de Pep Guardiola) a serem aplicados na Canarinho para furar as linhas de cinco na Copa da Rússia. É daquelas entrevistas que fogem do padrão, na qual não estamos acostumados a ler todos os dias. Mas por que é difícil encontramos poucos bate-papos tão esclarecedores com treinadores ou jogadores sobre o "campo e bola" no Brasil?

Provavelmente o maior motivo seja o despreparo da imprensa esportiva brasileira ao tratar o assunto. Embora tenha aumentado a quota de jornalistas que busca entender mais sobre o futebol atual, a grande maioria prefere continuar no feijão com arroz. Que me importa estudar termos tão complexos sobre um esporte tão caótico como é o futebol, devem pensar. Mas é por matérias como a de Carlos Mansur e Márvio dos Anjos que notamos a importância de sairmos da zona de conforto e buscarmos conhecimento.

Fica cada vez mais evidente que o jornalista esportivo desinteressado em entender mais sobre o jogo vai acabar sendo deixado para trás – se já não estiver. Essa mudança de postura não é importante apenas para elevar o nível do jornalismo esportivo brasileiro, mas para educar uma sociedade que se alimenta, mesmo sem querer, do "jornalismo engraçadinho". Afinal, por que as emissoras que transmitem esportes têm apostando tanto em pautas superficiais? É porque vende, é isso que gera audiência hoje em dia.

Para haver uma melhora, no entanto, precisamos olhar com carinho para a "base". Se a formação acadêmica não se preocupa em educar os futuros jornalistas que pretendem entrar na área esportiva, as transmissões e coberturas continuarão conservadoras, sendo mais do mesmo. Muitos garotos ou garotas que entram na faculdade hoje em dia querem ser setoristas do clube do coração, cobrir treino no CT, ter muitos seguidores no Twitter e, portanto, se tornar fonte de notícias de um determinado time. O que não é ruim, diga-se, desde que não fique só nisso: amplie os horizontes e busque mais conhecimento sobre o futebol.

O comentarista de futebol da ESPN Brasil Rafael Oliveira, para muitos um dos melhores do Brasil em sua função, conversou com o site HTE Sports e explicou que a chave para obter sucesso na função de comentarista é consumir futebol em doses cavalares. "A melhor preparação é não se despreparar. Ou seja: estando ligado em tudo o tempo todo. Vendo infinitos jogos, lendo inúmeras notícias, entrevistas e matérias… Quanto mais você consegue acompanhar por dia, menos vai precisar correr atrás quando for fazer uma transmissão, pois a preparação já fez parte da sua semana", disse.

Se você, jornalista que trabalha com futebol, não buscar atualização e fechar os olhos para o esporte praticado nos principais centros da Europa, provavelmente ficará perdido quando for entrevistar algum treinador da nova geração. Portanto, o foco da discussão não pode ser mais o time a qual determinado "periodista" torce, mas sim o quanto ele se capacita para melhorar a qualidade do jornalismo esportivo em relação ao entendimento do futebol atual.

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