Dilma Rousseff publica nota de repúdio sobre 'O Mecanismo': "Série mentirosa e dissimulada"
(Foto: Divulgação/Partido dos Trabalhadores)

A ex-presidente do Brasil, Dilma Rousseff, publicou em seu site oficial uma nota de repúdio no último domingo (25), em relação a nova série da plataforma de streaming Netflix, O Mecanismo de José Padilha (Tropa de Elite e Narcos). Em seu texto, ela acusa o cineasta de "propagar mentiras" e "distorcer os fatos", buscando esclarecer coisas que a série retrata como "baseado em fatos reais".

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Um dos principais casos abordados por Dilma em sua publicação foi o Escândalo do Benestado, onde remessas ilegais de dinheiro foram enviados para os EUA pelo sistema financeiro público e que teria ocorrido em 1996 durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, mas que na série é ambientado em 2003, no início do governo Lula.

"O cineasta trata o escândalo do Banestado, cujo doleiro-delator era Alberto Yousseff, numa linha de tempo alternativa. Ora, se a série é 'baseada em fatos reais', no mínimo é preciso se ater ao tempo em que os fatos ocorreram. O caso Banestado não começou em 2003, como está na série, mas em 1996, em pleno governo FHC", afirmou a ex-presidente.

Ainda sobre Yousseff, a série mostra o doleiro participando do financiamento de campanha da reeleição da presidente e visitando a sede do comitê, casos que, segundo Dilma, nunca ocorreram. Ela afirma que o doleiro nunca teve nenhum contato sequer com seu comitê de campanha. 

Talvez a sequência mais polêmica da série seja a encenação da marcante conversa de Romero Jucá com o delator Sérgio Machado, na qual Romero diz ser preciso fazer um grande acordo nacional para estancar a sangria da Lava-Jato. Em O Mecanismo, as célebres declarações são atribuídas ao personagem João Higino, que é baseado no ex-presidente Lula. Sobre a cena, que já gera um frisson na internet, Dilma também comenta:

"Na série de TV, o cineasta ainda tem o desplante de usar as célebres palavras do senador Romero Jucá (PMDB-RR) sobre 'estancar a sangria', na época do impeachment fraudulento, num esforço para evitar que as investigações chegassem até aos golpistas. Juca confessava ali o desejo de 'um grande acordo nacional'. O estarrecedor é que o cineasta atribui tais declarações ao personagem que encarna o presidente Lula."

"Reparem. Na vida real, Lula jamais deu tais declarações. O senador Romero Jucá, líder do golpe, afirmou isso numa conversa com o delator  Sérgio Machado, que o gravou e a quem esclarecia sobre o caráter estratégico do meu impeachment", complementou.

Sobre essas críticas, José Padilha também se manifestou, em uma entrevista ao Observatório do Cinema: "Essa turma não entendeu que a série é uma crítica ao sistema como um todo e não a esse ou àquele político ou a qualquer grupo partidário. Por isso se chama O Mecanismo. Assim, misturar falas ou expressões de um político-personagem que o público pode confundir quem falou nāo tem a menor importância, pois são todos parte do sistema. É esse mecanismo que queremos combater. (...) Na abertura de cada capítulo da série avisamos que fatos foram alterados para efeitos dramáticos. Para o pessoal que sabe ler, portanto, não há ruído algum."

No final de seu texto, Dilma ainda compara a ficionalização do diretor com a inversão de fatos históricos da humanidade: "É como se recriassem no cinema os últimos momentos da tragédia de John Kennedy, colocando o assassino, Lee Harvey Oswald, acusando a vítima. Ou Winston Churchill acertando com Adolf Hitler uma aliança para atacar os Estados Unidos. Ou Getúlio Vargas muito amigo de Carlos Lacerda, apoiando o golpe em 1954."

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