Infiltrado na Klan - Crítica
(Foto: Divulgação/ Universal Pictures)

Desde o inicio de sua carreira o diretor sempre foi engajado pela luta dos ideais afrodescendentes, mesmo em seu primeiro grande sucesso “Faça a Coisa Certa” a junção entre o humor que cerca aquelas vidas intercalado com a seriedade de uma sociedade que segrega um povo, já era vista em seu esplendor. Quase três décadas depois Lee enxerga as mesmas lutas sendo travadas e pior um retrocesso.

Na obra que adapta a real história de Ron Stallworth (John David Washingnton) o primeiro policial negro de uma pequena cidade dos Estados Unidos, que se infiltrou na Ku Klux Klan nos anos 70. É feito um paralelo com a situação atual que cada vez mais se torna uma realidade ao redor do mundo, onde discursos de ódio ressurgem das trevas, que sempre foram o seu lugar.

Para isso o diretor torna aqueles que propagam o ódio e racismo em caricaturas dentro da própria estupidez, nos fazendo rir de cada um de seus membros e do seu conceito em si. A piada de seu discurso tem sua forma máxima através de seu líder David Duke (Topher Grace) que prega ser um homem de valor antigos, com sua nação em primeiro lugar, invertendo uma moeda que não possui dois lados. Que obriga o espectador a olhar e refletir os líderes que estão no comando atualmente.

Em uma sequência que se estende quase como um pequeno curta, temos Kwame Ture (Corey Hawkins) em uma visita a universidade local, onde ele discursa sobre a condição dos negros na América, enquanto sua palavras ressaltam a beleza de sua cultura, as imagens passam pelas faces de quem ali o observam, vivas, belas e que clamam por respeito. É então que percebemos o despertar do protagonista para sua condição e seu papel perante ela.

O longa não se esquece de trazer os momentos de felicidade, seja em casuais conversas corriqueiras ou no empoderamento dos oprimidos perante seus opressores, onde é possível regozijar sobre pequenas conquistas. Todos fatores que permeiam a vida do afrodescendente, sem perder o equilíbrio dentro do todo, como simples frases ao longo do filme que impactam os espectadores que observam de fora.

Há uma certeza muito clara em cada aspecto do filme, as atuações tem um entendimento do que é necessário alcançar a mensagem final, como Flip (Adam Driver) que faz o policial que se infiltrava nas reuniões da klan, onde começa com o discurso de ser apenas seu trabalho, mesmo sendo judeu, mas ao decorrer dos encontros cria ojeriza pela Ceita retratando o espaço do branco indiferente na sociedade atual. A contraposição sagaz entre os grupos dos supremacistas com sua ignorância, e dos negros com união e respeito, representados por Patrice (Laura Harrier) que carrega raiva em si, mas uma raiva necessária para tempos sombrios.

Com aspectos clássicos de sua filmografia, alternados com dinamismo sobre temas tão densos, ‘’Infiltrado na Klan’’ traz dentro de si uma das obras mais palatáveis ao grande publico da filmografia de Lee, mas que carrega o peso de séculos de um cultura que foi quase erradicada.

SPOILERS SOBRE O FINAL DO FILME!

Se você ainda não viu o filme pare por aqui!

Após um momento que nos parece como um sonho de que o mundo pode melhorar com os antagonistas sendo derrotados, Spike Lee joga uma avalanche de realidade com o destino da trama e então corta a jornada com uma cruz queimando, como a promessa que aquilo não seria o fim.

É então que continuamos para cenas reais dos últimos meses onde supremacistas brancos e nazistas marchavam pelos Estados Unidos, passamos por agressões e a morte de uma jovem atropelada. Seguidas por Donald Trump em seu discurso onde ele não condena a ação dos grupos de ódio, e do verdadeiro David Duke apoiando a candidatura do atual presidente.

Fortes e necessárias cada uma delas marcam como ferro em brasa, para refletir como chegamos até aqui. Ron diz em determinado momento: alguém como Duke nunca seria eleito presidente e é contraposto por um policial que o diz para não ser tão ingênuo. Nós fomos ingênuos.

 

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