Formula 1 é um esporte complicado. Move bilhões, dá audiência, tem fãs em todo o mundo. É apaixonante. Mas não são poucas as pessoas que perdem o interesse graças as polêmicas que a envolvem. Os brasileiros, em especial, cansaram de ver, por anos e anos, Barrichelo e Massa serem segundos pilotos na Ferrari, depois de uma década vendo Senna brilhar. Hoje, o que parece é que Massa não vai melhor que Alonso porque a escuderia não deixa. Balela. Massa não vai melhor do que Alonso porque o espanhol é melhor, muito melhor. Exatamente como Vettel e Webber.

No Grande Prêmio da Malásia, domingo, os dois pilotos da RBR lideravam, e iriam para a vitória sem problemas. A ordem da equipe era para andarem e aguardarem o pódio com a dobradinha. "A corrida acabou", disse o rádio de um dos engenheiros. Webber, líder, passou a dirigir com calma, poupou o motor. Vettel, por outro lado, desacatou a ordem: passou a atacar o companheiro, e após um lindo duelo, ultrapassou e garantiu o primeiro lugar. Crítico. No pódio, via-se a cara de Webber, descontente. Nas coletivas, chamou o companheiro de protegido, e mostrou-se totalmente irritado. Não é para menos.

O clima entre Vettel e Webber não é bom desde 2010. Na Turquia, naquele ano, Webber liderava a prova, quando Vettel tentou a ultrapassagem. Resultado: com a queda, o alemão abandonou a prova e o australiano foi prejudicado, tendo acabado a corrida em terceiro lugar. Mas, se já aconteceu algo semelhante com Vettel, por que a Red Bull insiste em protegê-lo? Porque Vettel é muito mais piloto do que Webber. Como Alonso é mais piloto do que Massa.

A Formula 1 é sim um esporte coletivo, mas com cunho individual. O piloto campeão sempre será mais valorizado que a equipe vencedora do mundial de construtores. A gana de vencer é interessante, mas há um limite. O problema é: qual é esse limite? 

Alguém duvida que Fernando Alonso, o único piloto de igual com Vettel atualmente, não faria algo parecido? E Schumacher, maior campeão da história? E nem é preciso perguntar sobre Senna e Prost, que no fim dos anos 80, correndo na mesma equipe, travaram duelos memoráveis nas pistas. Alonso tem dois títulos. Senna, três. Prost chegou aos quatro, enquanto Schumacher reina soberano com sete. Todos multi campeões, mas todos com atitudes contestáveis durante toda a carreira. No caso, ninguém duvida que qualquer um deles faria algo semelhante.

Vettel é o piloto mais promissor que a F1 já viu. Foi o mais jovem a pontuar em uma corrida, com 19 anos. Foi o piloto mais jovem da história a ser pole position, conseguir um pódio e vencer uma prova - três recordes no mesmo fim de semana, na Itália, em 2008. Ao mudar para a Red Bull, em 2009, se tornou o mais jovem vice-campeão mundial. No ano seguinte, o mais jovem campeão. O mais jovem bicampeão. O mais jovem tricampeão. Um verdadeiro fenômeno.

Vettel, por merecimento, já está entre os grandes do esporte. Com o carro que a Red Bull lhe oferece hoje, vai brigar, e é o grande favorito ao título desse ano. E ninguém sabe onde o alemão pode parar. Eu aposto que qualquer um, no mundo, prefere um Vettel "anti-desportivo" a um Webber "bonzinho", não? Como qualquer um preferiria Schumacher a Rubinho. Alonso a Massa. Campeões bonzinhos da Formula 1 existiram, claro. Campeões assim, como Vettel se mostrou ontem, mais ainda.

Vettel pediu desculpas. Admitiu que fez errado, e que a corrida era de Webber. Tarde demais. Já com 16 pontos a frente do companheiro, será favorecido sempre que a equipe precisar. E é porque é "protegido" da Red Bull sim, senhor Mark Webber. Mas só é protegido quem se credencia a ser. E Vettel, senhores, a cada dia melhora suas credenciais.