Unindo o espírito patriótico ao amor pelos motores, dois irmãos tiveram um sonho e se dedicaram de corpo e alma a ele. A Copersucar-Fittipaldi, primeira e única escuderia legitimamente brasileira, escrevia uma história marcante na maior categoria do automobilismo mundial. Há 40 anos, a equipe do carro amarelo fazia sua melhor participação na Formula 1, levando milhões de brasileiros a festejar e acreditar naquele time.

Não deixa de ser mentira a afirmação de que fazer Formula 1 fora da Europa é muito difícil, mas não é impossível. E, acreditando nas possibilidades, talvez as mais remotas, é que os irmãos Wilson Fittipaldi Jr. e Emerson Fittipaldi deram seu melhor em todos os sentidos para verem um carro brasileiro nas pistas do mundo do automobilismo.

Desistir, nunca! Persistir, sempre! A Copersucar-Fittipaldi até 1978

O projeto da escuderia Fittipaldi começou a ser elaborado em 1973. Com uma equipe composta por profissionais brasileiros, a equipe inicial era formada pelo desenhista e engenheiro Ricardo Divila e os mecânicos Darci Medeiros e Yoshiatsu Itoh. A Copersucar (Cooperativa dos Produtores de Cana de Açúcar, Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo), decidiu acreditar no projeto e entrou no sonho dos irmãos Fittipaldi. Pouco antes da estreia, Jo Ramirez, mecânico-chefe da Tyrell também se uniu ao projeto.

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A estreia foi na Formula 1, em 1975, no GP de Buenos Aires. O Copersucar-Fittipaldi FD01 largou em último lugar (23º). Após 12 voltas, o carro pilotado por Wilsinho escapou da pista e chocou-se com o guard-rail. A estreia terminaria ali. Ao longo do Mundial, a equipe chegou a testar mais dois carros, o FD02 e o FD03, ainda sem resultados expressivos.

A grande novidade para a temporada 1976 era a presença de Emerson Fittipaldi no bólido brasileiro. O piloto assustou a todos no mundo da Formula 1 ao anunciar que deixaria a Mclaren, após ser vice-campeão em 1975. Com o novo piloto e modificações no carro, resultados interessantes apareceram. O melhor resultado do ano foi o sexto lugar no GP de Long Beach, nos EUA, por Emerson Fittipaldi, e que foi comemorado como vitória por todos por ser o primeiro ponto da equipe na F1. No fim de 76, o time ficou 11º lugar no Mundial de Construtores.

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Para 1977, foi projetado o FD04. Logo de cara, resultados animadores, como os quarto lugares nas duas primeiras corridas, na Argentina e em Interlagos. O quinto lugar em Long Beach, EUA, aumentava a expectativa pelo FD05, que estava sendo projetado no Brasil. Porém, o novo carro que estreara no GP da Bélgica não era tão eficiente assim, e isto se mostrou nas demais corridas do ano. No final, a equipe terminou em 12º no Mundial de Construtores.

Temporada 1978: Sucesso no Brasil e a melhor colocação na F1

Após um estudo minucioso sobre o FD05, último carro da temporada 1977, a equipe criou um novo modelo para 1978. O F5A, com motor Ford Cosworth DFV 3.0 V8 estava pronto para a abertura da Formula 1 no ano. A estreia na Argentina parecia pouco promissora, já que Emerson largara em 17º. No entanto, a expectativa em cima do novo bólido se renovara durante o circuito. Ao final, o nono lugar soava como prenúncio do que viria no GP seguinte.

Em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, que retornara a Formula 1 depois de uma reforma, o Copersucar-Fittipaldi surpreendia e no treinos classificatórios, Emerson terminou largando em sétimo lugar, com Ronnie Peterson na pole position.

O dia 29 de janeiro de 1978 ficaria na história da Formula 1 e da equipe. Logo na largada, Emerson pulou sétimo para o quinto lugar. No final, ultrapassou a Lotus de Mário Andretti, e chegou em segundo lugar, atrás Carlos Reutemann. O primeiro pódio tinha que ser no Brasil, de frente ao torcedor que festejou como se fosse vitória. Nos boxes, muita emoção da equipe e dos irmãos Fittipaldi.

O segundo lugar no Brasil aumentou a expectativa por uma temporada a altura dos sonhos e dos investimentos dos irmãos Fittipaldi. No entanto, os GP's seguintes não foram nada animadores.

Na África do Sul, o Copersucar-Fittipaldi correu apenas nove voltas. Abandonou também na Espanha, França e Inglaterra. Em Long Beach, Fittipaldi terminou em oitavo. Em Mônaco, finalizou em nono lugar. Na Bélgica, o carro nem chegou a completar a primeira volta, após se envolver em um acidente.

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Na Alemanha, o Copersucar-Fittipaldi voltou aos bons resultados com um quarto lugar em Hockenheim, mesma posição conquistada na Áustria, na corrida seguinte. Na Holanda, Emerson conseguiu o quinto lugar.

Na Itália, Emerson Fittipaldi terminou em oitavo. O GP de Monza ficou marcado também pelo acidente que resultou na morte do piloto sueco Ronnie Peterson, da Lotus, aos 34 anos. Mário Andretti, também da Lotus, sagrou-se campeão do mundo na mesma corrida.

Em Watkins Glen, nos Estados Unidos, Emerson Fittipaldi largou em 13º, e terminou em quinto lugar. Encerrando a temporada, no circuito de Montreal, no Canadá, a Copersucar-Fittipaldi não passou da primeira volta após uma batida com o carro de Hans-Joachim Stuck, da Shadow.

Ao final da temporada, havia muito o que comemorar. Um pódio, pontuação em seis dos 16 GP's, e o sétimo lugar no Mundial de Construtores, com 17 pontos. Emerson Fittipaldi conseguiu sua melhor pontuação desde sua última temporada na Mclaren, em 1975. Fechou o ano com 17 pontos, mesmo número de Gilles Villeneuve, da Ferrari.

E depois: o que aconteceu com a Fittipaldi?

A partir de 1979, a evolução planejada pela escuderia não aconteceu. A contratação do designer da Lotus, campeã de 1978, Ralph Bellamy representou uma queda vertiginosa na história da equipe. O carro, F6 não andava bem, o que fez Emerson recorrer ao F5A, carro do ano anterior durante a temporada. Quando o novo bólido reapareceu, F6A, o ano já estava perdido e o veículo era um verdadeiro fracasso. Vários abandonos e apenas um ponto, conquistado no GP da Argentina.

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Como se não bastasse o prejuízo de 1979, em 1980, a Copersucar retirou a parceria com a escuderia. Logo em seguida, a cervejaria Skol entrou na jogada. A Skol-Fittipaldi entrava na temporada com o objetivo de esquecer o ano anterior. Além disso, os irmãos Fittipaldi contrataram um segundo piloto, Keke Rosberg, que viria a ser campeão em 1982, e pai do vencedor de 2016, Nico Rosberg. Apesar do investimento, a equipe novamente não foi bem. Apenas dois terceiros lugares, com Rosberg, na Argentina, e em Long Beach, com Emerson Fittipaldi. Terminou o ano com 11 pontos e em oitavo no Mundial de Construtores.

Já em 1981, duas retiradas na equipe: a parceria com a Skol, e a aposentadoria de Emerson Fittipaldi. Com o carro todo pintado de branco, o bólido foi um verdadeiro fracasso. Apenas um sétimo lugar na abertura, em Buenos Aires. Com muitos problemas, o Fittipaldi sequer chegou a largar na maioria dos GP's e terminou sem pontos. Em 1982, a última tentativa resultado em novo insucesso. Sem Keke Rosberg, que seguiu para a Williams e terminou campeão, a escuderia fechou sua participação com um ponto, conquistado por Chico Serra na Bélgica. E foi o fim.

O saldo da Fittipaldi foram 103 GP's, 44 pontos e uma dívida que superava os US$ 7 milhões. A opinião pública - principalmente, de gente pouco entendida - massacrou um projeto ambicioso, mas que desaguou na falta de recursos e apoio. Apesar de tudo isso, a história de patriotismo e amor ao esporte jamais poderá ser esquecida.