Legado Olímpico: dívidas e abandono fazem de Atenas 2004 a pior Olimpíada da história
Legado Olímpico: dívidas e abandono fazem de Atenas 2004 a pior Olimpíada da história

Os Jogos Olímpicos de 2004 tinham todos os motivos para serem especiais. Mais uma vez na era moderna, o principal evento esportivo do planeta seria realizado em Atenas, capital da Grécia, berço das Olimpíadas. Porém, as competições ficam em segundo plano quando uma palavra é colocada em questão: legado. Nesse sentido, Atenas 2004 foi um horror. Duas palavras podem resumir o legado grego: dívidas e abandono.

A qualidade artística da cerimônia de abertura surpreendeu e deu uma resposta à altura quanto às críticas da parte da imprensa internacional, que acreditavam em caos organizacional. As competições foram realizadas sem nenhum tipo de problema, os atletas do país alcançaram uma boa quantidade de medalhas, recorde na história moderna da Olimpíada. 12 anos depois, grande parte das estruturas olímpicas não é aproveitada, outras estão sem condições de uso, principalmente pela falta de manutenção necessária em edificações de porte elevado.

O Estádio Olímpico de Atenas é usado apenas para jogos do AEK. O time, que teve momentos de glórias, amarga a crise na terceira divisão. A piscina olímpica, o velódromo e as quadras de tênis só servem para treinamentos. Dentre todo o parque olímpico, apenas o estádio coberto é utilizado regularmente pela equipe de basquete do Panathinaikos. Além disso, o centro de badminton foi transformado em um teatro. A orla marítima não foi recuperada. Poucos quilômetros foram habilitados para atividades ao ar livre.

Por outro lado, os problemas entraram em maior evidência. Para as gerações à frente, dívidas, abandono, má gestão e crise político-econômica. O déficit fiscal comprometeu 7,5% do Produto Interno Bruto (PIB) da Grécia em 2004. A dívida estatal subiu de 182 bilhões para 201 bilhões de euros em apenas um ano. Com todos esses fatores, depressão econômica iniciada em 2008, desemprego recorde, pessoas desabrigadas e pobreza.

Além disso, modalidades esportivas não tiveram sucesso na Grécia. Confederações entraram em falência ou são totalmente ineficientes. O polo aquático, por exemplo, desapareceu nos últimos anos. Ginástica, levantamento de peso e vela são outros esportes cujos atletas ficam à míngua e dependem apenas de ajuda de custo irrisória do Comitê Olímpico Internacional (COI).

Diante de todo esse cenário, há apenas lamúrias de quem sonhou com uma mudança na estrutura do país com os Jogos Olímpicos. Presidente do Comitê Olímpico Grego, Spyros Kapralos afirmou que a chance foi perdida e o prejuízo é intenso e será sentido por muitos anos.

"Está claro que perdemos nossa chance. O sucesso da Olimpíada de 2004 acabou quando as luzes da cerimônia de encerramento se apagaram, pois nosso país não tinha um plano para capitalizar esse sucesso. O sonho que alavancou a imagem de nosso país por 16 dias se perdeu. Nossa dinâmica se esvaiu como as instalações olímpicas, que se tornaram monumentos mortos. Houve erros e houve excessos na preparação para os Jogos. A verba foi mais que significante, patrocinadores brotaram. Hoje tudo entrou em colapso. Não há brilho ou esperança para o futuro. A paixão e o compromisso dos esportistas é o que mantém as coisas fluindo", explicou Kapralos.

Outro que citou em uma ocasião o legado da Olimpíada Atenas 2004 foi Giorgios Kazantzopoulos, diretor do departamento de estudos do impacto meio ambiental no Comitê de Organização dos Jogos. Giorgios afirmou que existem pontos positivos até hoje, mas lamenta o insucesso em mudar o panorama de uma cidade e, consequentemente, de um país.

"A única coisa que nos resta dos Jogos Olímpicos é a dívida. Um benefício foi o fortalecimento da legislação de proteção ao meio ambiente. O único benefício em matéria do meio ambiente foi a construção do bonde que liga o centro de Atenas com a frente marítima da cidade" disse Kazantzopoulos.

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