Helder Martins: Quem perde mais com o cancelamento dos ensaios técnicos da Sapucaí?
Foto: Thiago Mattos

Antes de escrever sobre qualquer assunto, preciso agradecer à direção da VAVEL Brasil por me confiar a missão de uma coluna para repercutir os bastidores do carnaval carioca. Sou Helder Martins, jornalista de 30 anos, morador do Rio de Janeiro, trabalhei com esportes em veículos como o site FutRio.net, rádios Transamérica Pop e Fluminense AM, além do Canal CJC, afiliado da RIT TV. Há algum tempo sou assessor de imprensa no mundo do carnaval, cuidando da imagem de eventos, personalidades e escolas de samba.

Neste primeiro texto, não poderia deixar de falar sobre a bomba que caiu no mundo do samba durante esta semana, quando foi divulgado pelo Jornal Extra, que a Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro) cancelaria os ensaios técnicos que acontecem na Marquês de Sapucai. No inicio deste ano o prefeito Marcelo Crivella anunciou corte nas verbas que são repassadas às escolas, gerando um burburinho enorme, inclusive sendo o tema mais discutido durante a feira Carnavalia-Sambacon, que reuniu autoridades de todo o país no mês de julho, no Rio.

Foto: Thiago Mattos
Foto: Thiago Mattos

Poderíamos aqui, falar sobre a justificativa do prefeito para o corte, a ajuda prometida pelo Governo Federal em reunião com representantes das escolas, o apelo midiático das agremiações para conseguir financiamento do setor privado ou ainda sobre a falta que os ensaios poderão fazer para os foliões que curtem o maior espetáculo da Terra. Porém, irei ater-me apenas ao prejuízo das alas técnicas e aos milhares de cidadãos que serão prejudicados por não terem uma série de oportunidades de renda informal.

Por ter nascido em outro Estado e manter contato frequente com pessoas de fora do Rio de Janeiro, posso afirmar que para muita gente, o carnaval é feito apenas dos quatro dias de desfiles. Acontece que o 'Maior Espetáculo da Terra' é um ciclo que se estende pelos 12 meses do ano, num processo que gera uma cadeia produtiva, de onde muitos cidadãos acabam tirando seu sustento, alguns de modo permanente e a maioria de ocasião, como nos ensaios técnicos. Para que tudo aconteça da melhor forma, são profissionais de limpeza, segurança, garçons, motoristas, orientadores, promoters, músicos, sem contar nas horas-extras geradas para policiais, guardas municipais, garis, além dos muitos comerciantes e ambulantes que aproveitam os eventos para levar mais dinheiro para sustento de suas respectivas famílias.

Um outro prejuízo que o não acontecimento dos ensaios técnicos pode gerar, é o fato de algumas alas cruciais para um bom desfile não terem a oportunidade de ajustar, na avenida, detalhes importantes, como por exemplo andamento das baterias, tempo para que os ritmistas possam entrar e sair dos recuos, disposição de componentes das comissões de frente na passarela do samba, entre outros. Estes acertos minunciosos que os Diretores de Harmonia das agremiações fazem, justamente nos ensaios técnicos, muitas vezes decidem o resultado final de um carnaval.

Foto: Thiago Mattos
Foto: Thiago Mattos

Até o final deste mês de outubro, escolas como Unidos de Vila Isabel, Estação Primeira de Mangueira, Acadêmicos do Salgueiro, Portela, Unidos da Tijuca, Imperatriz Leopoldinense e Beija-Flor de Nilópolis realizarão suas finais de samba-enredo e após as gravações do CD do Grupo Especial, teremos uma definição oficial sobre a realização (ou não) dos ensaios técnicos. A esperança é a de que até lá, Prefeitura, Riotur, Liesa, Lierj e as escolas possam achar uma solução viável para manter os ensaios, contribuindo não só com a geração de renda, mas com a manutenção da cultura do Rio de Janeiro e do povo brasileiro.

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