A vida de tenistas dos circuitos profissionais parece cercada de glamour, mas lesões graves podem significar uma queda de patamar difícil de reverter para estes atletas. Ex-número 21 do mundo, Aleksandra Wozniak, 30, passou por esses dois momentos na carreira, e agora batalha para dar a volta por cima.

Atualmente #336 do ranking, a canadense arrecadou aproximadamente U$ 2 mi em premiação na carreira, porém iniciou há duas semanas uma campanha de crowdfunding - financiamento coletivo online - para retomar sua trajetória. Em 12 dias, U$ 5 mil foram arrecadados. Seu objetivo é voltar ao top 100.

Wozniak venceu seu único título WTA em Charleston, 2008 (Foto:
Wozniak venceu seu único título WTA em Charleston, 2008 (Foto:Sara Wolfram/Getty Images)

Wozniak teve seus melhores momentos na carreira entre 2008 e 2012, e assumiu o 21º lugar no ranking da WTA, o melhor da carreira, em junho de 2009. Venceu o WTA de Charleston em 2008 e sua melhor campanha em 27 grand slams disputados foi a quarta rodada em Roland Garros 2009, e também disputou os Jogos Olímpicos em Londres 2012. A partir de 2013, a canadense passou a sofrer com lesões graves, a pior delas em 2014, no ombro, quando ficou quase um ano sem jogar e aos poucos foi caindo no ranking e se afastando dos grandes palcos do tênis.

Disputando principalmente torneios ITF entre 2015 e 2016, Wozniak recebeu alguns wildcards no ano passado, apoiada pela Tennis Canada, federação responsável pelo tênis canadense, mas, em 2018, não recebeu mais este apoio e, sem dinheiro para viajar para disputar torneios, decidiu iniciar o financiamento coletivo.

Em entrevista à VAVEL Brasil, Wozniak falou sobre as dificuldades nessa caminhada de volta ao topo, a realidade dentro do circuito e seus objetivos e expectativas para o futuro.

Bruno da Silva: Eu imagino que, depois de estar no topo alguns anos atrás, é difícil escalar o ranking outra vez, ainda mais por conta de suas lesões. Como você faz para se manter forte mentalmente? O que te dá força para continuar lutando?

Aleksandra Wozniak: Sim, é difícil especialmente depois de voltar de uma cirurgia no ombro, não jogar por quase um ano e começar meu ranking do zero e escalar aos poucos: 1400, 1200, depois 900, e agora estou na posição #336 e meu objetivo e estar no top 100 e estar nas chaves principais de Grand Slams. Eu sou apaixonada pelo meu esporte e é meu sonho continuar jogando enquanto eu estiver saudável e amando isso. Quando você tem objetivos e paixão, é mais fácil passar pelos obstáculos

BS: O que te motivou a iniciar um crowdfunding?

AW: Minha atual situação é que eu não posso viajar para jogar os torneios porque eu não tenho nenhum auxílio da federação e nenhum patrocinador para me ajudar a pagar as despesas do torneio e para o técnico. Pessoas na minha página no Facebook me sugeriram começar algo na gofundme.com porque eles queriam me ajudar e me dar suporte. É uma boa ideia e estou agradecida pelos meus fãs. Eles estavam lá quando eu era número 21 e alguns deles estão aqui ainda, quando eu estou uma fase difícil da minha carreira

BS: As pessoas normalmente pensam que jogadores de tênis vivem uma vida chique e de luxo, mas eles também têm muitas despesas e, como aconteceu com você, as vezes uma contusão é um grande problema para uma carreira. Financeiramente, o quando é difícil ser um tenista?

AW: O tênis é um esporte muito caro e tem muitos gastos. Dependendo de quantos torneios você joga por ano, isso custa algo entre U$ 80 e U$ 100 mil, com um técnico, todas as passagens de avião, hotéis, equipamento etc

BS: No ano passado, você recebeu wildcards para as rodadas de qualifying no Australian Open e em Roland Garros, e também em alguns outros torneios com uma ajuda da Tennis Canda. Qual a sua relação com eles? Você jogou 52 partidas representando a bandeira do Canadá na Fed Cup, além dos Jogos Olímpicos de 2012. Eu acho que eles seriam cruciais para ajudar sua retomada

AW: Eu não recebo apoio financeiro da Tennis Canada porque meu ranking não é alto o suficiente, mas é agora que eu preciso de ajuda e não no futuro, quando eu tiver em melhor posição. Eu joguei vários jogos da Fed Cup, até quando eu estava machucada e mesmo assim consegui vitórias. Eu amo jogar pelo meu país e amo jogar em equipe como na Fed Cup

Última participação de Wozniak na Fed Cup foi 2016, na vitória do Canadá contra Belarus (Foto: Mathieu Belanger/Getty Images)
Última participação de Wozniak na Fed Cup foi 2016, com uma vitória e uma derrota para o Canadá contra Belarus (Foto: Mathieu Belanger/Getty Images)

BS: Qual sua situação em relação ao circuito agora? Você está 100% fisicamente? Você tem algum calendário para o resto do ano?

AW: Eu não estou inscrita em nenhum torneio porque estou em busca de auxílio financeiro para que eu possa competir novamente

BS: Quais as diferenças de tratamento que você recebia quando estava normalmente no Top 100 e agora? Você tinha algum patrocinador para roupas, por exemplo? Eles te deixaram?

AW: Quando você está melhor rankeada e faz um bom dinheiro é quando todos querem ajudar e ser seu parceiro, mas nem todos querem está lá nos momentos mais difíceis. Eu tinha muitos patrocinadores quando estava no número 21 do ranking

BS: Ano passado você venceu dois torneios ITF 25k derrotando duas jovens jogadores nas finais. Como está o nível deste torneios atualmente? Ele tem crescido na última década?

AW: O tênis tem mudado nos últimos anos, está mais potente e mais físico que alguns anos atrás

BS: O que você pensa sobre o tênis canadense atualmente? Nós temos Denis Shapovalov brilhando na ATP, enquanto Genie Bouchard está com dificuldades, assim como outras tenistas jovens que estão com problemas para atingir seu potencial... Qual sua relação com esses jogadores jovens? Qual seria seu conselho para eles?

AW: Eu espero que o tênis canadense continue melhorando e que os jogadores recebam mais auxílio. É legal ver o quando sucesso os garotos canadenses estão conseguindo. Eu desejo esse mesmo sucesso para o lado feminino do tênis canadense