A temporada de tênis masculino de 2017 foi, sem dúvidas, protagonizada por apenas dois jogadores: Roger Federer e Rafael Nadal. Apesar de ambos estarem com mais de 30 anos – e, por isso, serem considerados veteranos –, a dupla conquistou aproximadamente 70% dos grandes torneios do ano, incluindo os quatro Grand Slams.

O feito mostra quão grandiosa é a rivalidade estabelecida entre os dois, e, para nós, espectadores, a tamanha sorte que temos em podermos assistir uma das maiores – senão a maior – rivalidade tenística de todos os tempos.

Foto: Getty Images
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Desde o início da Era Aberta do tênis, várias rivalidades destacaram-se ao longo das décadas. No tênis feminino, pode-se citar: Chris Evert-Martina Navratilova com 80 encontros, Steffi Graf-Gabriela Sabattini com 40 e Venus Williams-Serena Williams que ainda acontece atualmente. Já no circuito masculino, ficaram conhecidas: Ivan Lendl-John McEnroe, Boris Becker-Stefan Edberg, Andre Agassi-Pete Sampras, Novak Djokovic-Rafael Nadal e Novak Djokovic-Roger Federer.

Entretanto, dentre todas essas, poucas foram tão complexas e intensas quanto o "Fedal" – como é apelidada pelos fãs, Roger Federer-Rafael Nadal – e o antagonismo entre Björn Borg e John McEnroe. Essa última, inclusive, recentemente foi o foco do filme dirigido pelo dinamarquês Janus Metz e lançado em novembro no Brasil: "Borg vs. McEnroe". Comparando-se ambas, apesar de em épocas distintas, é possível notar grandes semelhanças. 

A começar pela caracterização que se criou: de um lado, um tenista já consolidado entre os melhores e, por isso, dominante e temido pelos demais - Borg no final dos anos 70 e Federer no início dos anos 2000. Do outro, um jovem desafiante, talentoso e que despontava como grande ameaça ao primeiro - McEnroe e Nadal.

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Na época, para a mídia, o sueco representava a calma, por não deixar transparecer suas emoções quando estava dentro das quadras, recebendo o apelido de "Iceborg". Já o norte-americano era o oposto: famoso por suas discussões e desrespeito com juízes e oponentes, era tido como rebelde. De maneira análoga, principalmente no início, Roger era considerado como mais equilibrado e sereno, ao passo que a imagem de Rafa era associada ao arrojo e à ousadia.

Entretanto, em relação ao estilo de jogo de cada um, as associações invertem-se: enquanto Federer e McEnroe buscavam mais a rede, de modo a encurtar os pontos, Nadal e Borg preferem o fundo de quadra, com longos rallys e maior demanda física.

Outra grande semelhança é que o auge de ambas rivalidades deu-se em Londres, no The All England Tennis Club, durante o torneio de Wimbledon. A primeira decisão de Major que McEnroe e Borg fizeram foi em Wimbledon 1980. O sueco era, então, o maior ganhador da história e reinava há quatro anos, conquistando o troféu desde 1976. Em uma final disputadíssima de cinco sets, Björn levou a melhor com 8/6 na última parcial. No ano seguinte, John daria o troco, vencendo Wimbledon pela primeira vez.

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Em 2006, era praticamente a mesma situação: Roger começava a fazer sua história na capital inglesa, com três títulos consecutivos. Naquele ano, seu adversário na final foi Rafa. Sem grandes dificuldades, o suíço ganhou em quatro sets. No ano seguinte, o confronto repetiu-se, com o Federer buscando igualar o recorde de Borg, por três sets a dois, o natural da Baselia levou a melhor na que foi uma das derrotas mais marcantes da carreira de Nadal, como revelado pelo espanhol em sua autobiografia, "Rafa: Minha História". Em 2008, assim como McEnroe, o nascido em Manacor levantou o troféu pela primeira vez, derrotando seu rival.

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Nas estatísticas, o número de encontros entre Federer e Nadal é superior ao de Borg e McEnroe, por conta da aposentadoria precoce do sueco, quando tinha apenas 27 anos: são 38 e 14, respectivamente.

Apesar de todo o antagonismo nas quadras, existiu uma amizade fora delas. Ainda hoje, Björn e John são amigos pessoais, assim como Roger e Rafa.

A existência de rivalidades como essas, mostram-se de extrema importância para o crescimento não só dos próprios envolvidos, como também do esporte, em geral. Esse é beneficiado não somente por conta o aumento do público interessado, mas também pela fonte de inspiração para as novas gerações. Com a criação dessas personagens que se tornam os rivais, a identificação transcende o tênis, podendo auxiliar no crescimento pessoal dos que as acompanham.

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