O ano de 2014 adivinhava-se difícil para a Red Bull. Depois de um domínio incontestado de 4 anos, as novas regras da F1 iriam baralhar as contas e não se sabia como iria ficar o xadrez do grande circo. A introdução dos motores 1.6L V6 foi uma mudança drástica, assim como as novas regras em relação à aerodinâmica. Praticamente todos os trunfos técnicos da Red Bull foram anulados com os novos regulamentos. Seria quase um recomeçar do zero para a equipa.

Do inferno ao céu em duas corridas

O início foi atribulado. O novo motor Renault deu muitos problemas a nível eléctrico e não apresentava a potência desejada. Seria esse o calcanhar de Aquiles do RB10 durante todo o ano. Ao nível aerodinâmico, Adrian Newey fez mais uma vez um carro fantástico. Se a Red Bull tivesse motores Mercedes a história do campeonato seria muito diferente.

Nos testes de inverno a equipa rodou muito pouco e os problemas foram uma constante. Ninguém apostava muito dinheiro na equipa para as primeiras rondas do campeonato. Dai o espanto quando na primeira corrida do ano a Red Bull conseguiu subir ao pódio, com Ricciardo a ser o homem do dia. Depois de um início penoso a equipa dava uma resposta espantosa. Mas foi sol de pouca dura uma vez que o pódio foi retirado por uma irregularidade técnica.

Mais surpreendidos ficaram quando na segunda corrida do ano, Vettel subia ao pódio e desta vez sem irregularidades a incomodar. A Red Bull mostrava uma força tremenda. Bastaram 3 corridas para um Red Bull voltar ao pódio, com Ricciardo a brilhar em Espanha, repetindo na corrida seguinte, no principado do Mónaco. O melhor estava guardado para o Canadá com Ricciardo a vencer a corrida e Vettel a ser 3º, aproveitando da melhor maneira a dupla desistência da Mercedes. A Áustria não sorriu aos Bull que, jogando em casa, tiveram um fim de semana difícil, mas que trataram de compensar no seguinte em Silverstone, com Ricciardo a voltar ao pódio. A Hungria seria palco de mais uma vitória de Ricciardo, depois de uma corrida louca. A primeira metade da época era fechada com “chave de ouro”. Para quem pensava que a Red Bull se iria arrastar pelas pistas, tantos pódios e 2 vitórias são a prova que nos Bull´s não se brinca.

A segunda metade trouxe mais uma vitória de Ricciardo em Spa e mais 4 pódios até ao final da época. O lugar de melhores a seguir à Mercedes começou a ser ameaçado pela Williams que fez uma segunda parte de campeonato muito forte, mas ainda assim não o suficiente para anular a vantagem conseguida pela Red Bull. Os Bulls perderam protagonismo pela subida de forma da Williams, mas os resultados continuaram a aparecer e tanto Ricciardo como Vettel foram presenças assíudas no top 5 de cada corrida.

Foram no total 13 pódios e 3 vitórias e 405 pontos conquistados, para uma equipa que começou 2014 de rastos. Só se pode avaliar 2014 como um ano positivo para a equipa. Com tanta dificuldade que tiveram de enfrentar, conseguir estes números e ficar em 2º lugar do campeonato de construtores com vantagem significativa é excelente. A Red Bull fez o que a Williams não fez. Aproveitar os erros da Mercedes e capitalizar sempre que isso acontecia. As estratégias foram muito bem pensadas, a gestão da equipa foi quase perfeita, o desempenho de Ricciardo foi espectacular e Vettel, embora sem o nível do passado, garantiu muitos pontos para a equipa.

A Red Bull é claramente uma estrutura vencedora, e a Renault falhou muito com o motor deste ano. Tanto que agora dará prioridade aos Bull´s no desenvolvimento dos motores. A equipa perdeu muitos engenheiros importantes no final de 2013 e pensava-se que a a estrutura se iria ressentir. Mas pelo contrário, a equipa mostrou que sabe dar a volta a situações difíceis e mesmo com baixas de vulto, soube sempre tirar o melhor partido do que tinha à disposição. Se a Renault conseguir melhorar a unidade motriz… a Mercedes que se cuide.

Daniel Ricciardo: a revelação do ano

A saída de Webber abriu lhe a vaga para a equipa principal. O Sonho de correr por uma equipa que luta por títulos tornou-se realidade. Muitos acharam que iria ser o “fiel escudeiro” de Vettel e que dificilmente seria mais do que um 2º piloto. Foi bem mais do que isso. Foi simplesmente o melhor piloto “não Mercedes” do ano e claramente a revelação de 2014. Foi o piloto que mais brilhou em pista. Foi o único a fazer frente aos Mercedes e a vencer. Foi inteligente em pista, atacou quando tinha de atacar, soube gerir os ritmos de corrida e os pneus e fez ultrapassagens que foram um regalo para os olhos. Não se pode tirar o mérito do domínio dos pilotos Mercedes, mas quase que dá vontade de entregar o prémio de melhor piloto do ano ao australiano. Surpreendeu e contagiou todos com o seu sorriso e as suas prestações. Agora vem a prova dos 9. Mostrar em 2015 que os desempenhos desta época não foram um acaso e que tem de facto a qualidade que todos agora lhe reconhecem.

Sebastian Vettel: uma despedida amarga

O tetra campeão do mundo não esperava por um ano tão difícil. Deu se muito mal com o novo carro e com as suas novas “manias”. Depois de 3 anos com um carro feito à sua medida, Vettel enfrentou um animal completamente diferente. O próprio admitiu a certa altura que teria de mudar o seu estilo de condução. Mas o alemão nunca se adaptou completamente ao carro e foi engolido pelo sorriso de Ricciardo. Ouviu pela primeira vez a ordem para deixar passar o colega de equipa e não teve argumentos responder. Para quem se habituou a ver o alemão dominar foi estranho. Não se mostrou nem em qualificação nem em corrida, onde se viu que tem algumas dificuldades em lidar com o “trânsito”. Ainda assim,proporcionou lutas espectaculares com Alonso. Vettel venceu tudo o que havia para vencer na Red Bull. Mas mesmo assim nunca foi visto como um dos melhores pela generalidade dos fãs, pois as suas vitórias sempre foram muito associadas ao poderio dos seus carros. E isso sempre pesou na cabeça de Vettel. Seb precisava de mudar de ares. De um novo desafio onde pudesse provar a sua valia. E tratou disso, aceitando o convite da Ferrari. Agora terá um desafio completamente diferente. Terá de ser ele a puxar pela equipa e fazer com que ela cresça. É um desafio arriscado mas o alemão não teve medo de o aceitar, seguindo os passos do seu grande idolo, Schumacher. Para trás fica um legado enorme, com sucesso e domínio como nunca se viu. A história de Vettel ficará para sempre ligada à Red Bull.

O futuro da Red Bull

O futuro da equipa está agora nas mãos de Ricciardo e Kvyat. Uma aposta arriscada pois, se Ricciardo já mostrou o que vale, o russo tem tudo para provar ainda. E na Red Bull a pressão é muito maior. Há muita gente a duvidar que o russo esteja em condições de dar conta do recado. Mas o maior problema da Red Bull é o motor. Enquanto os regulamentos não forem mudados, e o desenvolvimento dos motores não for autorizado, todas as equipas que não tenham motores Mercedes terão uma desvantagem grande. E a Red Bull sabe que sem um motor potente e fiável, não poderá desafiar a Mercedes. Os próximos meses serão cruciais.

Há ainda a saida progressiva de Newey da equipa, também ele em busca de novos desafios. Sabe se que o sucesso da equipa se deve ao seu génio e a sua saida implicará uma perda significativa. Ainda não é para agora, pois o carro de 2015 ainda será "filho" do genial projectista. Mas a Red Bull tem de começar a ver o futuro sem Newey... ou arranjar forma de o manter mais uns anos.

No entanto ficou provado este ano que, mesmo perante grandes dificuldades, se pode contar sempre com a Red Bull na luta. Com a saída de Vettel acabou uma era. Conseguirá a Red Bull voltar a vencer? Pelo que vimos este ano, tudo indica que sim.