A Comissão nomeada pela FIA para investigar as causas do acidente de Jules Bianchi no GP do Japão imputa responsabilidades a uma incompatibilidade entre o brake-by-wire dos Marussia e o sistema de segurança fail-safe que equipa os F1.

Brake-by-wire terá impedido acção do fail-safe

Para a Comissão, que continha nomes de peso como Stefano Domenicali, Ross Brawn e Emerson Fittipaldi, a falha na activação do sistema fail-safe poderá ter influído de forma crucial sobre o desfecho do acidente, que deixou Bianchi em estado crítico e ainda internado, inconsciente, dois meses após o sucedido.

O fail-safe é um sistema de segurança que equipa todos os monolugares F1, e que pode ser activado pelos pilotos em caso de perigo. Segundo o relatório produzido pela referida comissão e apresentado ontem no Conselho Mundial para o Desporto Motorizado no Qatar, já com o carro em despiste, Jules Bianchi terá pressionado o acelerador e travão em simultâneo, para activar o sistema fail-safe. Contudo, "o algoritmo fail-safe, desenhado para anular o acelerador e desligar o motor, foi impedido de actuar pelo coordenador de binário que controla o sistema brake-by-wire."

A Comissão destaca o facto do Marussia de Bianchi ter um "design único de brake-by-wire, que se demonstrou incompatível com as configurações do fail-safe." De acordo com o relatório, e apesar dos membros da Comissão ressalvarem "não ter sido possível quantificar com fiabilidade" como é que uma redução de velocidade poderia ter influenciado o resultado do embate, a falha do sistema fail-safe poderá ter tido um papel decisivo no acidente.

No relatório pode ainda ler-se que o próprio Jules Bianchi poderá ter "sido distraído pelos acontecimentos e, com o bloquear das suas rodas dianteiras, ter sido impedido de desviar o carro da grua". A Comissão aponta alguma falta de precaução de Bianchi, considerando que o piloto "não abrandou o suficiente para evitar a perda de controlo do monolugar na mesma zona da pista que Sutil."

Direcção de corrida e procedimentos considerados correctos

A decisão de Charlie Whiting, director de corrida, em não chamar à pista o safety-car foi também considerada correcta pela Comissão. Para os membros do painel, as acções tomadas após o acidente de Sutil foram "consistentes com os regulamentos e com a sua interpretação dos 384 acidentes nos oito anos precedentes. Sem os benefícios do conhecimento à posteriori, não há razão aparente que justifique a entrada em pista do safety-car antes ou depois do acidente de Sutil."

A Comissão revela ainda considerar muito eficaz a pronta resposta das equipas de salvamento, frisando que a rapidez da sua intervenção terá sido decisiva no salvar da vida do piloto.

Impossível evitar lesões de Bianchi

"Há simplesmente estrutura de impacto insuficiente num F1 para absorver a energia de tal impacto sem destruir a célula de sobrevivência do piloto ou sem gerar desacelerações letais."

Considerando que não houve falha na colocação da grua que removia o Sauber acidentado de Adrian Sutil, a Comissão é peremptória quanto à impossibilidade de evitar as lesões de Bianchi num acidente com as características verificadas. "Não é viável que para atenuar as lesões sofridas por Bianchi se feche o cockpit ou se coloquem saias à grua. Nenhuma abordagem é prática devido às enormes forças envolvidas num acidente de um carro de 700kg embatendo numa grua de 6.500kg à velocidade de 126km/h."

Muito embora não aponte qualquer alternativa sobre o posicionamento das gruas, o seu tempo ou forma de entrada em pista, nem mesmo sobre meios alternativos para a remoção dos monolugares acidentados, afirma a Comissão que "é considerado fundamentalmente errado tentar que se sobreviva a um impacto entre um carro de corridas e um veículo pesado. É imperativo prevenir que um carro atinja a grua ou os comissários a trabalhrem próximos dela."

VAVEL Logo