Desde 1968 que o Grande Prémio de Espanha era alternado entre os circuitos de Jarama, nos arredores de Madrid, e de Montjuïc, montado no parque situado no centro da cidade de Barcelona. Em anos ímpares, a corrida acontecia em paragens catalãs, num circuito veloz, mas com alguns elementos mais perigosos. E em 1975, as coisas tinham-se complicado... para pior.

As coisas começaram quando Emerson Fittipaldi decidiu inspecionar a pista para ver as condições de colocação dos guard-rails. Ao descobrir, algo chocado, que estes não estavam devidamente apertados e colocados, informou os restantes pilotos e organização para o que se passava. Fittipaldi, então membro da GPDA (Grand Prix Drivers Association) decidiu elaborar um protesto acerca das condições da pista, e os pilotos não sairam para a pista durante os treinos.


Os dirigentes e comissários de pista não ficaram contentes com o que se passava e ameaçaram retaliar com a Guardia Civil, retendo os carros em Espanha até que fossem indemenizados por isso. Enquanto as conversações continuavam, os comissários e demais trabalhadores faziam as devidas reparações, com as equipas até a fornecerem alguns dos seus mecânicos para ajudar. Até pessoas como Ken Tyrrell - fundador da equipa homónima - ajudaram a apertar os guard-rails no traçado catalão.

Com alguns pilotos a treinar na mesma - o mais notório fura-greves foi Jacky Ickx - a qualificação terminou com os Ferrari a marcarem o melhor tempo, Niki Lauda na frente de Clay Regazzoni. James Hunt era o terceiro, no seu Hesketh, seguido pelo Parnelli de Mário Andretti. O italiano Vittorio Brambilla era o quinto, seguido pelo Surtees de John Watson, o Tyrrell de Patrick Depailler e o Shadow de Tom Pryce. A fechar o "top ten" estavam o Hill de Rolf Stommelen e o segundo Shadow de Jean-Pierre Jarier.

Alguns pilotos mantiveram o boicote, como Fittipaldi, que decidiu fazer uma volta lenta para marcar tempo. Iria largar do último lugar da grelha.

O filme da corrida

Como um mal nunca vem só, as confusões começaram logo nos primeiros metros. Começou quando Brambilla e Andretti se envolveram numa confusão e o piloto da Parnelli tocou na traseira do Ferrari de Lauda, que por sua vez tocou no seu companheiro de equipa. Lauda abandonou de imediato, enquanto que Regazzoni dava a volta ao circuito para reparar os estragos no seu carro com uma precoce reentrada nas boxes. Atrás, Depailler passou por cima de peças soltas do Ferrari e danificou o seu monolugar, acabando por se retirar.

Atrás, houve mais três abandonos, desta vez voluntários: o McLaren de Emerson Fittipaldi e o Copersucar do seu irmão Wilson Fittipaldi. Arturo Merzário também abandonava de modo voluntário, em protesto contra as condições da pista e a realização da corrida.

No meio da confusão, o lider era agora Hunt, no seu Hesketh, seguido por Andretti, Watson, Stommelen, Brambilla e o Brabham de José Carlos Pace. Na quarta volta, o motor do Tyrrell de Jody Scheckter explode e o óleo deixado na pista faz despistar mais dois carros: o Penske de Mark Donohue e o segundo Hesketh, conduzido por Alan Jones. Na frente, Andretti segura a concorrência, mas não por muito mais tempo: a suspensão partir-se-ia na sétima volta e o piloto seria forçado a abandonar.

Assim sendo, a liderança pertencia então a Stommelen, pois Watson, devido a problemas mecânicos no seu Surtees, perdia tempo para a frente. Pace era o segundo, mas aproximava-se do alemão para o poder passar. Peterson era o terceiro, e parecia que as coisas estavam a estabilizar-se na corrida.

Contudo, na volta 24, aconteceu o que mais se temia. A asa traseira do carro de Stommelen cede e o piloto perde o controlo, embatendo fortemente no rail. A força do impacto foi tal que o monolugar ricocheteou para o outro lado da pista, ainda com força suficiente para saltar fora das barreiras de segurança e atingir um grupo de pessoas. No final, cinco delas, incluindo dois fotógrafos e um comissário de pista, tinham perdido a vida. Ironicamente, aquele local tinha sido montado horas antes pelos mecânicos da Hill. No acidente, Pace também foi atingido, mas não sofreu ferimentos. Stommelen ficou pior: uma perna e um pulso partidos, e mais duas vertebras fraturadas, fizeram com que o piloto alemão fosse transportado para o hospital.

Incrivelmente, a prova continuou por mais quatro voltas. Pelo meio, Ickx tinha ficado com a liderança, mas tinha sido passado por Jochen Mass, noutro McLaren. Por fim, os comissários pararam a corrida na volta 29, declarando Mass como vencedor, mas recebendo apenas metade dos pontos. Ickx foi o segundo, com Carlos Reutemann em terceiro, enquanto que nos restantes lugares pontuáveis ficaram o Shadow de Jarier e os March conduzidos por Brambilla e Lella Lombardi, a primeira (e até agora única mulher) a pontuar na Fórmula 1.

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