Em Turim, a Juventus arrasou o Barcelona por 3-0 mas este resultado está longe de ter sido fruto do acaso. O inicio de jogo estrategicamente pressionante, os golos fulminantes, o recuo aparente seguido de contra ataques e o bloqueio quase total dos astros do Barcelona, tudo isto coloca a Juve a um nível técnico e táctico superior ao da maioria das equipas do velho continente. 

Juventus entrou a matar

O pesadelo do Barcelona sentiu-se logo na constituição do 11 inicial, principalmente com a inclusão de Mathieu e Sergi Roberto como falsos laterais, opções que retiraram profundidade ao ataque dos espanhóis e que favoreceram os velozes Dybala e Cuadrado. A ausência forçada de Busquets obrigou Luis Henrique a apostar em Mascherano no miolo mas a opção revelou-se um pouco falhada na medida em que o argentino joga maioritariamente a central e não apresentou rotinas na habitual dinâmica com Rakitic e Iniesta. A Juventus por seu lado montou uma estratégia muito perto da perfeição que consistia num inicio forte, agressivo e com trocas de posição constantes. 

O miolo composto por Khedira, Pjanic e Dybala juntamente aos flanqueadores Mandzukic e Cuadrado construiu um verdadeiro conjunto que abafou a primeira fase de construção do Barça por completo. Na fase inicial nem Rakitic nem Iniesta nem mesmo Messi sentiram sequer a bola estrelada. O conjunto italiano subiu as linhas, pensou rapidamente o jogo e procurou a vantagem sem vacilar, até que Dybala inaugurou o score num lance que espelha a falta de organização dos catalães que deixaram o craque da Juve solto mesmo tendo 8 jogadores na área para evitar o tento. A velocidade de processos de Pjanic e a velocidade técnica de Cuadrado deixaram Mathieu e companhia sem reacção e claro, Dybala soube sempre como furar até festejar.

Baixar linhas para ferir no contra ataque

O tento inaugural levou a Juve a passar à segunda fase do plano: baixar estrategicamente as linhas para matar o Barcelona na contra ofensiva. Nesta fase Rbkitic e Iniesta tiveram um pouco mais de liberdade para tentarem transportar jogo até aos famoso MSN mas a Juve aplicou um método eficaz de pressão com um bloco mais baixo, o que retirou margem para Messi e Iniesta penetrarem no muro italiano. A falta de laterais fez-se sentir neste período em que era necessário encontrar buracos e lacunas mas nem Roberto nem Mathieu o conseguiram fazer. 

A habitual troca de bola do Barça foi quase inútil e a Juve não hesitou em partir para contra golpes de cortar a respiração, tendo emergido um dos melhores em campo, o ex-portista Alex Sandro que defendeu e atacou com a mesma segurança e eficácia. Foram inúmeras as incursões do brasileiro que desequilibraram o Barça e foi sem espanto que a Juve ampliou a vantagem sem pedir licença aos astros do país vizinho. O argentino Dybala gelou ainda mais as intenções da equipa espanhola e nem mesmo Messi teve engenho para pouco depois aproveitar uma das raras distrações dos italianos. 

Para o segundo tempo, Luis Henrique lançou o mal amado André Gomes e foi curiosamente através do poderio técnico do jogador luso que o Barça revelou maior criatividade e tranquilidade nas trocas de bola. Os espanhóis entraram forte e encostaram a Juve para o seu reduto cerca de 15 minutos, nesta que foi a melhor fase dos catalães em todo o jogo. As bolas chegaram facilmente a Messi e Suarez mas a falta de inspiração dos craques e a qualidade inegável de Bonucci e Chiellini impediram o Barça de incomodar verdadeiramente Buffon. O 2-0 insistia em manter-se até que a Juventus preparou o ataque final ao adversário...

Surpreender voltando ao plano inicial

A vantagem de duas bolas que a Juve construiu poderia servir caso os italianos fossem totalmente fiéis às tradicionais equipas do país. Na prática a Juve foi uma equipa fria e calculista na forma como fez o segundo tento mas o primeiro e o terceiro surgiram em fases em que a Juve esteve totalmente focada no ataque, com garra, pressão alta e muita criatividade. O terceiro golo surgiu num período em que o Barcelona percebeu que o pesadelo de Paris voltaria e o que é que a Juve fez? Voltou a subir as linhas e a massacrar o Barça tendo conquistado o canto que provavelmente matou o Barcelona. 

O central Chiellini voou e furou as redes pela terceira vez fechando uma noite de pura lição técnica e táctica do futebol moderno. Não basta ter posse e talento é também preciso adaptar o jogo às diversas fases que um duelo tem. A Juventus é hoje provavelmente a melhor equipa a equilibrar o ataque e a defesa em todo o mundo. Equipas como o Barcelona, o Real ou o Bayern atacam de forma desorganizada e vivem muito das incríveis estrelas que disfarçam muitas vezes a falta de rigor no sector recuado. A Juventus mostrou nesta primeira mão que é fria e defensiva quando tem de o ser mas mostrou que pode aliar essa postura a uma equipa que procura mais do que o conforto de um 2-0, com a certeza de que é sempre possível festejar mais no momento certo.