Estão finalmente encontrados os dois finalistas do Euro 2016, ou, na perspectiva lusa, o adversário de Portugal no jogo decisivo. O desafio que será o mais importante da História do futebol nacional, por colocar a Selecção Nacional perante uma oportunidade de alcançar uma inédita conquista internacional - a França, um adversário que, para além do poderio em campo, também conta com compatriotas, utilizando a imprensa como forma de promover o que apelidam de estilo 'dégueulasse’, como quem diz nojento em português.

Curiosamente, se ao futebol resultadista, pouco espectacular e pouco goleador de Portugal boa parte dos franceses apelida de inaceitável… curiosamente, a selecção da casa também não fez muito diferente na maior parte dos desafios que realizou neste Euro. De qualquer forma, esta França finalista deve ser respeitada ao máximo, em especial por ser detentora de um plantel completamente merecedor de se encontrar nesta fase.

Bastará olhar a um sector como o meio-campo, que apresenta jogadores de grande capacidade técnica, como Yohan Cabaye, enquanto futebolistas pouco utilizados, para que se perceba a verdadeira dimensão deste conjunto gaulês que, embora já não possua craques da dimensão técnica de Zinedine Zidane, ou da imbatível velocidade de Thierry Henry, se mantém como uma forte ameaça a temer.

A França tem um meio-campo recheado de talentos, que se dá ao luxo de ter tecnicistas como
A França tem um meio-campo recheado de talentos, que se dá ao luxo de ter tecnicistas como Cabaye no banco

Contudo, uma análise sem contornos emocionais produzirá a constatação de que o percurso invicto de França é um tanto ou quanto enganador, e baseado em várias vitórias e empates alcançados em esforço. Senão vejamos: vitória inaugural ante a Roménia com um golo alcançado já nos instantes finais, punindo o bom esforço da equipa visitante; triunfo sobre a Albânia quando se registava um nulo ao minuto 90; e um empate com a Suíça que poderia muito bem ter sido uma derrota. Contas feitas, uma fase de grupos bem mais trabalhosa do que os 7 pontos conquistados podem fazer parecer.

Falta de um verdadeiro 6 pode ser problema, mas dupla Matuidi/Pogba tem estado a alto nível

Foi a partir da segunda fase a eliminar que a França se tornou perigosa, apresentando um futebol de contágio positivo que envolve a subida dos dois laterais, Bakary Sagna e Patrice Evra, na maior parte das ocasiões dos dois médios, Paul Pogba e Blaise Matuidi, e dos extremos, Dmitri Payet e Moussa Sissoko, dando origem a uma pressão difícil de suster e à qual Portugal terá de ter em muita atenção… especialmente pelo facto de na frente existir Antoine Griezmann, talentoso e criativo atacante que se encontra em claro ‘estado de graça’.

Griezmann é a estrela da seleção francesa // Foto: dailytimes.ng
Griezmann é a estrela da seleção francesa // Foto: dailytimes.ng

Da mesma forma, Portugal poderá explorar um eixo defensivo que em breve atravessará uma renovação, e receber também várias promessas que vêm surgindo nos seus escalões mais jovens. É o exemplo da posição 6, que não estranharia a entrada de um novo ocupante logo após esta competição. Tal não acontecerá, certamente, nesta final, na qual os titulares Laurent Koscielny e o jovem Samuel Umtit formarão a dupla de centrais.

O eixo defensivo francês poderá sentir dificuldades perante a movimentação de Cristiano Ronaldo e Nani, e assim vir a cometer faltas penalizadoras; no entanto, demonstrou total acerto frente à poderosa Alemanha, o que deixa claro o bom momento de ambos os centrais, evidenciando também como o ‘duplo pivot’ Matuidi-Pogba possui valor para dar completamente conta do recado, como de resto o têm feito - dois colossos físicos capazes de transportar jogo tornam muitas vezes desnecessária a presença de um ‘trinco', na verdadeira acepção da palavra.

Depois de se terem defrontado por duas vezes na preparação, este duelo luso-gaulês não poderia ser mais a sério

Nos oitavos e quartos-de-final foi mais evidente o conforto francês na hora de atingir o apuramento. Ainda assim, logo no desafio relativo aos ‘oitavos’, os Les Bleus ainda sofreram um valente susto, ao ter entrado para a 2ª parte em desvantagem perante a bem menos favorita República da Irlanda. Acaba por ser curiosa a forma cínica com que a França derrotou o rival de longa data, num estilo que nos dias anteriores tanto a crítica gaulesa procurou atribuir a Portugal.

Foi frente à República da Irlanda que a França celebrou a passagem aos quartos-de-final // Foto: theguardian.com
Foi frente à República da Irlanda que a França celebrou a passagem aos quartos-de-final // Foto: theguardian.com

Uma vitória ao jeito, diriam muitos franceses,  ‘dégueulasse’, que originou uma final entre duas selecções que ainda há poucos meses se preparavam para esta prova. Aqui estas duas seleções defrontaram-se entre si em dois confrontos particulares disputados durante a fase de apuramento para a competição, permitindo aos organizadores do Euro ultimarem pormenores como pretendiam e à nossa Selecção deixar para trás Albânia e Dinamarca.

Verdadeiros pontos fracos, esta França não possui. Todavia, pode encontrar-se uma debilidade momentânea relativa à ‘pólvora seca’ demonstrada pelo ponta-de-lança Olivier Giroud na meia-final, que poderá, em último caso, colocar a sua titularidade em risco, em prol do que seria um surpreendente lançamento de André-Pierre Gignac na frente ofensiva na final.

Giroud não teve nos seus melhores dias na meia-final, mas tem tido uma boa prestação no Euro
Giroud não teve nos seus melhores dias na meia-final, mas tem tido uma boa prestação no Euro

Não deve, porém, ser esquecido o passado recente de Giroud, que possui dois golos marcados e três assistências neste Euro e marcou 10 golos nas suas últimas 12 internacionalizações… Em suma: um rival teoricamente ao nível do momento histórico que Portugal viverá este Domingo.