Um mês e mais de cinquenta jogos depois, eis que chegamos à final do campeonato da europa. Vinte e quatro selecções arrancaram a competição, apenas duas permanecem: a anfitriã França e os mal-amados portugueses. Pelo caminho ficaram campeões do mundo, e ainda o actual campeão europeu; lágrimas, sorrisos e toneladas de emoção num campeonato com novo formato e mais equipas.

Irredutíveis gauleses

Decidida a repetir o êxito de 1984, os franceses arrancaram para este europeu com todo um país em apoio massivo. Contudo, e apesar de todo o potencial e favoritismo francês no seu grupo (Roménia, Suiça e Albânia), a verdade é que os bleus demoraram a impressionar. Tudo começou no jogo inaugural deste europeu. Em Saint-Denis, apenas um golo de Payet ao minuto 89 conseguiu dar a vitória aos gauleses por 2-1. Nova dose de sofrimento surgiu na partida seguinte; diante da estreante Albânia, os dois golos do triunfo francês chegaram apenas no período de descontos. Os triunfos acabavam por abafar as fracas exibições dos anfitriões, sendo assim praticamente indiferente o empate a zero na última jornada da fase de grupos diante da Suiça, numa partida onde a França já tinha a qualificação assegurada.

A transformação francesa ocorreu com a chegada dos oitavos de final. Depois de toda uma fase de grupos a jogar num 4-3-3, Deschamps passou para o 4-2-3-1, passando Griezmann para as costas do ponta-de-lança Giroud. Os frutos fizeram-se sentir imediatamente. Diante da Irlanda, os franceses entraram com o pé esquerdo, vendo-se a perder desde o minuto 2. Todavia a reacção gaulesa surgiu já na segunda parte, com Griezmann, totalmente endiabrado, a virar o resultado no espaço de três minutos.

Chegado aos quartos de final, a França encontrou a sensação Islândia, equipa caracterizada pela sua solidez defensiva e espírito colectivo. Apesar disso, os gauleses não tiveram qualquer problema diante dos nórdicos, chegando ao intervalo a vencer por 4-0, fruto de uma dinâmica ofensiva avassaladora, assim como uma pressão sufocante sobre o adversário. Assim, e certamente com mais facilidade do que esperariam, os bleus alcançavam as meias-finais.

Aí a situação era bem diferente. Entre a França e a final de Saint-Denis estava a poderosíssima Alemanha, actual campeã do mundo. Assumindo uma posição diferente da habitual, a França entregou a iniciativa de jogo ao adversário, conseguindo, todavia, aproveitar dois graves erros dos germânicos para fazer dois golos e marcar presença na final do Stade de France.

Alma Lusitana

O caminho português tem sido uma rampa ascendente, repleta de emoção e sofrimento gradual. Colocada no grupo F, juntamente com Áustria, Hungria e Islândia, esperaria-se vida facilitada para a equipa das quinas na fase de grupos, tal não aconteceu. A estreia lusa deu-se diante da Islândia, equipa que se estreava nos europeus. O golo de Nani na primeira parte prometiam um triunfo tranquilo, contudo, os nórdicos não baixaram os braços e alcançaram o empate no segundo tempo, arrancando assim um ponto no seu jogo inaugural.

Esperava-se uma resposta cabal da equipa das quinas diante da Áustria; o jogo no Parque dos Príncipes foi um festival de desperdício, onde nem Cristiano Ronaldo escapou ao falhar uma grande penalidade. Assim, e com a calculadora na mão, Portugal enfrentou a Hungria no último jogo. Naquele que é considerado um dos melhores jogos do europeu, Portugal e Hungria empataram a três golos, sendo atirado para o terceiro lugar do grupo.

Para os oitavos de final, diante da Croácia, Fernando Santos fez algumas alterações no onze, fazendo entrar Adrien, lançando ainda Renato Sanches com mais frequência. Diante dos croatas e após 90 minutos muito monótonos, o jogo foi resolvido bem perto do final do prolongamento, devido a um golo oportuno de Ricardo Quaresma. Em Marselha esperava a Polónia para os quartos de final. Os polacos entraram a ganhar logo aos dois minutos, por Lewandowski, mas Renato Sanches não tardou a empatar. Com novo empate, o jogo ficou resolvido nas grandes penalidades, aí brilhou Rui Patrício. Nas meias-finais os portugueses defrontaram o País de Gales; aí a selecção nacional não se ficou pelos prolongamentos e venceu por 2-0, graças aos golos de Ronaldo e Nani, colocando Portugal na final do europeu, 14 anos depois.

Contas a ajustar com a besta negra

O registo de Portugal diante da França é tudo menos positivo. Em 24 embates, os gauleses somam 18 triunfos, contra apenas cinco de Portugal, o último dos quais em 1975(!). De entre as derrotas mais mediáticas, saltam à vista as das meias-finais dos europeus de 1984 e 2000, e ainda do mundial de 2006.

Conhecer o adversário

Na antevisão da final deste Domingo, Didier Deschamps mostrou-se profundo conhecedor da equipa de Portugal. O seleccionador francês elogia o sistema de jogo luso assim como a sua eficácia defensiva.

«É uma equipa que tem muita experiência, muito bem organizada, sabe alterar o seu jogo em função do adversário, tem defesa muito sólida, com Pepe, Fonte, William Carvalho, tem também Raphael Guerreiro, que joga aqui em França, Cedric; ambos fazem muitos cruzamentos, e depois na frente Ronaldo e Nani. É uma equipa que não sobe muito no terreno mas parte rápido para contra-ataque. Não estou a dizer que só defende, mas defende muito bem.
É normal que achem que podem ser campeões europeus.».

Continuar a ganhar

Do lado português, Fernando Santos responde às críticas da imprensa internacional com boa-disposição. O seleccionador nacional quer que as mesmas críticas continuem.

«O que quero é que continuem a dizer a mesma coisa. Que Portugal ganhou sem merecer, isso é que eu gostava, era um espectáculo! Ia todo contente para casa, e vou!.».

Quanto áqueles que defendem que haveriam melhores selecções que mereciam estar na final, Fernando Santos mantém o mesmo registo.

«Não é? Então qual era a melhor? Não percebo. Uma coisa é pensar, outra é verdade. Portugal só pode estar na final porque ganhou as outras finais. É a final do Euro'2016 e aquela que realmente merecia ser.».

Onzes sem surpresas

Para a final deste domingo não são esperadas grandes surpresas nos dois onzes. Fernando Santos e Deschamps deverão manter as mesmas equipas que os trouxeram até ao jogo decisivo deste europeu.

Quando forem 20h em Portugal, o árbitro inglês Mark Clattenburg dará início à final do Campeonato da Europa.

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