«Se houver saídas, as entradas serão da equipa B, com excepção a duas posições, por não termos alternativas: ponta de lança e defesa esquerdo. Tudo será da nossa casa. Isto também é uma homenagem ao Eusébio porque ele criticava o facto de não termos jogadores portugueses». Com estas palavras, pela enésima vez, Luís Filipe Vieira voltou a mentir aos benfiquistas quando lhes prometeu um clube mais formador e de cariz nacional.

O campeonato ainda não arrancou mas a pré época já está a todo gás e mais uma vez a ideia que fica é que o Benfica festejou tantos os títulos conquistados que se esqueceu de preparar a nova temporada. O FCP practicamente já fechou o plantel e supriu as lacunas da época passada com diversas contratações de enorme qualidade. Em Alvalade mesmo sem grandes condições financeiras, o Sporting fortaleceu o grupo e anda inevitavelmente ao sabor do mercado, enquanto espera para poder atacar as suas maiores fragilidades: extremos desequilibrantes.

O Benfica, que já não contava com André Gomes e Rodrigo, tinha alertado a comunicação social que em termos de contratações só as posições de lateral esquerdo e ponta de lança o levariam ao mercado. As outras saídas seriam colmatadas com jovens da equipa B. Entretanto o mercado abriu e sem se perceber bem porquê já aterraram na Luz vários jogadores sem um estatuto que lhes conceda a titularidade e a maioria com valor algo distante daqueles que partiram.

Na ausência do 6/8 André Gomes, Jorge Jesus recebeu o 8/10 Talisca. Um elemento que pode ser útil mas de características distintas. A saída do decisivo Rodrigo deu lugar à entrada de Derley, um avançado posicional, que tem qualidade mas está longe do nível do hispano-brasileiro. Talvez o ex-Marítimo esteja mais talhado para substituir Óscar Cardozo…Sem ter ainda as duas saídas iniciais acauteladas, os encarnados têm sofrido com muitas partidas: Garay foi dos primeiros a abandonar a Luz por míseros 6 milhões de euros, quando os encarnados tinham apenas metade do passe.

 - Primeiro venderam a preço de saldo Ezequiel Garay – um dos destaques do último Mundial sair a 6 milhões quando só se tem metade do passe, não é uma venda, trata-se de um brinde. Para o seu lugar regressou Lisandro Lopez, foi contratado César e até Sidnei tem sido observado. Todos ainda estão longe da valia de Garay – não seria de espantar que o Benfica ainda fosse ao mercado;

- Na esquerda Siqueira tinha resolvido um problema antigo que a sua saída reabriu. Benito e Djavan foram as opções encarnadas. O primeiro tem aparecido aos poucos e o segundo já comprou bilhete para Braga, graças à chegada de Eliseu. O amor antigo de Jesus chega finalmente ao Benfica com anos e quilos a mais, por um milhão e meio de euros quando há dois meses poderia ter assinado a custo zero. O que mostra bem o desnorte e a desorganização deste defeso do campeão nacional;

- À segunda tentativa Oblak finalmente conseguiu fugir. O anúncio oficial fala em pagamento da cláusula de rescisão o que obrigaria o Atlético de Madrid a transferir para os cofres da Luz 16 milhões de euros a pronto. Dificilmente isso vai ocorrer e o valor a receber será inferior ao combinado, de qualquer forma deve permitir ao Benfica encerrar o dossiê 6/8 com Guilavogui e resolver o problema na lateral esquerda com Sílvio. Veremos se o argentino Romero chega a Lisboa, seria uma opção interessante;

- Markovic abandonou o barco e chegaram Bebé e Candeias. O primeiro num negócio em que é avaliado em 6 milhões de euros (vale o mesmo que Garay?) – custou 3 milhões por metade do passe quando estava a um ano do final de contrato – e o segundo a custo zero. Podem ser úteis mas estão anos-luz do prodígio sérvio. Veremos se os regressados Ola John e Pizzi terão capacidade e vontade de se impor. Qualquer um deles já demonstrou mais qualidade que Candeias ou Bébé. Bernardo Silva, talvez o maior talento do Benfica desde Rui Costa não pode continuar a ser ignorado. Muito menos sem Djuricic. O sérvio depois de uma época de adaptação foi estranhamente afastado e mesmo assim Bernardo vai sendo esquecido por JJ.

No meio de toda esta debandada três coisas vêm ao de cima: a situação financeira do Benfica é tão preocupante quanto a dos rivais; Vieira preocupou-se tanto em segurar Jesus que se esqueceu das promessas e voltou a contratar por contratar; após mais um troféu de campeão a direcção encarnada rendeu-se à euforia e acabou por negligenciar, novamente, a preparação da defesa do título.

Dificilmente os encarnados terão um plantel tão espectacular e dispendioso como o do ano passado, mas mantendo Enzo e Gaitán e contratando um trinco de qualidade ainda partem na «pole position». Mantiveram o mesmo treinador (os rivais não), têm um grupo maduro (Luisão, Lima, Maxi, Enzo) e individualidades como Salvio e Gaitán que na nossa liga fazem totalmente a diferença. Nota-se uma fé excessiva de Vieira na metodologia de JJ, mas como o treinador já realçou, não basta trabalho é preciso qualidade. Veremos se o presidente depois deste atribulado defeso vai novamente render-se aos pedidos de Jesus.