Rui vitória continua o seu trabalho sensacional em Guimarães. Depois de novo assédio aos seus maiores valores, o técnico ribatejano voltou a construir uma equipa sólida, competitiva e muito agressiva em todos os momentos de jogo, que tem surpreendido toda a gente, especialmente desde o passado fim de semana, em que os Vitorianos aplicaram um 3-0 categórico ao Sporting.

Poder de regeneração e matriz de jogo definida

Rui vitória já mostrou ser capaz de fazer grandes omeletes com poucos ovos. Sob o seu comando, o VSC mais restringido em termos financeiros dos últimos anos já foi capaz de formar grandes equipas, chegando inclusivamente à vitoria na taça de Portugal em 2013, dando à sua fiel massa associativa um título que há muito escapava.

Fazer o melhor uso da Equipa B

Mas afinal qual é o segredo dos minhotos? Interacção entre a equipa principal e a equipa B. É curioso olhar para o onze do Vitória e perceber que muitos dos habituais titulares passaram pela formação secundária, crescendo competitivamente e sendo moldados ao estilo de jogo do Vitória e às necessidades da equipa principal. O trabalho do vitória apoia-se muito na prospecção de jovens talentosos de outras equipas e no seu desenvolvimento com o cunho de Rui Vitória.

Bernard, Josué e Hernâni são três exemplos de atletas que evoluiram na equipa B, um espaço sem muita pressão (até porque o Vitória B militava no campeonato nacional de seniores na época passada), onde podiam errar e aprender com o erro sem comprometer as aspirações da equipa principal e onde enfrentavam adversários duros em campos complicados,que ultimamente lhes permitiram ir crescendo como jogadores completos.

A aposta em jovens da formação dos grandes que não tinham tantas oportunidades (Cafu, Josué e Amido Baldé, por exemplo, passaram pela formação dos grandes de Lisboa) é também uma característica forte deste Vitória, sempre com o timoneiro Rui Vitória a funcionar como um manager, pensando a longo prazo na sustentabilidade do seu clube, construindo equipas de futuro e eventualmente aliviando as finanças do clube com a venda das suas pérolas. Também Paulo Oliveira, Ricardo Pereira e Tiago Rodrigues, jogadores que hoje representam "grandes" do futebol português, beneficiaram do trabalho da estrutura Vimaranense, eles que eram pedras basilares do conjunto que levou de vencida o Benfica no Jamor.

Prospecção no Campeonato Nacional de Seniores

Quem não tem dinheiro não tem vícios, e o Vitória, mesmo sem grande orçamento para o futebol, tem contrariado os vícios habituais das equipas Portuguesas de apostar em jogadores caros e que auferem um vencimento considerável trabalhando muito bem na prospecção e conseguido atletas interessantes em divisões inferiores, fazendo muito com pouco. Andre André, Hernâni e João Afonso, dois deles marcadores na partida épica frente ao Sporting, andaram "perdidos" pelo CNS, o que só mostra a qualidade do jogador português e a falta de aposta nos valores nacionais, que muitas vezes vêm a sua ascensão travada pela constante aposta em estrangeiros A falta de qualidade do jogador português de que Jorge Jesus tanto fala é mesmo uma mentira que dita muitas vezes parece verdade.

Atitude competitiva e intensidade máxima

O Vitória é uma daquelas equipas que joga cada jogo como se fosse o último e que mete em cada lance a intensidade de uma massa adepta sedenta por títulos e glória. Este conjunto de jogadores jovens e talentosos entra em campo com vontade de ganhar e de mostrar que mereciam esta oportunidade de brilhar ao mais alto nível. Muito intensos nas divididas e agressivos em todos os momentos, os Vitorianos parecem muitas vezes jogar uma velocidade acima dos adversários. Cada elemento joga "de faca nos dentes" e entra em campo para sujar os calções, quer seja extremo ou central, ajudando no momento defensivo e aplicando uma pressão imensa sobre a equipa adversária, que tem dificuldade em construir jogo. É frequente ver os extremos a ajudar em tarefas defensivas, condicionando a projecção dos laterais contrários, algo que foi fundamental no jogo com o Sporting.

Como joga este Vitória?

Mesmo sem a qualidade de passe de Tiago Rodrigues, a serenidade de Paulo Oliveira, a capacidade de ruptura de Ricardo Pereira ou a presença física de Balde, este vitória versão 2014/2015 é a equipa mais entusiasmante que Rui Vitória já montou, sem descurar o equilíbrio defensivo. Muito segura e pressionante, é capaz de grandes momentos de futebol sobretudo em transições. Os minhotos jogam no habitual 4-2-3-1, com uma linha de 4 defesas muito competentes, que dá cobertura para a acção ofensiva da equipa, os laterais Vitorianos não se projectam muito e contribuem para o equilíbrio defensivo da equipa. No sector defensivo o destaque vai para João Afonso, que fez a formação no Vitória mas passou 4 anos como sénior no Benfica de Castelo Branco para agora chegar ao D.Afonso Henriques e ser Rei da defesa.

o trio de meio campo está o coração deste vitória, com um elemento mais defensivo como Bouba Sare jogando à frente dos centrais, André André como motor, um verdadeiro todo o terreno que esta sempre onde está a bola, ligando os sectores e Bernard mais entre linhas, com capacidade de finalização, ultimo passe e drible mas também empenhado em missões defensivas, equilibrando a equipa. Na frente joga normalmente Alex no flanco esquerdo, mais cerebral, muitas vezes fechando no meio campo, rápido e intenso quer ofensivamente quer defensivamente, Tomané ou Alvez no meio, batalhando muito, dando linhas de passe, pressionando muito a primeira fase de construção da equipa contrária e abrindo espaço para as diagonais de um super Hernâni.

Hernâni: A revelação do campeonato até à data

É nos pés de Hernâni que o futebol do Vitória ganha outra cor, transformando uma equipa organizada, capaz defensivamente e muito intensa que joga sempre a alta rotação durante os 90 minutos numa equipa capaz de momentos de magia que desmontam a táctica dos adversários. Lançado pelos passes longos de André André ou em combinações com o também muito talentoso Bernard, Hernâni tem sido um quebra-cabeças para quem o encontra pela frente. Este jovem extremo português tem tudo para se tornar um caso sério no nosso futebol.

Muito rápido (talvez um dos mais velozes extremos do campeonato), fortíssimo no um para um, imaginativo, repentista, inteligente na procura dos espaços e sobretudo confiante, depois das boas exibições o jovem extremo sente-se capaz de tudo e dos seus pés têm saído momentos de pura fantasia.

Depois de uma dispensa dos Juniores do Cova da Piedade, de um empréstimo ao Mirandela e de uma época na equipa B, Hernâni cresceu como jogador e é mais uma prova cabal da competência da prospecção do Vitória, que vendo o talento de um miúdo "rebelde" o transformou num jogador de equipa, que apesar de ajudar defensivamente e batalhar pelo colectivo, também tem momentos de génio, de "futebol de rua". Se evoluir em termos de finalização, Hernâni chegará sem grandes dificuldades a um nível de excelência.

Certo é que, hoje, depois de um início de carreira difícil, vemos Hernâni a jogar de sorriso nos lábios, pondo os amantes de futebol também a sorrir, com o seu estilo de jogo entusiasmante que tem deliciado o D.Afonso Henriques.