Com o orgulho ferido depois da derrota contra o Porto em casa, o Benfica voltou a abrir as portas do Estádio da Luz, desta feita para receber os russos do Zenit. O objetivo era vencer e não sofrer golos e, apesar do jogo sofrido até ao último segundo, os encarnados foram mesmo capazes de atingir ambos os objetivos - um golo de Jonas já no período de descontos deu ao Benfica uma forte vantagem para a 2ª mão, que será jogada na Rússia a 19 de Março.

1ª parte: equipas com medo de errar

O jogo começou sem qualquer uma das equipas acusar a pressão da vitória, com a concentração a ser a palavra de ordem. O Zenit começou superior mas o Benfica não tremia, com as equipas a procurarem espaço de parte a parte para concretizar os seus objetivos. Logo aos 7’ Júlio César arriscou uma defesa que poderia ter corrido mal, ao sair demasiado para parar a corrida louca de Danny. Já uns minutos depois foi a vez de Gaitán perder uma boa oportunidade de inaugurar o marcador com um livre direto que foi direito às mãos do guardião dos russos.

Desde cedo em destaque esteve Lindelof. A jovem pérola poderia deixar os mais céticos na dúvida quanto à sua utilização, mas desde cedo que o sérvio esteve impecável e a mostrar que não se deixava levar pela pressão do jogo. Exemplo disso foi o minuto 13, quando Lindelof teve a força de espírito de cortar uma jogada perigosa de Danny. Quase que em simultâneo o Benfica começou também a equilibrar o jogo, procurando o duelo tático a meio-campo e apostando muito em jogadas de contra-ataque. Aos 19’, Pizzi podia ter sido feliz depois de um passe de André Almeida, mas a hesitação custou-lhe um remate como deve ser e concedeu, em sua vez, um fraco remate à figura do guarda-redes do Zenit. Era o caso claro de um Benfica que conquistava muita posse de bola mas que, na hora da finalização, não conseguia impôr o perigo necessário para fazer o guardião Lodygin e companhia estremecer. ​

Foto: Facebook do Sport Lisboa e Benfica
Foto: Facebook do Sport Lisboa e Benfica

Contudo, a meio da primeira-parte, o jogo parecia mudar a corrente. O Benfica começava a superiorizar-se e o Zenit baixava as linhas, criando dificuldades ao ataque da equipa da casa e jogando também numa lógica de contra-ataque. Ainda assim os encarnados foram capazes de criar algumas oportunidades claras, com Jonas em destaque neste campo ao minuto 29: o brasileiro soube ver uma oportunidade quando, após receber a bola de Mitroglou, rematou de fora da área, em arco. A trajetória da bola foi ligeiramente alterada por Lombaerts que, qual herói, evitou o golo ao fazer a bola passar a escassos centímetros do poste. Logo depois foi Lindelof que esteve em destaque, adiantado e a causar desequilíbrios aos comandados de Vilas Boas, seguido de Mitroglou a marcar ao minuto 33 mas em fora-de-jogo.

Mas o Zenit também não se deixou assustar. O algo apagado Hulk tinha lances de inspiração e, após sofrer uma dura e desnecessária falta de Jardel, o ex-Porto ganhou um livre que só não resultou em golo por pouco. O golo, no entanto, não parecia surgir para qualquer dos lados, e foi mesmo sem qualquer tempo de compensação que o árbitro apitou para o intervalo, com o resultado fixado no 0-0 inicial.

2ª parte: Jonas serve Vodka gelada nos descontos

O segundo tempo da partida não começou num tom muito diferente do primeiro, contudo foi muito mais bem jogado, disputado e bastante mais emocionante. De facto, o Zenit começou superior e obrigou Júlio César a fazer uma defesa importante aos 52’, com Witsel a rematar em grande naquela que foi a primeira verdadeira ocasião de golo do Zenit. O ex-Benfica rematou de fora da área e Eliseu ajudou o brasileiro a evitar o primeiro da partida. Mas o Zenit não se deixou ficar por aqui e procurou sufocar os encarnados com os seus ímpetos ofensivos, desenrolando uma grande quantidade de jogadas inspiradoras que, em poucos minutos, ofereceram várias oportunidades de golo: na cobrança Witsel voltou a tentar o golo, desta vez mais fraco e direito à figura do guardião brasileiro, seguido no minuto seguinte de uma iniciativa distante de Hulk que foi desviada por Jardel.

Mas esta pressão russa não durou muito. Sem serem necessárias alterações nas equipas o ritmo de jogo mudou completamente e, mal passaram os primeiros 10 minutos da 2ª parte, o Benfica superiorizou-se de forma clara, construindo um conjunto de jogadas ofensivas que não deixaram os russos respirar. Gaitán foi um dos suspeitos aos 57’, que, servido por Mitroglou, colocou mal o remate que saiu muito ao lado. O mágico voltou a ser suspeito ao minuto 70’ quando perdeu um golo certo - Jonas passou para o companheiro de equipa na área que, com perícia, simulou o remate para desviar o defesa adversário e não perdoou, deixando Lodigyn como o herói ao impedir o golo com uma defesa de categoria. Jardel também tentou a sua sorte já depois do minuto 70, numa jogada de centrais impressionante - Lindelof cabeceou para o brasileiro que, apesar de rematar com perícia, não soube dar a direção certa, perdendo a oportunidade e rematando ao lado.

Foto: Facebook do Sport Lisboa e Benfica

Estávamos então numa fase do jogo em que o Benfica atacava com tudo o que tinha, trazendo os defesas para a frente para auxiliar os médios na construção de jogo e no desbloqueio da defesa dos russos, enquanto que o Zenit, em sentido contrário, descia muito as linhas e demonstrava uma estratégia excessivamente defensiva. Nos seus poucos ímpetos ofensivos, a defesa do Benfica mostrava-se coesa e resolvia a situação, sem quase necessitar das intervenções de Júlio César para impedir a vantagem.

Ao minuto 79, Criscito brilhou ao cortar uma boa jogada das águias, logo seguido do guardião que não deixou a tentativa longínqua de Eliseu entrar. As águias procuravam insistentemente o golo, ao passo que os russos demonstravam desgaste físico e já acompanhavam com dificuldade o ritmo impresso pelos encarnados. Prova disso foi o minuto 90, quando Criscito viu o 2º amarelo da partida e foi expulso, após falta sobre André Almeida. O Benfica não se deixou afetar pela proximidade do apito final e, qual milagre qual quê, eis que, perante os 48.615 adeptos da Luz, Jonas aumentou a esperança de seguir para a próxima fase da Champions com um golo fenomenal - a jogada começou no argentino Gaitán que, ao cobrar o livre, deixou a bola para Jonas. O brasileiro, com a cabeça, não tremeu na hora de aproveitar a oportunidade e pôs todos ao rubro ao marcar o primeiro e único da partida.

O golo pareceu dar ainda mais rumo aos encarnados que não cruzaram os braços, vendo ainda Samaris perto de marcar o segundo ao minuto 94. Contudo, o apito final acabou mesmo por soar e todos os corações encarnados suspiraram de alívio, vendo o resultado final favorável à permanência na competição. Os quartos-de-final, embora ainda não sejam um dado garantido, estão assim mais próximos da equipa portuguesa, que leva um triunfo importante para a Rússia, dependendo só de si para passar.

No final da partida, destaque sobretudo para Lindelof e Renato, duas pérolas que souberam lidar com o desafio e brilhar, bem como Gaitán e Samaris, que estiveram incansáveis durante os 90 minutos. Jonas merece também uma nota de destaque, tendo estado várias vezes na mira do golo e acabando mesmo por ter a felicidade de concretizar. Do lado do Zenit, o capitão Danny e Garay foram incansáveis, bem como Witsel que soube criar algum perigo. Destaque ainda para André Almeida, Jardel e Javi García, que não poderão entrar nas contas dos seus treinadores na próxima eliminatória por acumulação de amarelos, bem como Criscito, que cumprirá castigo pela expulsão (caso esta não tivesse sucedido, cumpriria também por acumulação de amarelos).

No final, a vitória das águias demonstrou-se mesmo o resultado mais justo, sobretudo face à insistência tresloucada do segundo bloco de jogo. Destaque para uma vitória importante que permite ao Benfica ir à Rússia com mais tranquilidade para a 2ª mão, por estar em vantagem na eliminatória. No entanto o futebol é um desporto de surpresas onde nada está garantido, pelo que o regresso da Champions em Março será, com toda a certeza, algo por que ansiar para conhecer o seu desfecho.

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