O futebol move sensações e emoções que, muitas vezes, se materializam em conversas de café. Nesta altura do ano não se discute se no fim-de-semana houve ou não um penalty por marcar, se o treinador esteve bem ou mal ao lançar aquele jogador naquela altura, se o resultado é justo ou não. Nesta altura do ano especula-se. Especula-se sobre que tipo de jogador é preciso contratar, que tipo de forma de jogar cada treinador deve adotar mas, também nesta fase, se analisam resultados e se mede quem está melhor ou pior, quem se mexe melhor no mercado e, no fundo, quem é o "campeão de Verão". Parece-me que, no contexto do nosso futebol, esta pré-época está a exultar uma tendência que já se viu no ano passado. Parece-me que um dos três grandes se vai afastando da concorrência a grande velocidade e está muito perto de reclamar esse campeonato (que, de certa forma, já o conseguiu no Verão passado) mas qual é o real valor de ser "Campeão de Verão"?

O grande de que falo é o Sporting: o crónico campeão de Verão

Não me parece justo olhar para a abordagem do Sporting ao mercado sem a relacionar com o que é a ação da atual direção nos últimos quatro anos. Foi Bruno de Carvalho sempre o mesmo? Os resultados desportivos do Sporting sob o leme do atual presidente são conhecidos: uma Taça de Portugal e uma Supertaça. Estes resultados não são bons mas parecem-me muito menos maus se tivermos a frieza de definir como ponto de viragem aquele que é o momento que, outrora, fez de Bruno de Carvalho o melhor campeão de Verão de sempre: a contratação de Jorge Jesus.

Há um pré e um pós Jorge Jesus naquilo que é a ação do Sporting no mercado, é indesmentível. Com Jesus, Bruno de Carvalho é mais ambicioso mas mais dispendioso e, quase que me apetece dizer, mais submisso perante os pedidos do treinador (que dizer de um treinador que chega e tem poder para decidir contratações para a direção?).

Nunca Marco Silva e Leonardo Jardim, que conseguiram os mesmos resultados desportivos em duas épocas (um apuramento direto para a Liga dos Campeões e uma taça), sonharam poder contar com três das quatro contratações mais caras da história do clube (Bruno Fernandes, Alan Ruiz e Bas Dost) e atenção... Podem estar a chegar Pity Martinez ou Acuña

O que explica esta "diferença de tratamento"? A personalidade de Jesus ou o seu estatuto no futebol português? Jorge Jesus é um grande treinador, é verdade. É um dos melhores do mundo a desenvolver individualmente um jogador, as suas equipas praticam um futebol de qualidade (embora mostrem demasiadas vezes que são desequilibradas) mas também me parece que goza de uma aura em Portugal sem paralelo. Qualquer treinador é bom quando ganha e mau quando perde, mas Jorge Jesus é fantástico quando ganha e bom quando perde.

É verdade que não se pode comparar a situação económica do Sporting do tempo de Leonardo Jardim ou Marco Silva à do atual Sporting (e muito disso se deve às vendas de Slimani e João Mário potenciadas por Jorge Jesus) mas também me parece que há uma ponta de desespero na ação de Bruno de Carvalho. Desespero por mostrar ao futebol português que a maior bicada de sempre ao vizinho da segunda circular não foi, afinal, um tiro que saiu pela culatra.  

Posta esta apreciação mais geral, olhemos para esta pré-época em concreto. Numa equipa que se quer campeã é preciso um grupo forte psicologicamente, unido e em que todos remem para o mesmo lado. Será isso possível com constantes reformulações? Parece-me que, com esta abordagem, Jorge Jesus pode estar a criar alguns anti corpos no grupo e arrisca-se a que alguns jogadores já comecem a época "aziados".

Vou dar dois exemplos concretos mas podia falar de mais jogadores: Podence e Alan Ruiz. Alan Ruiz e Podence terminaram a época passada como as alternativas para o posto de segundo avançado e estão ligados ao que o Sporting conseguiu exibir de bom na temporada passada. Imaginava-se que iam começar a época a competir por um lugar nas costas de Bas Dost (que também podia ser ocupado por Bruno Fernandes). Ainda antes da bola começar a rolar nos amigáveis o Sporting anuncia a contratação de Doumbia (provavelmente um empréstimo que saiu caro)... Não quero pôr em causa a qualidade do jogador mas qual é o sentido de se dar 9 milhões por Alan Ruiz, ele fazer uma primeira época razoável e, no minuto a seguir, contratar-se um jogador para a sua posição que, das duas uma, ou o relega para o banco ou o obriga a adaptar-se a outra posição (parece-me mais provável)?

O caso de Podence é, em tudo, idêntico. De que serve estar constantemente a elogiar o jogador se, na hora da verdade, depois de uma boa resposta o ano passado, vai despromovê-lo de alternativa a Alan Ruiz titular para alternativa a Alan Ruiz suplente? Serão Podence e Alan Ruiz desviados para o flanco? Mas então e Acuña sempre não vem?

Esta política de contratações mais ou menos sonantes é um filme já visto o ano passado e com os resultados que se conhecem. Não duvido da qualidade de Doumbia, Coentrão ou de Javi Garcia por exemplo (embora aqui Palhinha e Battaglia se transformem nos "aziados" da posição de médio-defensivo) mas também não estou assim tão certo de que o seu rendimento vá ser de acordo com as expectativas.

Têm a palavra os jogadores, eles têm a oportunidade de me demonstrar que as minhas dúvidas estão erradas.

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