Com a integração do ponta-de-lança Cardozo, que se estreou esta época no «derby» contra o Sporting CP (entrou para substituir o lesionado Gaitán) e desde então já participou nos jogos frente ao Paços de Ferreira e Anderlecht, Jorge Jesus parece ter colocado um definitivo ponto final na polémica nascida aquando do final da Taça de Portugal – o paraguaio contestou o treinador português, empurrando-o e erguendo o dedo em riste em tom ameçador, culpando igualmente o jovem André Almeida, que actuou como lateral no lugar do habitual defesa esquerdo Melgarejo, compatriota de Cardozo. Quatro meses volvidos, a controvérsia acalmou: Melgarejo foi transferido para os russos do Kuban Krasnodar, André Almeida certificou os adeptos de que tudo são águas passadas, Cardozo proferiu um – forçado – pedido de desculpas por alturas em que a sua permanência no clube tomava contornos de certeza, e Jesus, que nunca deixou cair a farsa, sempre foi afirmando que Cardozo era parte integral do plantel. Terá sempre sido, realmente?

Um sapo do tamanho de um gigante paraguaio

Não. Sempre foi óbvia e transparente – apesar do tabú – a vontade do Benfica em vender o ponta-de-lança paraguaio, como bem demonstraram as demoradas e intransigentes conversações entre o clube da Luz e os potenciais interessados no jogador: desde o interesse russo ao assédio dos turcos do Fenerbahce, passando pela possibilidade de rumar à liga inglesa, muitas foram as ocasiões em que Cardozo teve um pé fora da Luz. Goradas as hipóteses de transferir Cardozo pelo preço desejado (cerca de 15 milhões de euros), Luis Filipe Vieira terá preferido manter o jogador no plantel, forçando Jesus a engolir um sapo do tamanho do ponta-de-lança guarani, que meses antes tinha desafiado a autoridade do técnico em frente a uma plateia de dezenas de milhares de adeptos. Jorge Jesus integrou Cardozo e até o lançou, surpreendentemente, frente ao rival – os adeptos aplaudiram a aposta e o ponta-de-lança voltou a ser chamado frente ao Paços. Seguiu-se o cumprimento entre ambos, que se repetiu contra os belgas. Sentir-se-á Jesus confortável com o regresso do «Tacuara»? Não pressentirá o experiente técnico a sua autoridade minada? As primeiras aparências dizem que não, tal como as palavras do treinador benfiquista: «O meu relacionamento com o Cardozo é o mesmo que tenho com os outros jogadores», afirmou hoje Jesus.

De volta ao estatuto de «intocável»

Vieira esticou a corda nas negociações e colocou Jesus numa situação de aperto – Cardozo ficou e o técnico foi obrigado a rentabilizar um activo dispendioso que em possibilidade alguma poderia militar na equipa B, quando, pouco tempo atrás, tinha estado declaradamente no mercado, na prateleira do futebol, esperando comprador endinheirado. Se a corda começou por ceder por um dos lados mais fracos (Melgarejo foi transferido como parte do saneamento pretendido pelo treinador) acabou depois cedendo por um outro lado, o de Jorge Jesus, que aceitou a reintegração de Cardozo sem contestação visível ou reticência aparente. Enquanto Funes Mori chegava para substituir Cardozo, o paraguaio, afinal, ficava, e com o último dia da janela de transferências, a indefinição ficava resolvida. Luis Filipe Vieira e a fasquia dos 15 milhões ditaram a continuidade de Cardozo, que passou do rótulo «à venda» de volta ao estatuto de «intocável». O futuro e a cicatrização, no balneário, do fatídico acto da final da Taça, dirão se a corda ainda poderá partir por mais algum lado...