O Paços de Ferreira recebeu, nesta segunda-feira (23), o Vitória Futebol Clube, na Mata Real, com a corda na garganta e zero pontos à cabeça – e logo o jogo viu a bola rolar, também Costinha, do banco de suplentes, viu a corda estrangular a sua equipa. O paraguaio Rámon Cardozo abriu as hostilidades, de cabeça, depois de um passe do compatriota Cohene, logo aos dezassete minutos. O Vitória apresentava futebol a mais para o Paços e volvidos seis minutos, Rafael Martins é derrubado pelo guardião António Filipe dentro da área de rigor: penalidade que poderia ter provocado o sufoco final aos «castores». Poderia, não fosse o médio sadino Dani ter rematado em cheio no poste direito da baliza pacense. A partir desse momento tónico, o Paços recompôs-se da entrada amorfa e foi, lentamente, ganhando nova vida – Bebé e Caetano, munidos de velocidade e poder de drible, carregaram a equipa da casa rumo à baliza adversária, e logo as oportunidades de golo desataram a chover. A primeira parte terminou equilibrada e quem se deslocara ao recinto da Mata Real vira 45 minutos de intenso futebol.

Morrer e renascer na Mata Real

O Paços voltou a entrar em falso na segunda metade: canto marcado e a sensação do jogo, Rámon Cardozo, lança-se ao ar para desferir um incrível remate de bicicleta que beija caprichosamente a barra. Passado o perigo, o Paços carburou de novo e foi em busca do empate mas a expulsão do central Gregory, que viu o segundo amarelo por pretensa simulação de falta dentro da área, teria deitado tudo por terra, pois que irremediavelmente ficaria a equipa de Costinha sentenciada à morte certa. Mas, por alma e graça de um renascimento soberbo, os da casa reagiram da melhor forma à inferioridade numérica – sem nada a perder, os pacenses encararam os últimos vinte minutos da partida com um fulgor atacante imparável, por vezes desengonçados, é certo, mas sempre determinados em dar ao treinador Costinha uma última bombada de ar que impedisse o estrangulamento final e consequente despedimento.

E assim foi, aos 81 minutos, na sequência de um livre directo cobrado exemplarmente por Manuel José, que enviou a bola contra a barra e, na ressaca estava, bem posicionado, o central Ricardo, que mergulhou de cabeça para empatar a contenda e tornar justo um resultado que já apelava à igualdade. Logo de seguida, o ímpeto assolapado do Paços ameaçou dar a cambalhota completa no marcador, mas o cruzamento rasteiro de Bebé acertou num Hurtado desconjuntado que falhou, inacreditavelmente desmarcado, o 2-1.  

Ficar no limbo aguardando julgamento

O jogo deu-se por terminado e a fome de futebol, pelo menos para os neutrais, foi saciada: bom futebol, gosto pelo risco ofensivo, velocidade e um manancial grande de lances de perigo, que rondou ambas as balizas. A emoção foi preservada até ao fim, muito por culpa da coragem atacante do Paços, reduzido a dez unidades mas nunca resignado a morrer em casa nem a deixar cair o seu líder para aquele que seria um dos piores registos dos «castores» – oito jogos, oito derrotas. Tal desígnio foi evitado, com o golo de Ricardo. Costinha viu a sua equipa sofrer aos 17, voltar a sofrer ainda que sem sofrer golo, (aos 23 minutos, aquando do penalti desperdiçado pelo Vitória de Setúbal) e a sofrer mais uma vez, aos 71, com a expulsão do possante central Gregory.

Depois da morte veio a ressurreição, a força vinda de nenhures e a vontade de alterar o destino. Caetano e Bebé foram peças importantes nos desequilibrios pelas alas, enquanto que no centro, André Leão foi um pêndulo seguro e as entradas de Manuel José e Rui Miguel emprestaram energia à táctica pacense, que com os dois portugueses ganhou o meio-campo e manteve a pressão acentuada com a qual Ney, Paulo Tavares e Tiago Terroso não souberam lidar, mesmo em superioridade numérica. O Paços conquistou o seu primeiro ponto na Liga Zon Sagres, e voltou à vida com mérito, negando ao destino nova derrota fatal. Mas ainda assim, o registo permanece mau – oito jogos, sete derrotas e um empate.

Os próximos embates serão novos julgamentos. Costinha e a sua equipa ganharam, com o empate de ontem, o direito a ficar no limbo, a aguardar nova sorte. As palavras do presidente do clube, Carlos Barbosa, no pós-jogo, reforçaram a confiança numa retomada positiva: «A equipa jogou à Paços, como tinha pedido. Demonstrou uma enorme atitude e penso que acima de tudo faltou-nos alguma sorte (...) a jogar desta forma as vitórias vão seguramente começar a surgir». Assim esperarão os adeptos do clube.