Já a noite tinha caído em Braga quando, num rompante inesperado, Cédric rematou a bola que só parou no fundo das redes guardadas pelo internacional português Eduardo: o rugido do leão ouviu-se em cada recanto da Pedreira. O jovem lateral disparou para colocar termo à igualdade teimosa numa altura em que os bracarenses, reduzidos há muito a dez unidades, já sentiam na boca o gosto recompensador do empate. Mas a quatro minutos do apito terminal, Cédric subiu ao ataque leonino e não foi de modas: enquanto todos à sua frente falhavam, ele arriscou fazer a diferença, e com um pontapé apenas fez ruir a Pedreira. O golo deu três pontos numa deslocação dificílima e colocou o Sporting na segunda posição a dois pontos do FC Porto, enquanto que o Braga desce para terceiro.

Um duelo entre iguais até ao vermelho de Santos

O jogo foi emotivo desde o princípio e quem se deslocou ao Estádio Axa viu futebol de sobra, e nem foi preciso esperar muito para que a verdadeira acção começasse: cinco minutos de jogo e o colombiano Montero abriu de pronto, o marcador, cabeceando a bola na disputa com Custódio, que chegou tarde ao lance. Eduardo nada poderia fazer contra o remate «à queima» do avançado leonino, que assinava o seu sétimo golo na temporada. Mas o Braga de Jesualdo apressou o passo e apanhou o jogo ainda a tempo – o experiente Alan, símbolo do clube, encarou Rui Patrício e, do meio da rua, desferiu um remate encaracolado que fugiu à estirada do guarda-redes da selecção nacional. Estava feito o empate, à passagem do minuto 28: um golaço de levantar o estádio.

O jogo prosseguiu equilibrado entre duas das maiores forças deste campeonato (segundo e terceiro classificados) mas uma veloz fuga de Montero rumo ao frente-a-frente com Eduardo estragou os planos de Jesualdo Ferreira, pois o colombiano foi parar ao chão, travado em falta pelo central arsenalista Santos no momento em que se isolava perante o guardião: vermelho directo para o brasileiro. A juntar à inferioridade numérica, o Braga ainda viu o seu outro central, Paulo Vinícius, abandonar o relvado com um estiramento. A partir do fatídico minuto 31, o jogo descompensou-se e foi o Sporting a dominar por completo a partida, atacando muito mas sempre sem a sorte e o engenho para quebrar o defensiva abnegada do Braga – Herbert ainda salvou os bracarenses, através de um corte providencial que resguardou a baliza deserta, mas o golo dos leões estava guardado para o fim, quando já poucos acreditavam.

Heróis improváveis

Se o lateral Cédric foi um herói improvável na Pedreira, também a jovial e inexperiente equipa do Sporting tem sido, até à data, um heróico colectivo que muitas bocas tem aberto em claro sinal de surpresa: depois do grande desinvestimento financeiro e das várias saídas de jogadores, o clube de Alvalade, que está afastado das competições europeias e luta para o terceiro lugar, tem surpreendido pela forma competente e estável com que se tem apresentado dentro de campo – uma equipa concretizadora (possui o melhor marcador da prova), repleta de juventude (Vitor, ex-Paços é o jogador mais velho, com 29 anos) e minada, no onze titular, de talentos provenientes das suas camadas jovens (Rui Patrício, Dier, William Carvalho, Cédric, Wilson Eduardo, Adrien e André Martins). Este é o perfil do Sporting 2013/2014 até aos dias de hoje, volvidas seis jornadas, estando o clube na segunda posição da Liga, excedendo as expectativas e confirmando o bom trabalho de Leonardo Jardim à frente dos destinos técnicos de Alvalade.