Desde Liedson que não se via nada assim em Alvalade. Orfão de um goleador após a saída do ponta-de-lança brasileiro, o Sporting vê-se agora sendo adoptado por um baixinho colombiano vindo dos Estados Unidos, o avançado que de duvidoso no verão, passou a goleador incontestável na equipa de Leonardo Jardim.

Nos primeiros oito jogos oficiais, apenas num (empate a 1-1 com o Rio Ave) Fredy Montero não “fez o gosto ao pé”, tendo assinado tentos de todas as formas e feitios nos restantes sete encontros realizados. Números impressionantes que tornam  El Avioncito, com os seus 12 golos marcados, na figura do Sporting 2013/2014.

“Tantos milhões” para tão poucos golos

Ainda durante o reinado do Levezinho, no qual a equipa jogava em 4-4-2, o Sporting foi-se dividindo em esforços (e euros) na tentativa de trazer para o Estádio José Alvalade um companheiro de ataque à altura de Liedson, o 31. Frustração atrás de frustração, os leões foram coleccionando tesourinhos deprimentes, com a factura a sair muito cara, no final de cada época, às contas da depauperada administração leonina. De Milan Purovic até Ricky Van Wolfswinkel, passando por Derlei,  Sinama-Pongolle e Hélder Postiga, foram demasiados os milhões despendidos para tão parco rendimento: 17 milhões e 250 mil euros para apenas 77 golos marcados.

De todos eles, apenas o holandês contratado ao Ultrecht por 5,4 milhões de euros foi capaz de apresentar números de goleador. Daí que após a sua saída de Alvalade muitos tenham sido os fantasmas a pairar sobre a equipa e o seu possível substituto.

Da desconfiança à confirmação

A sinopse futebolística de Fredy Montero não gerava à partida grande entusiasmo que convencesse a crítica e a exigente massa adepta do Sporting  relativamente à sua contratação. Desde a idade, a altura, a ficha de golos marcados e o pouco competitivo campeonato da sua ex-equipa, tudo foi motivo para que a cada avanço no processo de negociações tendo em vista a contratação do jogador, maior fosse o torcer de nariz à chegada do internacional colombiano.

Foi de resto generalizada a reprovação da imprensa desportiva portuguesa quanto à propensão goleadora de Montero, sempre catalogado como um avançado sem perfil de ponta-de-lança e com características para jogar um pouco mais atrás do número 9 do ataque.

Os números e desempenhos do hoje melhor marcador do campeonato português (9 golos) viriam a desmentir todas estas observações, com o jogador do Sporting a registar golos, exibições, e movimentos técnicos só ao alcance dos melhores pontas-de-lança. Os 12 golos marcados colocam-no nesta altura sob a órbita dos principais clubes europeus e muitíssimo mais perto da selecção colombiana, agora, do que quando chegou a Alvalade.

Goleador invisível

Muita coisa se disse sobre o perfil e as características de Fredy Montero. A baixa estatura (1.76m) rapidamente deixou antever um fraco jogo de cabeça, assim como o pouco impressionável porte atlético depreendeu grande fragilidade nos duelos com os defesas adversários. Do enorme leque de análises salvou-se a capacidade técnica e inteligência nas movimentações, que o colombiano desde bem cedo começou a demonstrar. Mas as exibições contra Benfica e Sporting de Braga, por exemplo, mostraram o quão errados estavam estes juízos de valor lançados no verão, com o ponta-de-lança a evidenciar-se como um jogador ao mais alto nível, forte nos duelos individuais, e superior até nos despiques com os mais robustos dos defesas contrários. O instinto de matador, fruto da tal inteligência, tornam-no hoje num poderoso  “rato de área” absolutamente letal na zona de finalização. Fredy não precisa de muitas oportunidades para marcar, é verdade, mas o seu raio de acção no jogo do Sporting vai muito além do clichê do ponta-de-lança. Montero joga, faz jogar e marca: tudo o que os leões precisavam e de que há muitos anos não dispunham em Alvalade. No próximo fim-de-semana, frente ao compatriota Jackson Martínez, há nova oportunidade para prolongar a sua racha goleadora e ajudar o Sporting a superiozar-se aos portistas na luta pelo título. Ver-se-á uma vez mais, no Dragão, do que é mais Fredy Montero capaz de fazer. 

 

Imagem: AFP / Getty Images