É quando menos se espera que muitas vezes chegam as oportunidades. Para Adrien Silva e Steven Defour, prováveis titulares no clássico do próximo Domingo, a mudança de vida levada a cabo desde o início da época encerra um ciclo de altos e baixos que ameaçou o futuro das suas carreiras, e que agora as relança para o trilho da afirmação no campeonato português.

Duplos, figurantes, actores secundários...nunca passou disto a participação dos dois jogadores nos planteis de Sporting e FC Porto. Por falta de sequência de jogos, de confiança do treinador ou até fruto da própria intermitência exibicional de Adrien e Defour, os dois médios nunca foram capazes de se afirmar em definitivo nas suas equipas. E mesmo com percursos diferentes de carreira, ambos os atletas têm em comum o facto de terem beneficiado com a mudança de treinadores para esta temporada em Alvalade e no Dragão.

Com uma participação muito mais efectiva nestas primeiras sete jornadas da Liga Zon Sagres, resta esperar pelo confronto deste Domingo na cidade invicta. Quem levará a melhor?

Adrien a provar que não estava “louco”

Adrien Silva é um daqueles casos curiosos do Sporting. Apontado como uma das maiores revelações da Academia leonina, nunca conseguiu confirmar na ascensão a senior os créditos arrecadados no seu período de formação, que começou no Bordéus e foi depois integralmente desenvolvido em Alcochete. O médio, que durante este percurso chegou a recusar um convite do Chelsea por acreditar piamente que essa era a decisão “mais acertada” para a sua carreira, tenta agora provar que a resistência à tentação do estrangeiro foi o passo certo para o seu processo de afirmação.

Recuando seis épocas atrás, regressamos à chegada de Adrien à equipa principal do Sporting, pela mão de Paulo Bento. João Moutinho era a estrela da companhia e a Adrien Silva era apontado o mesmo caminho. Jogando a trinco (onde mais gosta) por ordem do actual seleccionador nacional, que já nos juniores o colocara na mesma posição, o médio nunca conseguiu ter a mesma ascensão do antigo número 28 leonino, apesar das primeiras boas exibições de leão ao peito que cativaram os adeptos e a imprensa.

Depois do empréstimo infeliz ao Maccabi Haifa, a cedência à Académica revelou um pouco do verdadeiro Adrien Silva de quem tanto se falou e augurou. O regresso natural aos leões ainda teve o imbróglio da renovação pelo caminho, mas o acordo alcançado com a administração de Godinho Lopes posicionou o jogador como um dos mais bem pagos do plantel dos leões e com toda a margem para finalmente mostrar o seu valor.

A verdade é que o médio, colocado a número 10 por Ricardo Sá Pinto, voltou a denotar dificuldades e a não confirmar as boas indicações deixadas no verão do ano passado. Quando já se iniciava o declínio do número 23 leonino, eis que a chegada de Leonardo Jardim provocou uma verdadeira transformação no atleta.

Adrien está diferente, para melhor: o outrora centro-campista frouxo e apático que enervava as bancadas de Alvalade é agora um médio pressionante e combativo que não dá uma bola por perdida, unindo a esta sua nova atitude a habitual inteligência, técnica, a capacidade de passe e o forte remate que são intrínsecos ao seu estilo de jogo.

O lusco-fusco de Adrien Silva é aliás atestado pelas estatísticas: esta temporada são já 7 jogos a titular e 2 golos marcados para o campeonato, praticamente os mesmos de toda a época passada (13 jogos a titular e 3 golos marcados, para a Liga). No triângulo de Leonardo Jardim joga lado a lado com André Martins, mas é sua a responsabilidade de dar maior apoio a William Carvalho na fase defensiva, não se imiscuindo de dar a profundidade ofensiva e manobrar o ritmo da equipa na qual é agora um líder.

O jogador que tem Frank Lampard e Steven Gerrard como referências é actualmente um dos melhores médios a actuar em Portugal, sendo hoje o protagonista que já se pensava que nunca viria a ser.

A cópia que não saiu melhor que a original

Ainda estava longe de se desfazer do seu grande diamante, já Pinto da Costa perpassava meia europa à procura de uma cópia tão boa quanto a original. Pressionado pela insistência dos magnatas europeus, o líder portista lá encontrou uma reprodução generosa (e bem mais económica) do que a primeira, a original. Enquanto João Moutinho ia  e não ia, o FC Porto viu em Steven Defour o sucessor ideal do médio internacional português.

Defour chegou a Portugal juntamente com a outra estrela do Standard Liège, Axel Witsel, mas para o FC Porto. Custou 6 milhões de euros aos azuis e brancos e prometia lutar pela titularidade na época de 2011/12.

As características do médio belga eram de facto muito similares às de João Moutinho, um típico número 8 capaz de percorrer todo o campo durante 90 minutos e apoiar quer as tarefas defensivas, quer as ofensivas.

A lógica da escolha era por isso por demais evidente, mas a verdade é que a tão esperada saída de Moutinho só se concretizaria dois anos mais tarde, adiando a afirmação de Defour consecutivamente. Vítor Pereira foi também deixando em banho-maria essa afirmação, que até à chegada de Paulo Fonseca já se temia que não acontecesse.

A mudança de João Moutinho para o Mónaco, porém, não explica tudo sobre a maior utilização do médio belga na presente campanha, já que a confiança de Fonseca naquele que foi a sombra do internacional português durante dois anos lhe garante a tranquilidade que nunca chegou a ter no seu jogo. A importância de Defour é de resto reconhecida pelo técnico azul e branco: “Tenho pena que não se lhe reconheça o devido mérito, porque o que ele tem dado à equipa tem sido, por vezes, grandioso”.

Se nas primeiras sete jornadas da temporada passada Defour apenas por duas vezes tinha conquistado a titularidade na Liga Zon Sagres, nesta edição o médio vai já em cinco presenças no onze inicial, assumindo um papel de destaque no novo esquema táctico de Paulo Fonseca. Ao lado de Fernando, o belga forma a dupla de pivots defensivos que protege a menor disponibilidade física do 10 Lucho González, atrás de Jackson Martínez. Um lugar no qual se sente confortável e onde, mesmo que sem deslumbrar, vai cumprindo com eficácia as tarefas atribuídas pelo novo técnico do FC Porto. Enquanto não atinge a plentitude das suas capacidades, Defour tem pelo menos garatinda a confiança do seu treinador, o que é meio caminho andado para que o rendimento do passado fique definitivamente para trás. 

 

 

Imagem: record.pt