Primeiro jogo da Champions League 2013/14 do F.C. Porto em casa, no Dragão, contra o Atlético de Madrid. Resultado: 1-1. Minuto 67. Paulo Fonseca decide dar entrada a Quintero. Nas bancadas, é bem recebida a notícia, mas quando o quarto árbitro mostra o número três, começa um murmúrio que termina por percorrer os quatro cantos do estádio. Os adeptos não percebem o que acontece. "Porquê?", "Não compreendo o que faz" são algumas das frases que voavam no ar, na Cidade Invicta.

Porém, quando Lucho começou a andar a caminho da linha lateral, já não houve mais tempo para lamentos. A bancada, unânime, pôs-se a aplaudir o seu capitão. Porque Luis Oscar González nasceu em Buenos Aires há 32 anos e nunca imaginou que as cores da sua alma iam a ser o azul e o branco, mas não só o azul celeste da Argentina. Depois de sete épocas e meia e onze títulos com os ‘dragões’, bem poderia dizer-se que Lucho é do Porto.

Parceiro de Fernando

Mas o Lucho desta época pouca relação tem com o jogador que era quando Vítor Pereira era o treinador dos ‘dragões’. Trabalhava então só para a equipa e estava mais perto de Fernando, com quem compartilhava a zona do meio-campo, e, quando tinha oportunidade, ia chegando à área rival na segunda linha.

O argentino era a conexão entre a defensa e o ataque do F.C. Porto. Não só era o capitão da equipa, mas também o prolongamento do treinador no relvado, e por isso era quem ordenava os movimentos defensivos e que dava o primeiro apoio a Moutinho no momento de criar jogo. Poucas vezes saía duma faixa de 20 metros na zona intermédia do campo, e em poucas ocasiões aparecia pelas alas.

A sua ajuda no labor defensivo raras vezes deixava ver um jogador com boas qualidades com a bola nos pés, salvo nas ocasiões em que chegava à entrada da área e realizava algum bom disparo de longe ou fazia uma boa combinação nessa latitude do terreno, e aí se podia vislumbrar um outro Lucho, que se escondia debaixo do trabalhador infatigável que habitualmente víamos no Dragão.

Lucho, libertado

Algo disso deve o novo treinador, Paulo Fonseca, ter visto em Lucho González. O sistema que os ‘dragões’ usam agora é subtilmente diferente do que exibiam na época anterior. Olhando ao papel, pode dizer-se que é um 4-3-3, com 3 homens no meio-campo, dois extremos bem abertos e Jackson Martínez como a referência ofensiva da equipa.

A energia não usa para defender

Mas agora o meio-campo tem uma forma diferente e só Fernando é o encarregado de unir o ataque e a defesa, entanto o capitão está à mesma altura doutro centro-campista e os seus deveres defensivos se reduzem a momentos-chave onde o rival sai a jogar pela sua zona. É uma habitual presença na área e a energia que não usa para defender é bem utilizada para que possa aparecer nas duas alas.

Este Lucho está livre para, em muitos momentos, baixar até a zona de Fernando, e não são poucas as vezes em que o vemos ser o primeiro a fazer pressão à defesa rival, recebendo a ajuda do ponta-de-lança. Também há uma ordem clara por parte de Fonseca para que o jogador deixe todas suas forças no relvado, ou assim parece, porque o normal é que quando faltam quinze ou vinte minutos para o fim, o chefe do meio-campo portista ceda o lugar a algum companheiro.

O que este novo posicionamento de Lucho González nos tem permitido ver é um jogador que tem bom critério de jogo, e que os anos que já passaram por ele serviram para lhe ensinar alguns dos segredos do futebol. Continua a roubar muitas bolas, mas já não precisa do esforço de antigamente, e fá-lo em zonas mais avançadas do que antes. Este é o novo Lucho, o libertado e o capitão dos ‘dragões’, que querem colocar uns bons pontos entre si e o seu perseguidor, o ‘leão’.

Lucho González após dum golo. Foto: quatroquatrodois.com