Pode-se dizer que mesmo antes de entrar em campo, o FC Porto já estava em vantagem. Do frio da Rússia chegavam notícias de um empate entre Zenit e Atlético de Madrid, um resultado favorável para os dragões, desde que estes cumprissem a sua tarefa de derrotar o Áustria de Viena. Comparativamente ao jogo com o Nacional, Paulo Fonseca resolveu mexer no onze inicial; Maicon, Licá e Defour tomavam o lugar de Otamendi, Varela e Herrera. Do outro lado estava um Áustria de Viena que prometia organização defensiva e uma estratégia de destabilização do adversário como forma de manter o nulo o mais tempo possível.

Primeira parte: Alex Sandro e menos dez

Quando se quando se esperava um Porto motivado pela situação privilegiada em que se encontrava, eis que os primeiros minutos de jogo mostraram uma equipa portista letárgica e ansiosa, acusando um nervosismo atípico para uma formação altamente experienciada na Liga dos Campeões. Apesar das alterações efectuadas por Paulo Fonseca, a verdade é que as mesmas, embora não comprometendo, não pareciam surtir o efeito desejado. O meio-campo apresentava baixo índice de rotação, mostrando-se incapaz de construir e até permitindo que os austríacos trocassem a bola com liberdade; Lucho e Defour estavam sem ideias e Fernando parecia nem estar em campo.

A juntar a isto esteve a estranha intranquilidade da defesa azul-e-branca que parecia incapaz de retirar eficazmente a bola da sua zona, e foi a partir de uma dessas situações que aconteceu o que se julgava impensável; um mau alívio de Danilo e a bola a sobrar para Kienast que, com tempo e espaço para tudo, rematou de longe e bateu Hélton. Apenas dez minutos de jogo e a noite fria do Porto ganhava contornos glaciares. Vendo-se em desvantagem logo nos minutos iniciais, os dragões pareciam impotentes perante a boa organização defensiva dos austríacos que, sempre que podiam, beneficiavam da técnica do avançado Hosiner para segurar a bola e lançar os colegas. Contudo foi o próprio ponta-de-lança do Áustria de Viena que esteve perto de fazer o 0-2, sendo impedido pelo corte in extremis de Lucho.

Perante a apatia e desinspiração geral dos dragões, coube a um defesa pegar na equipa. Com efeito, Alex Sandro foi o principal (ou único) propulsor do jogo atacante dos azuis-e-brancos, investindo frequentemente pelo corredor esquerdo à procura de servir Jackson Martinez; o relvado estava claramente inclinado...para a esquerda, a total ineficácia dos extremos davam outro protagonismo ao lateral esquerdo brasileiro, o único a demonstrar o seu inconformismo perante o resultado adverso. Todavia, os esforços do 26 portista foram infrutíferos, isto devido, por um lado, à desinspiração do ataque, e por outro devido à boa exibição do guardião austríaco Lindner. O intervalo chegava e um coro de assobios ecoava no Dragão.

Segunda parte: Uma uva e muita parra

O segundo tempo deixou Defour no balneário e trouxe ao jogo Silvestre Varela; já com os dois flancos equilibrados em termos de profundidade, o FC Porto entrou a todo o gás na segunda parte, deixando nas cabines os sósias letárgicos que vaguearam nos primeiros 45 minutos. E nem cinco minutos foram precisos para que os portistas chegassem ao empate; canto da direita e uma boa elevação de Mangala ao segundo poste ofereceu o golo a Jackson Martinez. O golo teve o condão de galvanizar ainda mais os dragões que continuaram a pressionar a equipa austríaca que ia afastando as bolas da sua área como podia. O primeiro quarto de hora dos campeões nacionais foi absolutamente avassalador, e foi nessa altura que foi chamado a intervir o guardião Lindner; o guarda-redes do Áustria de Viena fez um punhado de defesas, algumas delas quase impossíveis, e ia segurando o empate. Perante a forte pressão da equipa da casa, os austríacos já não tinham tanta facilidade para sair em contra-ataque, ressalvando-se uma única excepção por parte de Hosiner com um remate ao minuto 56. 

O tempo ia passando e a bola teimava em não entrar uma segunda vez; do banco Paulo Fonseca fez entrar Ricardo e Quintero para os lugares dos desinspirados Josué e Licá. O avançar do relógio ia retirando gradualmente clarividência ao jogo azul-e-branco que, apesar da constante insistência no ataque flanqueado, já não conseguia criar o pânico que semeara na grande área vienense no início da etapa complementar. 

A ponta final da partida mostrava um FC Porto a jogar mais com o coração do que com a cabeça; Mangala subiu para se juntar a Jackson mas nem assim os portistas foram capazes de desfeitear Lindner, que negou a Jackson a última oportunidade do jogo já em período de descontos.

Quanto a números, o FC Porto fez 22 remates contra 3 dos adversários, beneficiou de 62% de posse de bola e de uma quantidade industrial de pontapés de canto, números que em muito se assemelham àqueles alcançados diante do Nacional da Madeira e que infelizmente traduzem o mesmo resultado.

Com este empate o FC Porto regista a sua pior prestação em casa na Liga dos Campeões. Os dragões somam 5 pontos, menos um que o Zenit; na última jornada a equipa de Paulo Fonseca terá de vencer o Atlético de Madrid no Vicente Calderón, e esperar que os russos não saiam de Viena com os três pontos.