O Sporting entrava na 12º jornada com a possibilidade de se isolar no comando da Liga ZON Sagres. Na abertura da jornada, o Benfica escorregara inesperadamente na Luz, com o empate na recepção ao modesto e recém-promovido Arouca.  Entre os homens de Alvalade e o topo da tabela interpunha-se, então, apenas o Gil Vicente, mas o obstáculo estava longe de se afigurar pequeno: a equipa de Barcelos, 4ª classificada ao fim de 11 jogos, apresentava-se invicta no seu reduto: seis vitórias e dois empates, um histórico que exigia que os comandados de Leonardo Jardim se pusessem em sentido. O Sporting entrou seguro no jogo, não acusando a pressão do momento na tabela, e Montero, melhor marcador da Liga e nome que em Alvalade é sinónimo de golo, marcou na primeira e na segunda parte, um golo para cada um dos pontos que agora separam o Sporting, no comando do campeonato, dos seus rivais, Porto e Benfica.

Os extremos atraem-se, como ao golo

Leonardo Jardim manteve o seu 4-3-3 habitual, mas preferindo fazer entrar de início Wilson Eduardo para o lugar do peruano Carrillo. No Gil Vicente, o técnico João de Deus escolhia o mesmo desenho táctico e não promovia alterações face ao onze que na jornada anterior empatara a zero com o Belenenses, embora voltasse a poder contar com o central Halisson, após suspensão.

O Sporting entrou bem no campo, sereno, tacticamente muito disciplinado e balançado para o ataque. Os leões exploravam sobretudo as alas, onde o Gil Vicente é mais fraco a defender, permitindo muitas situações de um para um, situações essas em que Capel e mesmo Wilson – embora menos irreverente do que Carrillo – possuem competências e podem usar da sua velocidade (a coesão defensiva gilista está sobretudo no triângulo do meio-campo, com Luan, Vítor Gonçalves e César Peixoto). O Sporting insistia pelos flancos, sobretudo pela direita, com Cédric e Wilson muito interventivos e a tirar quase sempre o cruzamento para a área, onde os homens de Barcelos iam limpando os lances. Um bom exemplo desses sucessivos lances, que até então se vinham reproduzindo pela direita, dá-se aos 12 minutos, quando Capel tira cruzamento perigoso pela esquerda. A bola voa muito perto da linha de golo, ninguém surge para encostar, e é Luís Martins quem acaba por tirar para canto. O Gil quase não mostrava iniciativa, atacando em geral com poucos homens, quase exclusivamente em rápidas transições, sem se demorar na construção, e falhando em ameaçar a baliza, em virtude de uma linha defensiva leonina muito subida no terreno, que encostava ao meio-campo e permitia à equipa de Leonardo Jardim uma pressão precoce sobre o portador da bola. Aos 14 minutos dá-se uma das raras oportunidade para a equipa de João de Deus: na sequência do primeiro canto gilista, a bola sobra à entrada para um remate bem medido de Luís Martins, que Patrício segura no momento exacto em que a bola batia no chão e podia trair o guardião português.

Porém, era sempre o Sporting quem se apresentava por cima dos acontecimentos, levando a bola com frequência e perigo para junto da baliza adversária. E aos 19 minutos, precisamente em jogada nascida no flanco e finalizada pelo inevitável Fredy " El Matador" Montero, o Sporting chegaria ao golo. Cédric, bem aberto no flanco direito, recebe o esférico, engana o defesa ao puxa a bola para dentro ao invés de avançar para a linha, e cruza de pé esquerdo. O gilista Gabriel faz um corte incompleto, a bola fica junto à pequena área, e Montero antecipa-se ao defesa, imperturbável, com o pé esquerdo a tirar a bola da cara do guarda-redes Adriano para a fazer entrar junto ao poste direito.

Depois do golo, o Sporting continuou a afinar pelo mesmo tom, sendo pelos flancos que continuava a chegar mais ameaçadoramente à baliza adversária. Porém, na ressaca do golo, ia crescendo também o Gil. Ainda que sem criar perigo de maior – conta-se não mais do que um par de remates de meia distância −, a equipa de João de Deus dava mostras de querer subir mais no terreno. Quando apostava nos flancos, o Gil não produzia muito, perdendo frequentemente no um para um. A ameaça crescia quando os homens de Barcelos puxavam o jogo para terrenos mais interiores. Do lado do Sporting, os leões iam ocasionalmente tentando experimentar a zona central do terreno, com Montero a antecipar-se à sua marcação e a desempenhar um papel muito relevante, baixando um pouco no terreno, abrindo linhas de passe, baralhando posições e abrindo espaço para a entrada dos seus colegas. Sempre que Montero baixava, André Martins ocupava bem o espaço livre mais adiante, permitindo a combinação com o colombiano e com os extremos. Aos 31 minutos, na sequência de um cruzamento pela direita, é ele quem sobe bem e cabeceia, puxando muito bem a bola, que sai junto ao poste da baliza gilista, e novamente aos 37, quando voltaria a ameaçar com um bom cabeceamento, a falhar a gaveta da baliza por poucos centímetros.

O que Montero começa, Montero termina

O Sporting entrou na segunda parte segundo a mesma receita que vinha cozinhando na primeira, fazendo do jogo pelas alas, terminando em cruzamento, a sua tónica e ingrediente principal. Logo aos 51 minutos, os leões podiam até ter chegado à vantagem. Wilson apanha a defesa em contra-pé, é magistral na recepção e fica na cara do guardião Adriano, mas o remate sai muito por cima.

Aos 57 minutos, dá-se a primeira grande chance para o Gil. Na primeira situação de perigo, César Peixoto isola Paulinho, que em posição frontal e na cara de Patrício remata sob o guarda-redes, que defende com o pé; a bola resvala em direcção à baliza mas William aparece a fazer o corte. Era a primeira ameaça séria do Gil e sintoma da maior perigosidade que o conjunto de Barcelos impelia ao seu ataque, em parte fruto das linhas mais subidas que apresentava. Dois minutos depois, os de Barcelos protagonizavam nova jogada de ataque, com remate perigoso de Avto a assobiar junto ao poste da baliza de Patrício. João de Deus, porém, sofreria um revés no preciso momento em que os seus homens cresciam em atitude ofensiva: na jogada seguinte, Peks entra muito duramente, por trás, sobre o pé de William Carvalho, não deixando dúvidas a Jorge Sousa, que exibe ao central o cartão vermelho directo.

A segunda parte ia-se escoando sem tanta intensidade, mais feita de arranques, de impulsos fugazes, a duas velocidades. O Sporting parecia tardar em sentenciar a partida, falhando sucessivas ocasiões de golo e permitindo ao Gil Vicente tomar maior iniciativa ofensiva. Lendo bem o jogo, Leonardo Jardim fez entrar Carrillo por troca com Wilson, dando novo fulgor ao seu flanco, com o explosivo peruano a reatar a presença do Sporting em terrenos mais adiantados. O jogo retomava velocidade e aos 72 minutos Montero não perdoa. Vendo a bola surgir-lhe novamente aos pés remata inequivocamente, frio e eficaz, para golo, com Adriano já batido, na ressaca de uma defesa incompleta a remate de belo efeito de Capel.

Perdendo por duas bolas, do Gil Vicente pouco mais se veria. O Sporting mantinha a pressão forte, juntava as suas linhas, fechava bem os espaços e impedia linhas de passe. É somente perto dos 90 que a equipa de Barcelos produziria um estertor que soaria a golo de honra, com um remate venenoso de Simy a bater Patrício, mas o poste sai ao caminho da bola e tira ao gigante avançado gilista a hipótese de fazer mexer o marcador em favor da equipa da casa.

Líder isolado, melhor marcador, melhor ataque

O conjunto de Leonardo Jardim impõe ao Gil Vicente a sua primeira derrota no Estádio Cidade de Barcelos e, com dois golos de Fredy Montero, cada vez mais o melhor marcador da temporada – são 12 jogos e 13 golos, mais dois do que o portista Jackson Martínez. O Sporting aproveita o surpreendente empate do Benfica com o Arouca, na presente jornada, e torna-se o líder isolado do campeonato, algo que não conseguia desde o ano de 2005. Além de liderar de forma isolada o campeonato, o Sporting tem ainda o melhor ataque da prova, com 30 golos (mais oito do que Porto e Benfica), e a segunda melhor defesa, tendo as suas redes mexido por apenas mais uma vez (nove) do que as portistas. 

No final da partida, Leonardo Jardim destacou a entrada do Sporting no jogo, tanto na primeira como na segunda parte, e elogiou a organização e saídas em transição do Gil Vicente. O técnico gostou de ver a sua equipa, mas reconheceu ter jogado num terreno difícil: «A equipa teve bons momentos mas, como se diz, teve de vestir o fato-de-macaco, perante um adversário difícil.» O comandante dos leões voltou a negar as aspirações do Sporting ao título, preferindo realçar, sim, a ambição da equipa em ganhar todos os jogos e em fazer crescer o seu conjunto: «Nem alterámos a nossa posição; continuamos à frente, continuamos a cumprir os objectivos do clube em termos gerais: ter uma equipa competitiva.»

João de Deus optou por elogiar a boa exibição da sua equipa, embora reconhecendo o maior valor das indiviudalidades do Sporting. Quando inquirido sobre os três jogos sem vencer para o campeonato, o técnico gilista declarou: «Mais do que aos resultados, é importante olhar ao que fazemos em campo, e hoje foi prova de que estamos bem. O Sporting está muito forte, mas ainda assim tivemos um bom comportamento.»