No ano em que completava 89 anos desde a sua fundação, o Gil Vicente entrara em trajectória descendente. Paulo Alves, treinador que devolvera a equipa à primeira liga, por pouco não a veria afundar-se novamente no segundo escalão, agravando os pesadelos financeiros que assolam todos os emblemas nacionais, mas sobretudo os de menor dimensão. Um ponto apenas salvaria o clube de Barcelos e possibilitar-lhe-ia a revisão dos seus argumentos e postura, dando-lhe uma segunda oportunidade de afirmação na época 2013/2014.

Ano novo, velhos hábitos

Entre Janeiro e Maio de 2013, jogando a segunda metade do campeonato 2012/2013, os gilistas somariam apenas 15 pontos, em quatro vitórias e dois empates, perdendo por 12 ocasiões, no total das 17 derrotas que contabilizariam no final da temporada. Com 25 pontos, a equipa de Barcelos não subiria além de um longínquo 13º lugar, em igualdade pontual com Olhanense (14º), e a apenas um ponto da temida linha de água, onde se afogaria o Moreirense e, por último, o Beira-Mar. A classificação era justa e espelhava as grandes fragilidades defensivas de uma equipa que também não se podia virar para o ataque, onde lhe faltava imaginação e os argumentos para ombrear com a maioria dos seus adversários, onde a ambição dos seus jogadores parecia encontrar pouco eco nas suas competências técnicas.

As más exibições da última temporada, seladas com algumas pesadas derrotas, como os dois 5-0, repetidos na Luz e no Dragão, e o calafrio provocado pelo singular ponto que manteve a equipa à tona da primeira Liga fez vítimas, e Paulo Alves, o treinador que em 2010/2011 devolvera o conjunto de Barcelos ao primeiro escalão, acordava com o presidente António Fiúza a saída do clube do galo. Era o terminar de um ciclo para clube e treinador.

Protagonizar a surpresa

O segundo capítulo de 2013, para o clube de Barcelos, havia de ser escrito por João de Deus, o treinador que transitou da Oliveirense e que haveria de endireitar as linhas que ainda há poucos meses se revelavam quase inapelavelmente tortas. De facto, e ainda que no imediato se encontre a meio da tabela, no 8º lugar, o Gil Vicente tem sido uma das equipas a merecer positivo destaque na Liga ZON Sagres 2013/2014. Ao fim de 14 jornadas, o Gil soma cinco vitórias (apenas menos uma do que obteve em toda a época anterior), seis derrotas e três empates, estando neste momento a apenas sete pontos da sua classificação final anterior. Sintomaticamente, foi apenas à 12ª jornada que o Gil cedeu a primeira vitória em casa, e diante do Sporting, equipa que este ano se tem revelado insaciável. No Estádio Cidade de Barcelos, este ano, já caíram Académica, Sporting de Braga, Paços de Ferreira e Guimarães; e Olhanense e Belenenses não foram além do empate.

  

Hugo Vieira em acção pelas cores do Gil Vicente (Foto: Ivo Pereira/Global Imges)

Sem Hugo Vieira, que na época transacta fez oito golos em 14 jogos, exibindo-se na proporção inversa à da sua equipa e merecendo a chamada do Braga aos seus quadros, é talvez César Peixoto, na equipa desde 2011/2012, quem serve de referência, apesar de actuar como médio-defensivo. O experiente jogador de 33 anos apontou dois dos 13 golos que a equipa já leva, e é um dos timoneiros no lançamento do jogo gilista, peça importante no triângulo do meio-campo, onde habitualmente acompanha Luan e Vítor Gonçalves, quer em processos ofensivos quer no fechar da zona central do terreno, impedindo a construção avançada dos adversários. Em bom plano tem também estado o guardião Adriano Facchini. Apesar de já ter sofrido 18 golos em 15 jornadas, o brasileiro integra-se na franca subida de rendimento dos gilistas, já que em toda a temporada transacta sofrera 44 dos 55 golos concedidos pelo Gil Vicente. O guarda-redes de 30 anos era, aliás, à entrada da última jornada de 2013 – antes da derrota por 0-3 em casa, diante do Arouca −, o rosto de uma das defesa menos batidas da Liga, apenas atrás de Sporting, Porto, Benfica e Vitória de Guimarães.

      

César Peixoto continua a ser um dos principais rostos do Gil Vicente. (Foto: Catarina Morais)

2013 teve, portanto, dois capítulos distintos na história do Gil Vicente, e se o primeiro foi de tragédia, o segundo vai arrancando, para já, muito mais sorrisos entre os seus adeptos, e pode até ser a porta para que, aos 90 anos de vida, o clube de Barcelos alcance as competições europeias, já que, fechada a competição em 2013, o galo está apenas a cinco pontos do quinto posto da Liga. Claro que há ainda muito para jogar e que, numa prova de longa duração como a Liga, é preciso coerência nas exibições e capacidade de manter bons níveis físicos e anímicos ao longo de vários meses, sendo geralmente na regularidade alcançada nesses aspectos que as equipas se diferenciam. O treinador João de Deus sabe disso e já avisou que, apesar do bom trajecto, a equipa continua a ter como principal objectivo a manutenção no principal escalão do futebol nacional. Veremos o que 2014 guardará na memória do Gil Vicente Futebol Clube.