O Sporting de Braga terminou a época 2011/12 no terceiro lugar da Liga Zon Sagres, garantido um lugar na pré-eliminatória de acesso à Liga dos Campeões e deixando o Sporting Clube de Portugal no quarto lugar. A campanha gloriosa terminou com a saída de Leonardo Jardim da pedreira e possibilitou a abertura de um novo ciclo na vida dos arsenalistas, com José Peseiro ao leme.

Salvador cumpre sonho antigo

Por mais que uma vez o Presidente do Sporting de Braga tentou levar José Peseiro para o Estádio Axa, seduzido pelos pergaminhos do técnico português e pelo futebol espectáculo das suas equipas. Vários anos ligado a projectos profissionais no estrangeiro, Peseiro lá acabaria por regressar a Portugal e aceitar o desafio do líder arsenalista de adicionar títulos e troféus às boas campanhas dos minhotos nas temporadas anteriores.

Apesar do rótulo de “perdedor” colado ao técnico ribatejano, Salvador acreditou que a maior experiência adquirida com os muitos anos a treinar fora de Portugal permitiria a José Peseiro sair vencedor num projecto com muito menos investimento do que o seu Sporting de 2004/05 mas também com inferior nível de pressão do que os leões.

E por isso no verão de 2011 Peseiro apresentou-se em Braga com o objectivo bem definido: «Lutar pelo título até à exaustão!».

Entrada a matar assusta concorrência

O discurso ambicioso na pré-temporada consumar-se-ia num arranque prometedor dos arsenalistas em 2012/13. De tal maneira que o primeiro objectivo traçado, e de elevado grau de dificuldade, foi logo atingido. Os bracarenses conseguiram chegar à Liga dos Campeões deixando para trás a poderosa e favorita Udinese, que caiu em Itália nos penaltys e permitiu a entrada de três equipas portuguesas na fase de grupos.

A entrada na Liga milionária aconteceu depois de um igualmente auspicioso empate no Estádio da Luz a duas bolas, frente ao Benfica de Jesus. E mesmo com dois ou três resultados fora dos planos, como a derrota no terreno do Paços de Ferreira e o desaire caseiro com o Cluj, a equipa acabou por engrenar e lançar as expectativas da massa adepta minhota para as estrelas, com resultados assinaláveis e futebol ofensivo do melhor visto em Braga nos últimos anos. Vitórias forasteiras como aquelas frente ao rival de Guimarães e no terreno do Galatasaray, num ambiente sempre difícil, entusiasmaram os arsenalistas e assustaram a concorrência, sobretudo a de Lisboa, de onde cedo se começou a temer, em Alvalade, mais uma época atrás dos minhotos na tabela classificativa.

Lesões e saídas atrapalham

A boa série de resultados do Braga foi, no entanto, sendo perturbada por uma maré de lesões que foi fustigando o plantel orientado por José Peseiro. A partir de determinada altura da época, o treinador viu-se privado de vários jogadores e por diversas vezes teve de recorrer à equipa B dos minhotos. Os problemas físicos na sua equipa fizeram-se sentir sobretudo no sector defensivo, com Peseiro a ter de enfrentar várias partidas com apenas um defesa-central de raíz. Douglão, Nuno André Coelho e Paulo Vinícius estiveram muito tempo lesionados e o cenário mais negro ficou quando Éder, o ponta-de-lança em plena fase de afirmação na equipa e no futebol português, se lesionou em Fevereiro deste ano e ficou fora das opções até ao final da temporada.

Pelo caminho o defesa-esquerdo Ismaily, uma das peças-chaves do onze de Peseiro, saiu no mesmo mês para o Shaktar Donetsk, por 4 milhões de euros, e deixou a equipa sem os argumentos no corredor esquerdo que com o brasileiro foi evidenciando na primeira metade da época.

Fazendo uma comparação, o Sporting de Braga “começou” o ano com um onze constituído por Quim, Leandro Salino, Douglão, Nuno André Coelho, Ismaily, Custódio, Hugo Viana, Ruben Amorim, Mossoró, Alan e Éder; e terminou-a com Cristiano, Salino, Paulo Vinícius, Aderlan Santos, Mauro, Ruben Amorim, Ruben Micael, João Pedro, Hélder Barbosa e Zé Luís.

Pegando na equipa inicial, a que arrancou resultados surpreendentes nos primeiros meses do ano, constata-se a diferença de potencial para com a segunda: tirando a intermitência dos centrais, todo o restante onze é formado por internacionais A e jogadores com espaço em qualquer equipa grande. A técnica e vocação ofensiva dos laterais Leandro Salino e Ismaily, o posicionamento, equilíbrio e capacidade de passe dos três médios (sobretudo Hugo Viana), a propensão para gerar desequilíbrios de Mossoró e Alan e por fim a finalização, o poder físico e de choque de Éder fizeram do Sporting de Braga uma equipa capaz de voar ao mais alto nível em Portugal.

Quem tudo quer (quase) tudo perde

O síndrome do quase, do estar muito perto e não muito longe, que sempre acompanhou o treinador José Peseiro acabou por quase atacar o Sporting de Braga em 2012/13.

Na Liga dos Campeões, a equipa ganhou então por 2-0 em Istambul, frente ao Galatasaray, e quase se acreditou que os minhotos passariam à fase seguinte; esteve a ganhar por 2-0 em Old Trafford e quase que ficava com os três pontos (acabou por perder por 3-2), e no fim quase que se gerou a expectativa de que os arsenalistas chegariam pelo menos à Liga Europa, acabando por ficar no último lugar do grupo H com apenas três pontos.

Na Taça de Portugal o Braga eliminou o FC Porto e ganhou 2-1 em casa e esteve quase a chegar à final, acabando por ser eliminado em Guimarães pelo futuro vencedor da competição.

No campeonato os minhotos estiveram na luta pelo terceiro lugar e quase que conseguiam repetir a presença no pódio de 2011/12, mas acabaram por deixá-la fugir com uma comprometedora derrota caseira frente ao Nacional, por 3-1, na penúltima jornada, ficando a dois pontos da terceira posição garantida pelo Paços de Ferreira.

Salvou-se no meio destas repetidas mortes na praia a conquista da segunda Taça da História do Sporting de Braga, e frente ao tri-campeão FC Porto. José Peseiro saiu de Braga pela porta pequena, com muitas críticas dos adeptos e do Presidente António Salvador, mas a verdade é que foi o primeiro treinador da era do líder bracarense a conquistar um troféu, o primeiro da sua carreira.

Numa época de grandes sonhos e ilusões, os minhotos acabaram por “só” conquistar a Taça da Liga e estrearem-se a acabar uma temporada com um troféu no currículo. Mais uma vez, José Peseiro quase que ganhava tudo, mas também quase tudo perdia. E este segundo quase, no final das contas, acaba por fazer toda a diferença.