Como dita a ‘Balada da Neve’, de Augusto Gil, não foi chuva nem gente que impediu que o clássico entre Benfica e Sporting se tivesse realizado no Domingo. No entanto, neve não foi problema. Acabou na verdade por uma conjugação de factores produzida pela tempestade Stephanie, que consigo trouxe uma forte ventania e deixou a nu as limitações da cobertura das bancadas do Estádio da Luz, libertando mesmo a lã de vidro e algumas das placas que a cobriam.

Tempestade Stephanie e deficiente cobertura adiaram um espectáculo anunciado

Irónico recordar que nas horas anteriores à partida todos os receios se remetiam à possibilidade de chuva forte e ao inerente mau estado do relvado que seria subsequente a uma intempérie, o que em boa verdade não chegou a acontecer. Nem foi preciso, uma vez que de qualquer forma não foi possível constatar o efeito que os onzes iniciais de Benfica e Sporting teriam a nível de impacto e contribuição para o espectáculo, tendo sido o adepto de futebol o maior prejudicado. Perdeu-se, ou pelo menos adiou-se, o que se preparava para ser um grande espectáculo entre um Benfica que apresentava uma equipa titular mais conservadora e quem sabe até previsível, tornando pertinente possíveis alterações de forma a tornar mais complicado o estudo por parte da defensiva adversária.

Encontro acabou por ser de sentido único com muito mérito benfiquista

Este encontro talvez ‘pedisse’ a aposta num tecnicista como Miralem Sulejmani no lugar de um repentista como Lazar Markovic. No final de contas, Jesus não o fez, e na verdade acabou por não sair a perder, longe disso, até porque na ala contrária se encontrava um Nico Gaitán ao seu melhor nível, verdadeiramente imperial em vários momentos.

Fugir à rotina poderia vir a ser necessário para o Benfica ainda mais tendo em conta que foi essa mesma a opção por parte do Sporting, que surpreendia com uma estratégia arrojada que em princípio assentaria na adaptação táctica de Fredy Montero, que funcionaria como ‘joker’, aliando funções de segundo avançado e um falso extremo direito numa frente de ataque preparada para pressionar o último reduto benfiquista especialmente na ponta inicial do encontro.

No entanto, era de prever que o efeito desta surpresa verde-e-branca não durasse para sempre, o que se verificou... desde o apito inicial, o que obrigaria à aposta num atacante de rasgo individual que poderia estar em André Carrillo. Tudo somado, duplo erro de Leonardo Jardim, pois teria como única solução a partir do momento em que viu a sua equipa manietada desde os instantes iniciais pelas águias uma frente de ataque inicial apoiada por La Culebra pelo segundo tempo. Tal poderia resultar em grandes problemas para Jorge Jesus, que em seu benefício deteve a exibição consistente e dominante por parte dos seus comandados e ainda tinha na ‘manga’ a ‘cartada’ de jogar no seu reduto – tinha sempre a possibilidade de ‘apagar o fogo com fogo’ e dessa forma alargar ainda mais o seu contingente ofensivo se necessário.

Para além de Gaitán no processo ofensivo, a acção de aproximação defensiva de Fejsa foi determinante

Caso o Benfica necessitasse de responder ao desafio sportinguista, lançar Oscar Cardozo para junto de Lima em detrimento de um mais ‘elegante’ Rodrigo seria uma opção a ter em conta, mas que por mérito benfiquista nunca chegou a passar do plano das suposições, uma vez que de uma forma natural se aumentou para oito anos o espaço temporal que dista o Sporting da sua última vitória na Luz. Para que tal tivesse sucedido, ao Benfica bastou explorar da melhor forma os pontos fracos dos verde-e-brancos, aproximando Ljubomir Fejsa dos defesas centrais numa prestação individualmente muito bem conseguida.

Em plano contrário, fica a coragem de Jardim em procurar olhar o rival olhos nos olhos... mas pouco mais do que isso, num encontro que contou com um excelente relvado tendo em conta as condições atmosféricas que o antecediam, os mesmos onzes escalados para Domingo e um total de 48965 espectadores entre os quais a maior parte terminou a sua noite de forma extasiada e confiante quanto às possibilidades da sua equipa no que diz respeito ao título nacional.