Numa questão de segundos, uma eliminatória praticamente resolvida transformou-se num trémulo suor frio que poderia ter resultado numa igualdade. A Luz, confortável durante 77 minutos, viu o Tottenham abanar as fundações dessa calmaria com dois golos de rajada de Chadli, o belga que foi o protagonista do encontro. Aos 78 e aos 80 os londrinos anularam a vantagem encarnada dada pelo golo de Garay, deixando os adeptos benfiquistas na incerteza. O estrago poderia ter sido maior: Sulejmani derrubou Kane dentro da área encarnada, mas o árbitro não condenou a acção do sérvio. Até aos 90+4, o Benfica sofreu a bom sofrer, podendo agradecer a Oblak parte da salvação. Depois, Lima matou as incertezas, empatando a partida a duas bolas e sentenciando o Benfica à passagem até aos quartos-de-final da Liga Europa.

Garay, o central goleador

Primeiros 45 minutos de razoável tranquilidade, com o Benfica a apresentar cinco modificações: André Gomes no miolo, perto de Amorim, Salvio na direita, Sulejmani na faixa esquerda, Djuricic nas imediações do ponta-de-lança, Cardozo. O jogo começou morno e o marcador evoluiu da forma que o Benfica queria, apesar das ameaças de Soldado, que esteve de pontaria afinada. Foi o Benfica o primeiro a marcar: Garay, de cabeça, marcou o 1-0, mostrando que o ADN goleador corre-lhe no sistema.Trabalho competente de Salvio que se apoderou do flanco direito, driblando a oposição directa e centrando com meticulosidade para o golo do central argentino. Se as hostes benfiquistas já transbordavam calma, mais calmas ficaram com o golo, que colocava a «águia» a vencer por 4-1 no total da eliminatória.

Benfica de riscos calculados durou 78 minutos

O Benfica apresentou uma postura naturalmente diferente daquela empenhada em Londres: linhas mais subidas, menos expectativa e maior controlo da zona média do terreno, obrigando o Tottenham a batalhar mais para dominar o corredor central e as lutas no miolo do relvado da Luz. Um risco calculado que impunha defender perto da zona da saída de bola do adversário, não concedendo grandes espaços nem possibilidades de existir contragolpes. Gerindo essa guerra longe da baliza de Oblak, o Benfica foi gerindo também o ímpeto do Tottenham, precisado de golos para sobreviver na Europa. Masdois golos de Chadli abanaram a confiança encarnada e revelaram algumas fragilidades na atenção benfiquista, que, de um assomo instantâneo (aos 78 e 80 minutos) viu o belga marcar por duas ocasiões: primeiro num gracioso movimento precedido de um tiro certeiro à entrada da área, e depois num remate à meia-volta, finalizando da melhor forma uma jogada (cruzamento pingado) de Lennon e de Kane.

Lima temperou tremuras com golo final

O jogo, sempre dividido, desequilibrou-se para o lado do Tottenham muito devido à rapidez do «Blitzkrieg» londrino. Chadli foi o homem da partida e deu o choque eléctrico necessário para reavivar uma formação que nunca conseguiu ameaçar seriamente o Benfica. Ao minuto 78, tudo mudou. A motivação londrina finalmente veio ao de cima, semeando, com dois golos, a incerteza no adversário, que enfrentava os minutos seguintes com o coração na boca: valeu Oblak e depois Lima. O brasileiro entrou para render um Cardozo nulo (os encarnados voltaram a jogar com menos um...) e logo fez render a sua entrada: ganhou e concretizou a penalidade que mataria o jogo definitivamente, aos 90+4 minutos, enganando Brad Friedel.

A dupla de ataque encarnada não esteve activa como Jorge Jesus teria planeado. Tanto Djuricic como Cardozo estiveram longe de serem valias na táctica da equipa, que nunca se sentiu confortável com a dupla da frente. Cardozo, imóvel e lento, nunca foi perigo para a zona recuada do Tottenham, como já demonstrara na primeira mão, onde passou despercebido; Djuricic, apesar de esforçado, nunca foi capaz de calibrar o passe mais valioso, aquele que geralmente completa a construção ofensiva. A linha defensiva dos «Spurs», apesar de remendada (adaptações de Danny Rose e Sandro), esteve razoavelmente bem na contenção do ataque encarnado, exceptuando a tremideira total que se sentia sempre que as «águias» sobrevoavam a área londrina através de lances de bola parada.

Uma pequena fenda na muralha

A defesa encarnada obteve um registo impressionante, tendo sido capaz de permancer praticamente inviolada durante 15 jogos, série em que apenas sofreu um golo (1-1 em Barcelos). Tal série de resultados terminou com o 1-3 em White Hart Lane (golo de Eriksen). Agora, o Benfica leva já 5 golos sofridos nos últimos 3 jogos: Eriksen, depoisCandeias e Djaniny (no 2-4 diante do Nacional) e o bis de Chadli, esta noite. Apesar disso, os objectivos benfiquistas seguem intactos e a forma da equipa permanece invejável. 

Jesus «não estava à espera»

As palavras de Jorge Jesus, no final da partida, talvez revelem um pedaço do surto de confiança exacerbada que assolou a equipa na recta final: «Tivemos alguns períodos menos bons, porém, importante foi não termos perdido. Se fiquei surpreendido com a exibição do Tottenham? Não, não fiquei, colocaram-nos muitos problemas mas, confesso, que não estava à espera de tantas dificuldades, sobretudo na parte final do jogo», confessou o treinador do Benfica.

O central argentino Garay congratulou a equipa pela passagem aos quartos-de-final da Liga Europa, destacando a dimensão física da partida: «Foi um jogo muito físico, mas, felizmente, conseguimos assegurar a passagem à próxima fase da Liga Europa. Sabíamos que nos aguardava um jogo complicado mas mostrámos que estávamos preparados para qualquer eventualidade», declarou na análise pós-jogo.

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