Em vésperas de mais um apaixonante clássico entre Porto e Benfica, a análise começa logo nas redes. Com Fabiano e Oblak entre os postes, tanto Luís Castro como Jorge Jesus têm nos guardiões grandes trunfos para chegar ao Jamor e, sem menosprezar Helton e Artur, é incontornável que, com estas alterações, portistas e benfiquistas parecem ganhar segurança, qualidade e solidez nos seus sectores mais recuados do terreno. Para conhecer o percurso e as reais valências dos guarda-redes é essencial analisar as suas anteriores performances: de Oblak, no Rio Ave (época 2012/2013) e de Fabiano, no Olhanense (época 2011/2012).

Oblak: finalmente um guarda-redes que dá pontos ao Benfica

A defender as redes encarnadas, destaque para o jovem Oblak que, desde que assumiu a titularidade das águias, mudou por completo a forma como todo o sector defensivo do Benfica encara os lances de ataque das equipas contrárias. Sem dúvida que é um guardião que transmite segurança aos centrais e aos laterais e, entre os postes, tem deslumbrado, com variadíssimas defesas, de alto nível de dificuldade, onde se evidenciam características como elasticidade, bons reflexos e instinto, que lhe permitem tapar o ângulo de remate de uma forma muito eficaz e, acima de tudo,demonstrando uma maturidade incomum para um guarda-redes de 21 anos(exemplo da eliminatória frente ao Tottenham que valeu a passagem da equipa à próxima fase da Liga Europa).

Contratualmenteligado ao Benficadesde os 16 anos, Oblak desde logo evidenciou qualidades que despertaram o interesse doscouting das águias. Com o intuito de dar maior tarimba ao esloveno, os responsáveis da Luz começaram por emprestar o guardião ao Beira-Mar, de seguida ao Olhanense, tendo ainda passado pela União de Leiria e, finalmente, pelo Rio Ave, onde se evidenciou na época de 2012/2013, antes de integrar o plantel principal do Sport Lisboa e Benfica. Ao serviço do Rio Ave, destaque para a aposta de Nuno Espírito Santo que, apesar da juventude do guarda-redes, confiou nas valências do jogador, para defender as redes da sua equipa. Enquanto atleta do Rio Ave, Oblak ajudou esta formação a atingir um extraordinário 6º lugar, à frente do Sporting, com destaque para as exibições seguras que efectou quando defrontou os 3 grandes do futebol português. Por exemplo, nas vitórias do Rio Ave frente ao Sporting (0-1 e 2-1), onde o guarda-redes deslumbrou, evitando os golos leoninos.

Depois desta surpreendente época do guardião, o Benfica teve dificuldades em prolongar o vínculo com o esloveno, mas as partes acabaram por chegar a um acordo e o contrato foi renovado até 2018. É nessa condição que Oblak integra, sem contestação, o plantel para a presente época. O técnico Jorge Jesus começou por dar a titularidade das redes encarnadas a Artur, com Oblak a rodar na equipa B. Na 1ª fase da temporada, Artur disputou, ao todo, 24 partidas e sofreu, no global de todas as competições, 23 golos. Em jogo a contar para a 13ª jornada do campeonato, porém, em que o Benfica defrontou o Olhanense, Artur viria a sofrer uma lesão, permitindo assim a Oblak a oportunidade de se mostrar na baliza da Luz. Até à sua entrada na equipa, o Benfica transparecia tremendas dificuldades no sector defensivo, e era raro o jogo em que não concedia golos.

Com Oblak entre as redes, toda a defesa encarnada melhorou, com especial destaque para a melhor forma de Garay e Luisão que, perante um guarda-redes que transmitia confiança, permitiu aos centrais maior acutilância a defender e a subir no terreno, levando-os inclusive a concretizar alguns golos decisivos nas últimas partidas. O guardião aproveitou a lesão de Artur e agarrou-se ao lugar onde, até ao momento, já competiu por 17 vezes, com um total impressionante de apenas 6 golos sofridos, no campeonato, na Taça de Portugal, na Taça da Liga e na Liga Europa. Esta estatística impressiona e, para o clássico frente ao Porto, todos os sócios e simpatizantes do clube esperam que a jovem águia voe de tal forma, entre os postes, que lhe permita evitar os tiros dos dragões.

Com a lesão de Helton, Fabiano segura o esférico da titularidade

Com a recente indisponibilidade de Helton depois da lesão grave sofrida frente ao Sporting, Fabiano Freitas encarou de forma destemida as redes portistas e, para quem tinha dúvidas, o guardião tem demonstrado uma agilidade fantástica, que tem impedido os tentos dos adversários. O exemplo mais recente deu-se frente ao Nápoles, com o guardião a ser considerado o melhor jogador em campo, com brilhantes paradas aos remates italianos. O brasileiro de 26 anos dera nas vistas ao serviço do Olhanense, onde levou os algarvios a atingir a sua melhor classificação de sempre na Liga portuguesa: um 8º lugar na época 2011/2012. Nessa temporada, relembramos que este guarda-redes efectuou variadíssimas defesas de qualidade, com relevo para o 0-0 que segurou frente ao Benfica. Neste jogo, Fabiano parou tudo o que havia para parar e impôs um nulo às águias, o que, com Jorge Jesus ao leme, tem sido raro, uma vez que, por norma, o clube da Luz costumam concretizar em todas as partidas que disputa.

(Foto: Lusa)

As prestações do guarda-redes levaram Pinto da Costa a contratar o jogador, já que desde logo se percebia que estaria aqui o fiel e natural substituto de Helton entre os postes azuis e brancos. Com Fabiano saindo da sombra de Helton, o experiente guarda-redes tem sido titular fora do campeonato pelos dragões e, nesta época em que o Porto tem sofrido muitos golos, merece destaque para o 0-0 no clássico, a contar para a Taça da Liga, entre Sporting e Porto. Fabiano Freitas evitou de forma irrepreensível remates de Montero e André Martins, e foi curiosamente frente aos leões, mas para o campeonato, que Helton, pouco depois do golo de Slimani, teve o infortúnio de sofrer uma lesão no tendão de Aquiles. Desde então, Fabiano afirmou-se por completo como titular, contando até ao momento com 9 encontros, onde sofreu 5 tentos.

Tanto com Helton como com Fabiano, o Porto tem tido intermitências na defesa, mas, a maior parte, por ineficácia e instabilidade dos centrais: Mangala, Maicon, Reyes e Abdoulaye, que continuam a não dar tranquilidade ao homem que calça as luvas. Se analisarmos somente a qualidade dos guardiões, Fabiano parece ter maior qualidade e, claro, uma juventude que permite a todos os aficionados portistas esperar ver, por muitos e bons anos, o brasileiro a defender os postes da Invicta. Nesta partida frente ao Benfica, a chave da eliminatória poderá estar neste portentoso guarda-redes, que irá disputar o 1º Porto-Benfica da sua carreira.

Oblak e Fabiano: quem irá brilhar?

Em comum aos dois guarda-redes, entre outras características, relevo para a juventude, aliada a uma maturidade incomum para a idade, segurança e força mental e ainda, juntamente com o par agilidade/reflexos, ambos têm nivelado por cima o prestígio do futebol português que, neste momento, tem nos três grandes três guarda-redes de classe mundial.

Antes do clássico, Oblak e Fabiano recordam a passagem pelo Olhanense e, para esta partida, que ajuda a decidir a passagem à final do Jamor, são dois dos maiores destaques, até para um possível desempate por grandes penalidades. De um lado, Oblak, que tem à sua frente um quarteto defensivo estável, que lhe permite ter segurança e mais tranquilidade para demonstrar as suas qualidades. Do outro, Fabiano, que no sector recuado tem ao seu redor uma instabilidade tal que tem sido raro encontrar a mesma defesa de jogo para jogo. Que qualidade ambos demonstram é inegável, mas, com o Benfica muito isolado em 1º lugar na Liga, mentalmente muito forte, e com um Porto em 3º, e repleto de incongruências e com uma recente mudança de treinador, permite antever que Oblak estará em vantagem psicológica em relação a Fabiano.

Na antevisão de um clássico, é sobre os os avançados que recaem os olhares, mas a espectacularidade de uma defesa pode estar ao nível de uma finta ou de um remate e, quando os guardiões demonstram tanta qualidade, como Oblak e Fabiano, vale a pena enaltecer o aparecimento de duas revelações, em antevéspera de mais um emocionante Porto x Benfica. Numa competição a eliminar, poderá fazer diferença, a defesa “àquele” remate que, quase sempre, parece indefensável e que, muitas vezes, decide o jogo, com os guardiões a vestirem, portanto, a capa dos heróis improváveis.